sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Graffiti Lisboeta





Como intervenção urbana, o (bom) graffiti é uma técnica que se me apresenta ambivalente. Por um lado, em regra não é consentido, o que quase sempre colide com a propriedade privada, valor que merece protecção. Por outro, quando o graffiti transforma para melhor um espaço muitas vezes decadente - o que é raro - , é difícil não lhe reconhecer o mérito como forma de expressão de arte urbana.






Pondo de parte a discussão higienista versus libertária, estes graffitis vivem com a cidade, interagem e interpelam quem por eles passa. Nos 50 anos sobre a morte do maior ícone pop do imaginário norte americano, a Bianca encontrou-se em Lisboa com uma Marilyn Monroe e suas rugas. Duas divas.




segunda-feira, 20 de agosto de 2012

4B



Bianca fotografada à primeira luz de uma manhã de Agosto. A melhor hora para viajar de scooter. E a melhor hora para fotografar. Bons dilemas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

58 Primaveras




No feriado de 15 de Agosto é tradição comemorar-se o aniversário do Vespa Clube de Lisboa. Com chuva, sol, bolo e velas como mandam os livros. E já agora um passeio. Com cinquenta e oito anos de idade, o clube de duas rodas mais antigo de Portugal promete não estar a caminho da reforma.










































sábado, 11 de agosto de 2012

Uma Laverda de Sonho




Esta fotografia foi feita pelo meu pai no início da década de oitenta, numas férias em Vigo, Espanha. Suspeito que estará por agora a fazer trinta anos. 

É uma imagem especial, pois desde que a química fez magia transformando a película em papel a cor, tem-me acompanhado nas várias etapas destas três décadas, em formato trinta quarenta. E é inseparável de uma moldura elegante de acrílico, que talvez esteja na moda outra vez, de tão sóbria que é.

Do que mais gosto na fotografia é do meu olhar de entusiasmo de menino, à frente da Laverda com matrícula de Ourense. A moto não era nossa, mas a pose era tão assertiva, comprometida, que aposto que o próprio dono, ao guiá-la, jamais teria estado perto da intensidade do meu entusiasmo.

Lembro-me que durante anos me convenci que aquela era a minha Laverda, e romanceava através dela viagens de moto. Aliás, a marca italiana era duplamente interessante, porque não só mais ninguém tinha uma, como nem sequer dela se ouvia falar. Até porque a Laverda entraria em declínio ainda nos anos oitenta, e só ressuscitaria como marca de nicho elitista já com os anos noventa em marcha. E nessa altura eu já tinha idade para ter algum juízo.

Um dos detalhes curiosos da imagem e que ajudava à atmosfera é o facto de não se conseguir ver o logotipo no depósito na totalidade. O que criava uma aura de mistério maior nos meus amigos, que os obrigava à pergunta sacramental, a que eu adorava responder: de que marca é ?

Posso, portanto, assegurar-vos que viajei nesta superbike dos anos setenta,  protegido com aquele capacete amarelo que se destaca em cima do saco de depósito. Sem nunca me ter sentado nela.

Viagens imaginadas.

É um outro exercício, e pode até suceder que a memória me atraiçoe, toldada pela imaginação, mas fazer viagens - refiro-me às reais - naquela época era uma experiência, no mais rico sentido do termo. De Vigo a Lisboa não víamos apenas rails e estações de serviço. Nem vínhamos de avião. Nem demorávamos menos de um dia.

Talvez seja pela (sobrevivência da minha) ideia de viagem que continuo a ter as scooters na garagem e a rolar. Devagar, como uma viagem de comboio que assimila a paisagem a mudar lentamente, e que nos causa aquela sensação de estranheza em relação a nós próprios. Do tempo a passar pelos lugares. É aí que, acredito, viajamos. 

domingo, 5 de agosto de 2012

Rua Enrico Piaggio



O nome da rua é imaginário. A porta à direita da Bianca é a mesma por onde ela saiu, em Junho de 2010, quando a comprei nova no concessionário Piaggio de Torres Vedras. Hoje, o stand da concessão ocupa apenas o lado oposto da rua. O portão fechado da oficina, pintado num tom de castanho, escondia ontem um final de tarde de Sábado de trabalho, denunciado pelo som das ferramentas que eram pousadas no chão. O Ape - com o meu capacete em cima - , também ele uma ferramenta, parece anunciar que por baixo da placa Vespa se adianta serviço para segunda feira.  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Desenho e Função



Há algo de fascinante no desenho de uma scooter moderna como a Bianca. Pode dizer-se que o factor de atracção é a herança Vespa. É uma resposta óbvia, mas que não é totalmente verdadeira, nem explica boa parte do íman. Para mim está longe de ser apenas isso. Por exemplo a série LX nunca me atraiu, exactamente o contrário do que sucede com a série GT(S). E se fosse apenas a herança no sentido mais nostálgico, seguramente que teria uma PX ou até uma LML em vez da Bianca.

Steve Jobs, um mago do design, dizia que a maioria das pessoas cometem o erro de pensar que o design é aquilo que uma coisa parece. Mas o design não é só o que os objectos parecem, mas sobre como os objectos funcionam. Ou seja, a função e a forma, muito para além do simples desenho, estático, inerte.

Tomando o exemplo da Bianca. O seu desenho é obviamente importante por si, no seu impacto puramente visual. Mas não se esgota aí a sua relevância. É importante porque permite coisas diferentes. Exemplos ? O volume físico aumentado conduz à (e permite a) capacidade do motor, mas não inibe a economia. A velocidade admitida abre a janela do conforto na coexistência com os outros veículos na estrada aberta. É também sobre isto o design.



sábado, 7 de julho de 2012

Óbidos à Sombra (II)





Existe uma enorme diferença entre tirar e fazer uma fotografia. Fazer uma fotografia exige paciência, tempo, análise do potencial cénico, espera pela luz certa, escolha do equipamento adequado. No fundo, trata-se de criar ou conjugar condições para que a fotografia aconteça. É raro uma boa fotografia acontecer por acaso.






Fazer uma fotografia é um processo laborioso, mas também delicioso. Combina criatividade, oportunidade, conhecimento, preparação, atenção ao detalhe, inspiração. Raramente é compatível com o simples acto de apontar a câmara e premir um botão.









É inegável que é reconfortante saber que uma fotografia desperta uma reacção em quem a vê ou, melhor ainda, uma emoção. Mas independentemente do resultado final, que tem sempre uma parcela de subjectividade associada, o sal da actividade do fotógrafo amador e entusiasta está no ritual, no processo, e no prazer que dele se retira.