sábado, 11 de agosto de 2012

Uma Laverda de Sonho




Esta fotografia foi feita pelo meu pai no início da década de oitenta, numas férias em Vigo, Espanha. Suspeito que estará por agora a fazer trinta anos. 

É uma imagem especial, pois desde que a química fez magia transformando a película em papel a cor, tem-me acompanhado nas várias etapas destas três décadas, em formato trinta quarenta. E é inseparável de uma moldura elegante de acrílico, que talvez esteja na moda outra vez, de tão sóbria que é.

Do que mais gosto na fotografia é do meu olhar de entusiasmo de menino, à frente da Laverda com matrícula de Ourense. A moto não era nossa, mas a pose era tão assertiva, comprometida, que aposto que o próprio dono, ao guiá-la, jamais teria estado perto da intensidade do meu entusiasmo.

Lembro-me que durante anos me convenci que aquela era a minha Laverda, e romanceava através dela viagens de moto. Aliás, a marca italiana era duplamente interessante, porque não só mais ninguém tinha uma, como nem sequer dela se ouvia falar. Até porque a Laverda entraria em declínio ainda nos anos oitenta, e só ressuscitaria como marca de nicho elitista já com os anos noventa em marcha. E nessa altura eu já tinha idade para ter algum juízo.

Um dos detalhes curiosos da imagem e que ajudava à atmosfera é o facto de não se conseguir ver o logotipo no depósito na totalidade. O que criava uma aura de mistério maior nos meus amigos, que os obrigava à pergunta sacramental, a que eu adorava responder: de que marca é ?

Posso, portanto, assegurar-vos que viajei nesta superbike dos anos setenta,  protegido com aquele capacete amarelo que se destaca em cima do saco de depósito. Sem nunca me ter sentado nela.

Viagens imaginadas.

É um outro exercício, e pode até suceder que a memória me atraiçoe, toldada pela imaginação, mas fazer viagens - refiro-me às reais - naquela época era uma experiência, no mais rico sentido do termo. De Vigo a Lisboa não víamos apenas rails e estações de serviço. Nem vínhamos de avião. Nem demorávamos menos de um dia.

Talvez seja pela (sobrevivência da minha) ideia de viagem que continuo a ter as scooters na garagem e a rolar. Devagar, como uma viagem de comboio que assimila a paisagem a mudar lentamente, e que nos causa aquela sensação de estranheza em relação a nós próprios. Do tempo a passar pelos lugares. É aí que, acredito, viajamos. 

3 comentários:

João Ruas disse...

Ganda Vascão! Também eu fiz parte dessas "viagens"...

Hugo Reis disse...

Devo dizer-te que vi uma dessas esta semana. Era cor-de-laranja e estava nova!

Anónimo disse...

Gostei de ler este texto....obrigado pela partilha...sou um adepto da Moto Guzzi mas sp olhei mt para as Laverdas...isto pr tinha umas miniaturas com as quais brincava em míudo....
Hoje as motas são para mim um vicio...tenho uma XR 250 (monte) e uma Strom 650 (estrada...estará para vir uma Guzzi tipo Café Racer...uma coisa é certa as italianas são paixão...Abc Nuno Guzzi