terça-feira, 15 de dezembro de 2020

2030 é Amanhã



A mobilidade eléctrica continua a ganhar terreno e as metas anunciadas por Alemanha e Reino Unido apontam para a morte do motor de combustão interna, tal como o conhecemos, já em 2030. Que é daqui a nove anos.


Neste contexto, o que fazer com as clássicas ? Motores a combustão com mais de trinta, quarenta ou cinquenta anos, alguns a dois tempos ?


Confesso que tenho curiosidade mas nunca vi (deve ser culpa minha) estatísticas sólidas a esse respeito em Portugal. Suspeito que os números de veículos clássicos, como tal reconhecidos na ordem jurídica portuguesa, serão insignificantes.


Insignificantes por duas ordens de razões: no número relativo de unidades face ao contexto global dos veículos existentes em circulação. E na utilização real destes veículos, uma vez que é apenas a sua circulação que gera poluição, e estes veículos, por razões de preservação, desadequação a uso intensivo e até valor histórico, têm uma utilização anual praticamente irrisória.


A minha Lambretta, por exemplo, fará por ano não mais de duas ou três centenas de quilómetros. Em dez anos talvez percorra três mil quilómetros. Não fiz as contas, mas suspeito que deve ser o equivalente à pegada ecológica da viagem de um passageiro num vôo Açores-Lisboa.  


Apesar do racional que justificará um regime de excepção dos veículos clássicos – que talvez fique para outro post, com mais dados - , não é de excluir que se venham a criar as condições políticas e sociológicas para a turba ecológica irracionalizar o debate e levar tudo a eito. Já se está a imaginar a tentação da não distinção legal entre o velho táxi a diesel e os veículos que vale a pena preservar, e como tal são reconhecidos pelas três entidades actualmente competentes para esse efeito: o Clube Português de Automóveis Antigos, o ACP Clássicos e o Museu do Caramulo.


Apesar destes receios, que tenho ainda esperança que sejam infundados, parece-me que a melhor estratégia é certificar, tão depressa quanto possível, os veículos que sejam susceptíveis de ser certificados.


Já o fiz há quatro anos com um automóvel e recentemente solicitei a certificação da Lambretta junto do Museu do Caramulo.


Acredito que é um processo que no médio e longo prazo pode trazer benefícios sérios em termos de habilitação para a utilização destes veículos. Talvez menos evidentes neste momento para os motociclos, atenta a inexistência de inspecções periódicas obrigatórias no continente, e a desnecessidade de os motociclos cumprirem as zonas Euro 1 e Euro 2 nas cidades.


Mas para a batalha dos eléctricos, não vou ficar à espera que a indústria crie combustíveis sintéticos para a minha Lambretta.




quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Confinar o Scooterismo



Dois mil e vinte tem sido um ano de trevas. A frente sanitária trouxe-nos perguntas a que não sabíamos responder. Acima de tudo é um ano marcado pela perda. De vida, de afecto, de economia, de emprego, de oportunidade. O conceito de previsibilidade, tal como o conhecemos, se não desapareceu sofreu pelo menos uma mutação substancial. Os efeitos da pandemia, nas suas várias e complexas vertentes, vão perdurar por anos. Talvez décadas.


Este é um blog sobre scooters. E 2020 prometia ser um ano em grande. O Vespa World Days em Portugal organizado em Guimarães era o evento bandeira, mas vários outros projectos estavam na calha.


Quase nada se realizou.


No meio de tão atípicas circunstâncias, consegui mesmo assim salvar o ano com dois passeios: um a solo, na X8, até à Serra da Estrela, em dois dias que me souberam como se nunca tivesse viajado, e que me levaram indirectamente a comprar a Integra. E outro, com o grupo de amigos 4onTour, em quatro dias por Espanha e Portugal, na fase menos aguda da pandemia.


Em boa hora o fizemos, a provar que oportunidades destas não devem ser desperdiçadas. É por isso que apesar de todas as condicionantes, me sinto grato por ter tido estas oportunidades, e por ter sabido aproveitá-las. Manter a chama do entusiasmo pelas scooters, mesmo estando boa parte do tempo confinados, é condição essencial para podermos redobrar o gozo nos dias que, se tudo correr como esperamos, não deixarão de vir.


Até lá, resta ir aproveitando os dias de semi-confinamento para apreciar a Lambretta por Lisboa, aqui na companhia da DL do Paulo. Enquanto não se lembram de as proibir de circular. Dentro em breve terei mais novidades sobre isso.



quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Tour 2020




Chegámos no dia anterior ao Alcaide. Parecia um percurso de concentração ao estilo do antigo Monte Carlo. Eu vinha da Covilhã, o Rui do Porto, o Miguel de Torres Vedras e o Paulo de Lisboa. Pela primeira vez em muitos anos íamos usar um sistema de dormida fixa durante o passeio.


Da casa do Paulo no Alcaide podemos explorar por um dia Espanha. A ideia é ir até à Serra da Gata, Las Hurdes, num percurso encolhido face ao que tínhamos previsto fazer em 2019, em que por ali andaríamos durante três dias.




Mas também podemos explorar a ligação Açor-Estrela, numa volta deliciosa de pouco mais de duzentos quilómetros, desenhada pelo marcador fluorescente do Paulo no mapa Michelin em papel.


No terceiro dia tínhamos previsto ir até ao Douro Internacional. Algumas pontas soltas de expedições anteriores, como um Lés a Lés de 2008 com passagem pelo Penedo Durão.
Planos para serem interpretados "cum grano salis" pois já nenhum de nós tem paciência para saídas demasiado madrugadoras, nem para jornadas de dois dígitos horários em cima da sela dos cavalos.


Este ano até havia a novidade do "Orux". Esta cedência às novas tecnologias foi impulsionada pelo Rui, que traiu os road books e os mapas em papel em nome da preguiça. Barafustámos, injuriámos, mas até gostámos de usar.


Depois de agrupados e em face das previsões da meteorologia que alertavam para calor extremo, decidimos rapidamente que o primeiro dia estaria reservado para Espanha. Não só estaríamos mais frescos no início do que no fim de vários dias na estrada, como esta era a etapa mais longa, com cerca de quatrocentos quilómetros. Se ficasse para o fim provavelmente iria faltar-nos vontade. Ou coragem.






A caminho de Las Hurdes, o sol queima. O que me impede de derreter são as paragens frequentes em fontes e rios. Não desperdiço oportunidades para encharcar o casaco, a gola, as luvas. Às vezes também os pés. O fresco dura um punhado de minutos, mas é suficiente para arejar a capacidade de raciocínio e prestar atenção à estrada com a lucidez que o risco exige. A subir aos 1240 metros de El Portillo ficámos estupefactos com a capacidade de três ciclistas que pareciam subir as rampas - eles sim - de Vespa! Com mais de quarenta graus de temperatura. Como diria o maior ciclista português de todos os tempos, Joaquim Agostinho, não é certamente a comer bife grelhado que se sobe com aquele ritmo.


Foi também o dia em que vários test rides foram feitos à Vespa do Miguel. Depois de dois sustos nas semanas anteriores, mudou de jantes e pneus mas a confiança mantinha-se em níveis baixos. Eu e o Rui experimentámos e o diagnóstico parecia semelhante: frente demasiado alta e nervosa, talvez algo de errado com os sinoblocos atrás. Mas a scooter parecia direita. Viajámos um pouco condicionados pelo ritmo lento do Miguel, mas com o calor instalado não havia grande apetite por acelerar. Este foi o dia em que mais explorámos novidades, por ser terreno não pisado, na sua vasta maioria.










O segundo dia foi ainda melhor. Apesar de não ser uma novidade total, boa parte do percurso tinha atractivos suficientes para proporcionar momentos de muita beleza, havendo espaço para algumas surpresas.


Algumas caricatas, como o almoço não programado numa inesperada piscina num planalto algures perto do Colmeal. Ou uma estrada cortada por pedras perto do Paúl. Ou ainda um encontro com bombeiros no rescaldo de um incêndio, em que ninguém nos perguntou o que raio andávamos ali a fazer com três jerricans cheios de gasolina amarrados às Vespa.






Outras de pura beleza. Aldeias isoladas e guardadas em xisto em que a vida se resume ao rio e à subsistência de meia dúzia de habitantes perdidos no tempo. O fresco do verde dos vales reflectido nas águas límpidas do Ceira e dos seus pequenos afluentes. As transições e as vistas imperiais da Estrela ao longe. Nunca cansam.










O terceiro dia foi mais curto e ainda mais quente. Teríamos que rumar a norte para dar alavanca à fisga que iria lançar o Rui de regresso ao Porto mais cedo. Separámo-nos em Celorico da Beira e iniciámos o regresso para sul. Mas antes ainda descobrimos bosques e estradas em que mal cabe um tractor, entrecortadas pela passagem pelo coração das pequenas povoações beirãs onde ainda é possível encontrar bombas de gasolina mecânicas em 2020! Perguntei porquê e a explicação foi curiosa: "é uma zona de muitas trovoadas, ainda há pouco tempo aquela casa ali levou com um raio!"


No capítulo mecânico nada a assinalar nas velhas Vespa. Apenas uma troca de pneus programada na Luiza no fim do segundo dia. A X8 deu mais trabalho. No Açor fritou o travão traseiro por sobreaquecimento, e o variador também começou a acusar algum cansaço atenta a exigência da serra. No regresso à capital foi um furo na Golegã que nos atrasou. Já está na revisao para repor a forma ao cuidado da Oldscooter.






O que é que Las Hurdes, a Estrela e o Açor têm em comum ? Sao serras. Que permitem descer de motor desligado. Que têm cumeadas altas que desenham o perfil do horizonte. Quando as alcançamos estamos mais perto das nuvens. Ou do céu. Sem intermediários.


domingo, 21 de junho de 2020

Honda Integra: Scooter #9



E a escolhida é... a Honda Integra, nome de código NC700D!

Trata-se de uma unidade ainda de 2012, pelo que corresponde à primeira série.


Imagem: Honda


A Integra nasceu com base num protótipo datado de 2010, a New Mid Concept, que tive oportunidade de ver ao vivo na Eicma desse mesmo ano. 

A ideia base que esteve na génese do conceito era a de conseguir conciliar com equilíbrio a proteção, facilidade e o sentido prático de uma scooter, com a dinâmica e comportamento de uma moto.

Parece fácil, mas não é. 

Aliás, se fosse fácil haveria muito mais propostas neste segmento híbrido, mas a verdade é que a Integra é, ainda hoje, uma proposta única no mercado, que não foi copiada por ninguém.

Adicionalmente a esta simbiose entre scooter e moto, a Honda propunha-se oferecer de série dois grandes trunfos.

O primeiro era a sofisticada transmissão de dupla embraiagem, que correspondia a uma evolução da primeira DCT instalada na topo de gama VFR1200. 

Esta transmissão permite uma utilização próxima das sensações directas de uma caixa de velocidades tradicional, com a vantagem de ter disponíveis três modos: um drive automático, um modo sport e um modo totalmente manual. Tudo isto era um mundo novo face ao delay típico das embraiagens de variação contínua presentes nas scooters modernas. E sem qualquer perda de facilidade de utilização.

O segundo era um motor radicalmente diferente, em conceito, tecnologia, economia e facilidade de manutenção. 

Este motor de 670cc nasceu de uma folha em branco, em que a Honda fez questão de ouvir as necessidades de utilização real dos seus clientes. Deste estudo saiu um motor compacto, leve, com um baixo centro de gravidade,  que privilegia o binário a baixa e média rotação, e ao mesmo tempo permite consumos muito comedidos e intervalos de manutenção alargados face a propostas de capacidade equivalente.

Muitos desdenham este motor. Eu sou adepto de motores rotativos, mas não me apetece sempre um motor rotativo. Pelo contrário, é muito raro estar suficientemente entusiasmado para precisar dele na vida real. É por isso que este motor faz muito sentido numa scooter-moto de utilização diária. É suave, disponível e elástico na faixa em que tem que o ser.

Apesar de em Portugal ter ficado longe do sucesso que atingiu noutros mercados com mais expressão, a Integra ainda se mantém no catálogo, oito anos depois. É uma scooter-moto que custa, a preço de hoje, cerca de dez mil euros. Bastante acima das NC750X e S, e abaixo da X-ADV. 

Ainda é um conceito válido e parece-me, hoje, uma scooter-moto muito mais moderna do que a idade faria supor. 

Nos primeiros dias com a minha Integra consegui rolar por pouco mais de duzentos quilómetros. Ainda muito pouco para descobrir se a Honda conseguiu fundir o melhor de uma scooter com uma moto.

O que vos parece a Integra?    


Primeira Viagem: Três DCT: X ADV, Integra, Africa Twin





















terça-feira, 16 de junho de 2020

Fui às Compras





A ida a solo à Serra da Estrela na X8 trouxe-me mais do que o prazer da viagem.

Quem me conhece e vai acompanhando estas aventuras sabe que nos últimos três anos uma preocupação central que me vem condicionando este gosto tem sido a coluna.  

Com um acompanhamento mais intenso e profissional e alguma disciplina e investimento meus em especial desde Janeiro, os primeiros resultados começam a aparecer. Não sei se estão já suficientemente consolidados, e seguramente que exigem mais trabalho e dedicação contínua, mas o facto é que dei por mim a viajar na X8 várias horas sem sequer me lembrar das dores. 

Quem sabe do que estou a falar sabe também que estas recuperações não têm preço. Podermos fazer a nossa vida com limitações de mobilidade mínimas, quase insignificantes face ao que nos é permitido fazer, e observando apenas algumas regras e exercícios básicos, é toda uma nova realidade pós primeira crise de coluna de 2017. 

Nos dias seguintes à chegada da Serra convenci-me que é possível, com os tais cuidados e disciplina, voltar a uma realidade de viagem em moto/scooter aproximada, em termos de duração e extensão, do que já fiz e que tanto gozo me dá.

Com esta crença em mente, e com o avançar natural da linha da vida, há uma série de projectos que se vão progressivamente tornando mais nítidos, prementes e importantes concretizar. No que a este blog diz respeito, isso passa por explorar outras opções no catálogo motociclístico.

Até hoje a garagem estava preenchida com três scooters: a Bianca, uma Vespa moderna a quatro tempos (Vespa GTS 300 Super ´2010), a Sogni D´Oro, uma Lambretta clássica a dois tempos (Li 150 Golden Special de 1966), e a sem abrigo do conjunto, a Piaggio X8 200 de 2004, para um uso quotidiano despreocupado em Lisboa.

Hoje comprei uma outra opção, amadurecida em pouco mais de vinte e quatro horas, mas que em certo sentido já estava numa gaveta semi-fechada na minha mente à espera de uma oportunidade. E parece fazer bastante sentido nos tempos mais próximos.

A curto-médio prazo vou voltar a reduzir de quatro para três. E não descarto que a nova aquisição seja a premiada para sair.

Veremos primeiro se corresponde às minhas expectativas e se e por quanto tempo ficará.

Aceitam-se palpites, na caixa de comentários, sobre que opção é.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

946 Dior




A Piaggio acaba de anunciar mais uma versão especial da sua scooter bandeira, a 946.

A 946 original é uma scooter de que gosto desde o início, pois apesar do seu preço astronómico é algo mais do que um exercício de estilo para aparecer em revistas, como tentei evidenciar num post anterior.  

Para continuar a não ser original a Vespa volta a explorar o filão da moda, depois da Armani para quem fez outra 946, unindo agora esforços com outro parceiro do mesmo universo, a francesa Christian Dior do gigante do luxo LVMH.


A anterior versão Armani parece elegante perto da nova Dior.





Só tive acesso a estas imagens de hoje, mas parece-me que não se esforçaram muito. Tudo o que é possível ver nas fotografias divulgadas são sinais de ostentação óbvios e referências nada subtis à marca francesa, num conjunto pretensioso e que podia ter sido pensado por um proprietário fanático (?) da Dior com pouca imaginação.

Fica assim a interrogação: porquê despender com alegria cerca de dez mil euros neste exercício, com uma scooter que parece um objecto de decoração contrafeito e pejado de "torneiras de ouro"?

Haverá com certeza almas com bolsos suficientemente fundos para levar para casa uma destas 946 e seus imprescindíveis acessórios. Nada contra, não é o meu dinheiro.

Mas ao lado desta Dior, a 946 original parece um produto sensato. 





(Imagens Piaggio)

Regresso à Serra





Em circunstâncias normais dois dias livres na agenda para passear a solo de scooter já é um luxo. Mas como todos sabemos estes não são tempos normais. Qualquer passeio mínimo em dois mil e vinte parece-nos mais nítido, estamos mais atentos, como se estivéssemos a viver o primeiro. Ou o último. A experiência, muitas vezes pouco valorizada, passa a ser crua e intensa. Tudo é magnificado pela urgência, pelo medo de não podermos repetir.


Talvez isso explique por que razão preferi voltar à Serra da Estrela. Oferece-me uma quase inesgotável fonte de beleza natural, por vezes capaz de me emocionar. É simplesmente o meu lugar. Não nasci ali, nunca lá vivi ou trabalhei, não tenho origens familiares na Serra. Mas volto várias vezes com o entusiasmo íntimo de sempre. Até intensificado quando vou a solo, porque isso me permite parar para observar, fotografar ou explorar sem ser chato para ninguém. Praticar a observação no meu ritmo. Uma das minhas definições preferidas de luxo.  












segunda-feira, 13 de abril de 2020

Scooterismo em Confinamento




Aparentemente vamos sobreviver ao apocalipse anunciado. Se assim for, as minhas previsões para o último depósito eram manifestamente exageradas. Provavelmente fomos salvos pelo confinamento e pelo estado de emergência. Esperemos agora que os outros estados de emergência não decretados, mas que já espreitam à superfície, sejam superados com a mesma determinação.

Durante o confinamento, o mundo, tal como o conhecemos, parou. E as actividades scooterísticas também. Grandes eventos como o European Vespa Days, na cidade berço de Guimarães, foram já adiados para 2021. Provavelmente não iremos ter qualquer encontro significativo em 2020. Cancelámos a Serra da Estrela e felizmente não marcámos IberoVespa para este ano.


Estamos todos em suspenso, à espera do primeiro dia D.C., depois do coronavírus.


Até lá, o que fazer em recolher obrigatório? Parece ser a desculpa ideal para avançar em restauros. Como não tenho restauros para fazer, nem jeito ou tempo para eles, optei por comprar, em tempos de incerteza, um pedaço simbólico e modesto de memorabilia: um curioso livro de revisões Lambretta para a Sogni D´Oro. Com um agrafo ferrugento e tudo.


Foi o meu único "acto scooterístico" em trinta dias de confinamento e  teletrabalho.

domingo, 22 de março de 2020

Último Depósito Antes do Apocalipse ?




Em recolhimento obrigatório é mais difícil gozar um dos bons prazeres que a vida nos proporciona: andar de scooter.

O confinamento a um espaço pequeno, que se perspectiva poder durar vários meses, é algo de anormal. Para nós inédito em tempos de paz, e seguramente de memória longínqua para quem nunca esteve num teatro de guerra ou tem menos de setenta anos. 

Qualquer restrição à liberdade individual parece intolerável, não só para quem a dá por adquirida - em especial os mais novos - , mas também por aqueles que por ela tanto lutaram. Mais do que intolerável, às vezes parece insuportável. E ainda só passou uma semana.  

Não é que o tempo não passe, ou que não exista trabalho. Existe, chama-se teletrabalho e nem é por estarmos sistematicamente com um olho na televisão à espera das últimas notícias. 

A verdade é que a liberdade nos faz tanta falta. E só estamos a falar da liberdade de nos movermos para onde nos apetecer. Uma pequena parte das liberdades fundamentais.

Mas talvez a que mais colide com esta coisa estranha de gostar de deambular por qualquer que seja a geografia sentado em cima de um engenho com duas rodas a motor.

As coisas vão melhorar. Mas vai levar tempo.




As scooters estão ambas em bunkers. A Bianca está longe agora. A Sogni D´Oro está perto, mas não lhe posso lançar a mão na garagem que tem acesso interdito. 

Se pudesse escolher um último depósito antes que me apareça a mensagem game over na televisão… escolhia a Lambretta. 

Exactamente porque é a que me dá a sensação mais crua e intensa de liberdade.

E vocês ?



terça-feira, 10 de março de 2020

Vírus Lambretta






Ao que parece o apocalipse está próximo. Vários países a meio gás e com perspectivas negras no horizonte. Itália já tem as fronteiras fechadas, cenário quase inimaginável em tempos de paz. 



Enquanto isso, dentro dos balons da Lambretta, a propagação de vírus não se afigura possível, tal é a limpeza cirúrgica desta maravilha. Este mês completará cinquenta e quatro anos.