domingo, 21 de novembro de 2010

Ecos de Milão (IV) - LML



Lindas Mesmo Lindas. O stand da LML assemelhava-se a uma loja de rebuçados, em que os passantes retrocediam no seu conta quilómetros mental até à idade da inocência.
 
Acredito que se fizessem um inquérito, a primeira preocupação da esmagadora maioria dos que por ali passaram era escolher a cor da sua LML preferida. E não propriamente saber se precisam ou ponderam adquirir uma. É uma das formas clássicas de trabalhar o desejo.

O importador italiano assume-se sem complexos como a alavanca do fenómeno LML na Europa, ao preparar um contragolpe trovejando novidades, precisamente quando a sua anterior parceira, a Piaggio Vespa, se ergue de um sono profundo, desempoeirando do baú a velha PX.
 
Ficou patente o entusiasmo (será paixão?) que a LML (ou a LML Itália?) incorpora nos produtos que apresentou na EICMA. Tentando abraçar as várias tendências actuais e antecipar as futuras, mostraram uma gama muito completa que gira em torno da mesma scooter base, a Star, que por sua vez é uma cópia quase cem por cento fiel da PX.
 
O primeiro aviso já tinha vindo sob a forma de um motor de ciclo quatro tempos. Aparentemente, o relógio tem estado a provar a validade desta opção, sem que a Piaggio tenha ido atrás da ideia.
 
Com o que mostrou agora na EICMA, a LML Itália está a elevar de novo a fasquia e, parece-me, acertando no alvo.
 
O que está a fazer de diferente é muito simples e parece básico. Personalizar as scooters à saída do stand e chave na mão, potenciando a individualidade de cada um dos seus clientes. E fá-lo indo ao encontro do que o mercado parece querer.





 
Claro destaque para a nova série RS, com um poderoso verde seventies, a ausência quase total de cromados, vários detalhes a negro mate, mola e maxilas na cor do diabo, um descanso lateral e um ecrã escurecido bem enquadrado, num conjunto que pretende atrair scooteristas que apreciam um estilo mais desportivo.
 
Achei o verde irresistível. O laranja está no extremo oposto ao apresentar brilhantes (!) ao melhor estilo carro de feira, mas gostos não discuto. Posso eventualmente lamentá-los...









 
A série Mat, muito semelhante à RS mas com pintura mate, também revela auscultação do mercado. Não fiquei convencido com a qualidade da pintura, sendo que o exemplar cinzento era o que, ainda assim, denotava um acabamento mais conseguido.



De sublinhar ainda a versão 200i, a injecção, muito aguardada em Portugal, mas que terá uma estética algo diferente daquela que se mostrou em Milão, não tendo sido ainda destapado o véu sobre a verdadeira amplitude dessas alterações de imagem.


 
A versão eléctrica que a LML apresentou, a Electric,  era uma adaptação primitiva de uma Star a combustão, mais parecendo um plug in do que propriamente uma scooter pensada para ser eléctrica, designadamente no que se refere ao aligeiramento de peso e diferentes necessidades estruturais.



 
Outras versões expostas eram as Bicolor, as GT, e as já conhecidas do mercado português, as Vintage, Classic, e Glamour, diferenciadas apenas pela tonalidade das combinações banco/chassis. A multiplicidade de versões e cores, acresce ainda uma linha de capacetes desenhada para as LML, bem como de top case específicos.
















Por fim, a Star Corsa de competição, que servirá de base ao Trofeo Polini Italian Cup 2011. Grupo térmico Polini de 165cc, carburação específica a cargo da japonesa Mikuni, quatro tempos, escape, suspensões reguláveis, disco majorado e slicks. Porque a competição é o terreno de excelência para se trabalhar uma marca.


Comparando com os stands que tenho vindo a abordar nos posts anteriores, ficou-me a sensação de diferença. Aqui, na LML, algo está verdadeiramente a acontecer. Pelo contrário, na Vespa e na Lambretta encontrei cenários em que algo já aconteceu ou vai acontecer. Toda uma diferença quando se avalia a vitalidade de uma marca.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ecos de Milão (III) - Lambretta

 
Devo dizer que a minha admiração pelas Lambrettas clássicas é relativamente recente. Mas tem vindo a agigantar-se perigosamente no meu espírito. Já me tem acontecido pecar em pensamento, imaginando uma DL 150 num lugar de garagem que me pertença. Tenho conseguido controlar à distância este maléfico desejo com o papão técnico. É conhecida a minha inaptidão para sujar as mãos em óleo, só comparável à minha exígua capacidade para lidar com os mistérios do humor de uma clássica.
 
 


Seguramente não estava a pensar numa DL 150 quando encarei o stand Lambretta na EICMA. E tenho que confessar que fiquei algo inquieto quando vi ao vivo o modelo exposto. A primeira sensação é familiar, porque já me habituei a vê-la em fotografias de salões anteriores. Mas é daquelas scooters que é realmente estranha. Parece tosca, e provavelmente é. Mas – paradoxalmente, talvez - o desenho é bom, mesmo sendo declaradamente retro. Não se sente original, mas agrada, embora sem deslumbrar.




 
Do que menos gostei foi da sensação a plástico. Não há nada de errado com o plástico, aliás essa é a pele mais comum à esmagadora maioria das scooters hoje. Mas nesta scooter em particular o plástico parece sublinhar-se em todos os componentes. Há pormenores bonitos, mas o material acaba por destacar-se a bold. Tresanda a plástico.





 
Conversamos com o responsável pelo stand e fazemos algumas perguntas. Ficamos a saber que o motor será SYM, de 125 e 150cc, refrigerado a ar, a quatro tempos e de transmissão automática. As rodas serão de doze polegadas e atrás estará um travão de tambor a ajudar a missão do disco frontal. Garantem-nos ainda que em Itália se proporá a sua venda por um preço em torno dos três mil euros, algures no primeiro quartel de 2011. Será ?... Voltei a pensar na DL.


 

sábado, 13 de novembro de 2010

Ecos de Milão (II) - Vespa



A Vespa apresentou um stand sóbrio, em tons de branco, mas com um certo ar de sofisticação, com toda a gama GTS(V), Super, S e LX(V) com pequenas novidades de pormenor, espalhadas pela zona nuclear, e a mais aguardada PX mais recuada, com uma quase bizarra inscrição de world premiere em legenda no palanque rotativo.







Sobre esta PX já tudo se disse – ao longo dos últimos trinta e três anos – pelo que optei por destacar pequenos pormenores, garantindo que o azul presente na apresentação tem, ao vivo, um efeito soberbo.







À esquerda da PX exibia-se uma instalação simples mas bela de dois chassis monobloco despidos, pendurados na vertical, nos dois lados de uma mesma parede, pondo a nu as soldaduras de uma identidade.

Não por acaso escolheram-se dois quadros de GTS Super, como que reforçando que a tradição se faz também de transição.






quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ecos de Milão - Salão de Milão EICMA 2010


A viagem a Milão superou todas as expectativas. Não é por acaso que é por muitos considerado como o mais importante salão de duas rodas do mundo, talvez só seguido de perto por Tokyo. Encontrei um ambiente que não julgava possível num salão de motos, público entusiasta e um empenho das marcas claramente invulgar, que nada tem a ver com qualquer outro certame que tivesse visto até aqui.

Um dia inteiro de feira, de manhã à noite, não permitiu ver todos os expositores, sendo que o espaço físico do recinto facilmente ultrapassará seis ou sete recintos da conhecida FIL em Lisboa. Uma experiência que, quem gosta de motos e scooters, devia fazer uma vez na vida. E o problema é mesmo esse. A partir daqui vai ser difícil encontrar motivação para ver qualquer salão de motos em Portugal. 

À medida que o escasso tempo for permitindo irei tentar importar para este espaço algum rasto do melhor que a EICMA mostrou, apenas no que ao planeta scooter diz respeito.

Uma nota final para dizer que a viagem não teria metade dos episódios divertidos e rocambolescos que teve sem o espírito incansável do meu amigo Rui Tavares. Só faltou mesmo andarmos de scooter... Grazie, Rui!


(imagem Honda New Mid Concept Scooter: Rui Tavares)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

E o Ícone Renasceu - Vespa PX MY 2011




A Piaggio acaba de apresentar a Vespa PX MY 2011 na abertura do Salão de Milão (EICMA) 2010, onde o Offramp irá estar dentro de dias.

O rastilho das reacções está aceso pelo mundo da internet, com entusiastas de todo o mundo incrédulos ao descobrirem que, afinal, a nova PX é igual à que já têm na garagem.

De facto, as alterações são de detalhe face às últimas PX produzidas em 2007, destacando-se um banco diferente e de desenho discutível, e um nariz a recordar antigas séries da P. O que equivale não só à negação dos vários caminhos de inovação que se foram sugerindo, mas também a um curioso anti-clímax, pois a novidade aqui aparece-nos sob a forma de algo que já conhecemos há trinta e três anos.

Assim, e depois de meses de especulação, a aposta foi ganha pelos ortodoxos, que queriam uma PX igual ao que sempre foi. O que representa um motor a dois tempos, quatro mudanças manuais de punho, e um bom e velho design dos anos setenta.

Devolver ao mercado a sigla PX acarretaria sempre um ónus difícil de suportar para a Piaggio. É certo que já tinham feito uma operação de contornos similares - e com sucesso - com uma marca, a própria Vespa, mas fazê-lo com um modelo é mais ingrato e difícil.

Acresce que também me parece deselegante comercializar a mesma PX, defraudando os clientes que acreditaram que a última série, em 2007, seria mesmo a derradeira.

Independentemente de a PX merecer sempre um lugar destacado na história da indústria, julgo que é uma opção de alto risco por parte da Piaggio.

Ao contrário de outros tempos, a PX tem hoje à sua espera um mercado de nicho. Mesmo esse é fortemente concorrencial, pois as indianas LML, quer a dois, quer a quatro tempos, vão continuar a cativar o mercado dos scooteristas oldschool, renovando a oferta com novidades certeiras e importantes como a 200i ou a RS, e bem alicerçados num preço que, seguramente, será mais apelativo do que o cheque pedido em troca da nova PX.

E este é um dos dilemas que a Piaggio agora criou com o renascimento da PX. Uma scooter que todos admiram, mas que poucos irão comprar.

(Imagem oficial Piaggio)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Salsbury, um Sonho Americano

 
 
A Mechanix Illustrated é uma antiga revista norte americana deliciosa, dedicada a fervilhantes invenções e a outras curiosidades hi-tec. No seu número de Dezembro de 1947 publicava duas páginas dando nota de uma scooter com um desenho simultaneamente simples e avançado: a Salsbury.

Longa e aerodinâmica, automática, com dois pedais, muito polida nos detalhes, a Salsbury anunciava-se confortável e luxuosa, protegendo verdadeiramente o condutor das intempéries enquanto este fazia uso dos seis cavalos do motor, capazes de o transportar até às trinta e cinco milhas por hora.

Toda a linha da scooter me parece de inspiração aeronáutica, e faz-me especular sobre se este desenho não foi atentamente seguido pelos engenheiros alemães que criariam a impressionante e bem menos elegante Maico Mobil, que só seria lançada já na década de 50.

Antes disso, na segunda metade dos anos 40, e findo o esforço de guerra, era muito frequente a reconversão das linhas de produção de material bélico. Neste caso, a Northrop Aircraft Inc., habituada a produzir bombardeiros, apresentou, através da Salsbury Motor Inc., uma proposta de uma scooter de luxe, adaptada aos tempos de paz e prosperidade.



É muito curioso o texto da revista, a meio caminho entre o jornalístico e o publicitário, apontando o alvo comercial da Salsbury: a família americana média que tinha um automóvel, mas ambicionava ter dois. Esta ambição, por um lado criava problemas de estacionamento nas principais cidades e, por outro, trazia consequências nefastas para os orçamentos de muitas famílias que, afinal, teriam dificuldades em suportar os custos de um segundo automóvel.

Assim, a solução de mobilidade e consumo para estas famílias seria uma scooter que pudesse funcionar como a simbiose entre um automóvel pequeno e uma moto. Uma receita que, mais de sessenta anos depois, continua a soar familiar.