sábado, 31 de dezembro de 2011

Carris de Férias



Tenho tido poucas oportunidades para sair da garagem em duas rodas, mas hoje tudo se conjugou para uma tarde de conversa na estrada com a Bianca. Até Sintra, no último dia do ano, para desenhar linhas paralelas à linha do eléctrico. Numa ponta a Praia das Maçãs. Na outra, o início da vila de Sintra.










A ligação faz-se há mais de cem anos, desde 1904, embora com interrupções do serviço e diferentes extensões de linha ao longo do tempo. Lembro-me de vir para Sintra passar períodos de férias em criança, e de ver a linha ao abandono. Em 1975 a linha foi encerrada, ultrapassada pelo autocarro. Só em 1997, após requalificação, foi reaberto o troço Ribeira de Sintra  -Praia das Maçãs, mais próximo da configuração de 1904.
  

  








Este verão tentei trazer a  pequena Beatriz para viver as sensações do eléctrico aberto à brisa, ao longo dos doze quilómetros do percurso, mas deparámo-nos com filas maiores do que a capacidade do eléctrico. É uma viagem que exige tempo. Há que contar com quarenta e cinco minutos para cada lado. E se não houver lugar vago na carruagem, a espera pelo próximo eléctrico é de mais uma hora. 

Apesar de acompanhar a desilusão e frustração da Beatriz, fiquei secretamente contente por verificar que a procura pode exceder a oferta num serviço ferroviário com mais de cem anos em Portugal.   






Hoje não havia circulação, pelo que pude deambular à vontade pela linha. Mas não pelas novas oficinas. Tentei fotografar a frota que descansava debaixo do alpendre, mas não me foi permitido. Pude ver apenas três unidades ao longe. 

É impossível comparar a elegância de objectos industriais com largas décadas de diferença.

De um lado as mais belas carroçarias de eléctricos abertos, de bancos corridos e entrada lateral, de fabrico norte americano do início do século XX.          

Do outro, a Vespa.

Na falta dos eléctricos só pude fotografar a Bianca, mas no habitat natural da ferrovia.







quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma Imagem, Duas Histórias





Fiz esta fotografia em Outubro de 2009, em Atenas. No fim-de-semana da última eleição legislativa, que haveria de conduzir ao poder Papandreou, entretanto demissionário.
 
Sem sequer suspeitar, testemunhei o dia zero do até aí impensável ataque criminoso às dívidas soberanas na Europa.
 
Pouco tempo depois a Grécia entraria na espiral ascendente dos juros da dívida pública, fenómeno que rapidamente se alastrou a países periféricos do Euro, Irlanda e Portugal, também já intervencionados pela troika, e que promete fazer mais vítimas entre as nações sob a mira dos mercados.

Ao voltar por acaso a esta imagem, de uma Vespa gasta numa rua estreita de Atenas, detive-me na observação dos detalhes, num exercício em que gosto de ligar a fotografia a aspectos e realidades que nela aparentemente não estão. Pelo menos directamente. Revi, então, vários sinais da história.

A de uma Europa velha, mas cheia de charme, representada pela Vespa.

A de uma sabedoria milenar, simbolizada pela língua grega na placa toponímica e pelo pedaço de Parténon na loja, também esta caduca.

A de um modelo económico já sem soluções, ultrapassado, como o autocolante no vidro da datada Kodak.

A dos europeus de rosto fechado, como o cadeado na porta.

Resta saber se a charmosa e velha Vespa se submeterá a restauro para resistir.  E se, ainda assim, resistirá.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vespa Side



Um brinquedo de Natal. À invulgar escala 1:6, recebi este belo exemplar licenciado pela Piaggio Vespa representando uma Vespa 150 de 1955 com um apetecível side car.


Com chassis em metal, como convém, é uma peça interessante até pelas dimensões. Nunca tinha tido um modelo nesta escala, nem posso ter muitos até por razões de espaço. Estou neste momento a negociar uma garagem cá em casa para o ter exposto.








Um pormenor curioso é o facto de este exemplar em concreto ter estado muitos anos longe da vista de potenciais compradores, esquecido num armazém de uma livraria torreense. Foi ressuscitado na sequência de um pedido da compradora: não tem aí nada sobre a temática Vespa ? Ao que o vendedor terá respondido: passe por cá amanhã porque julgo que no armazém temos por lá qualquer coisa. E tinham. Numa caixa cheia de patine, desgastada provavelmente por uma prolongada exposição solar anterior, é um verdadeiro artigo new old stock.   






As vantagens destes brinquedos são várias: assim de repente, consigo desbobinar algumas: não avariam, (ainda) não pagam imposto de circulação, não precisam de seguro, não descarregam a bateria (as que a têm). Podemos ter modelos de sonho, e dar algum fôlego à imaginação por um preço simpático. Ou até podemos ser surpreendidos sob a forma de presente. Quantos de vós receberam uma Vespa 150 com side car de presente ? 





quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Embarque para 2012



Agora que a poeira assentou sobre o Salão de Milão de 2011, é altura de partir as brasas e olhar para as novidades no segmento de topo, o das scooters-avião. É uma categoria em que as scooters raramente fazem sentido, mas apetecem. Apresentam motores com um cilindro a mais do que era suposto. Têm mais cilindrada do que a classe raínha das corridas de Grande Prémio a dois tempos. São tão ou mais caras do que verdadeiras motos com a mesma ou mais capacidade. Mas são especiais. E noutros tempos acabavam por desencadear uma conversa evitável com o gerente do banco.

As atenções centram-se nas duas BMW novas, evoluções do protótipo do ano passado, e que marcam o regresso ao mercado da marca da hélice. Se o meu raciocínio estiver correcto, e o preço proposto não for meteórico, é uma boa cartada. O downsizing é uma cartilha para levar a sério em tempos de crise. No fundo, trata-se de partir ao meio a capacidade da eterna GS 1200, retirar-lhe o pó e as malas, acrescentando-lhe estilo e sentido prático como só uma scooter sabe fazer. Inclino-me para conceder a minha preferência à mais desportiva da linhagem, a C600 Sport, a que veste de azul. Não tenho dúvidas que será uma scooter competente, capaz de envergonhar algumas pseudo-desportivas. E digna de qualquer candidato a Top Gun no século XXI.




A Aprilia - ai, este Grupo Piaggio... - lançou uma Gilera submetendo-a a cirurgia plástica e alterando-lhe o nome no registo civil. Eu sei que a já bem conhecida Gilera GP 800 é um poço de agressividade. 


 


Na prima Aprilia a tensão não é menor. Só de olhar de perfil para a SRV 850  cerro os meus dentes, começo a suar na testa e os meus músculos ficam alerta. Intimida. Vai-me obrigar a confessar que nunca serei um Freddie Spencer. Não é bem isso que pretendo e procuro numa scooter.




E a raínha T-Max ? Acrescentaram-lhe 30cc, injectaram-lhe cavalos e emagreceram-na, para continuar a reinar. Está quase perfeita. Mas para além de impessoal e incrivelmente cara, é demasiado rápida para me permitir observar para lá das bermas. 




Sobra a Honda Integra. Ultrapassando a infelicidade da repetição do nome, a evolução do protótipo que vi em Milão em 2010 consegue ser, aos meus olhos, bem mais bela do que essa Mid Concept. O que já não é pouco. A comparação, para mim, é simples: se a VFR 1200 fosse uma scooter seria a Integra. Há muito de VFR nesta scooter. O grupo óptico frontal, a secção traseira esguia, a sobriedade dos vincos e traço geral do design, que lhe dão um toque de sofisticação depurado, muito apanágio das melhores Honda. Finalmente uma scooter de roda alta elegante! Desde que sem malas. No capítulo técnico, a dupla embraiagem com três modos (manual, e dois modos automáticos) ajuda a abrir o apetite por experimentá-la. Se estivesse comprador de um avião, seria a minha escolha para descolar em 2012.






 
Imagens: Catálogos e Videos Marcas