domingo, 23 de maio de 2010

Ciao, Granturismo



É uma decisão difícil de explicar: vendi a Granturismo. É estranho. Não pensei demasiado, nem se trata de uma decisão muito racionalizada. Talvez até seja o oposto. O que, numa análise lógica, conduziria a uma motivação mais impulsiva.



A verdade é que nunca uma scooter (ou mesmo moto) me serviu tão bem, nunca nenhuma se ajustou a mim como esta. Como um fato feito em alfaiate. Lembro-me da alegria que senti no dia em que a trouxe de Matosinhos para casa. Senti uma imediata empatia por ela. Quem entende esta linguagem, sabe do que estou a falar: ao contrário de outras máquinas que já passaram por aqui, nunca tratei a Granturismo como um mero objecto. Como apenas um veículo capaz de me levar do ponto A ao ponto B. Confiei cegamente nela para me levar a destinos como Bragança, Sagres, Guimarães ou Covilhã. Para além da fiabilidade blindada, tinha o ritmo, o porte e a performance certa para mim, nos quase quatro anos em que habitou a minha garagem. Além de que me permitia deslocar-me orgulhoso, numa scooter bonita e graciosa, algo a eu não estava propriamente habituado.



Não deixa, por isso, de me parecer algo cruel vendê-la. Mesmo a alguém que conheço há quase trinta anos, e que agora se inicia no mundo Vespa. Sim, talvez esse facto tenha pesado na minha decisão. Mas não foi fundamental. E ainda não me arrependi. Mesmo assim, permanece difícil de explicar. 


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Viagem, o Espaço de Disponibilidade



Na aparência a viagem pode ter várias direcções, cenários que desfilam como numa sala de cinema. Mas aqui somos nós que dirigimos, realizamos o filme e projectamos o resultado directamente na tela.

Na verdade, os vários cenários servem-nos de espelho e disfarçam o sentido único do trajecto. Como num primeiro círculo. Retratamo-nos quando viajamos, embora aparentemente estejamos apenas a ser trespassados por uma imagem exterior. Como uma película que é sensível à luz.

O cenário também é um pedaço do fundo de nós mesmos. Em movimento. É assim a verdadeira viagem. É exigente. Pede-nos busca, atenção, predisposição. Escolha. Pede-nos que nos sintamos estrangeiros, no sentido em que estamos fora do nosso conforto, da nossa rotina. E mais despertos para o mergulho. Para conquistar a oportunidade de olhar devagar, profundo, até ao osso. É esse o sentido mais nobre do termo viagem.

domingo, 2 de maio de 2010

Sym, de Trezentos no Lés-a-Lés de Dois Mil e Dez

(imagem cedida por Ernesto Brochado)

Não é novidade que prefiro não repetir scooters no Lés-a-Lés. Em 2008 levei a Granturismo. Em 2009 comprei a Helix propositadamente para o efeito. Em 2010 quis variar e não reincidir nas receitas anteriores.

Lancei o repto ao importador em Portugal de um construtor em forte crescimento no nosso mercado. Desconfio que não é só pela fonética feliz, em português, que o nome da marca gera simpatia. O modo aberto como a SYM, através da Red Moto, aderiu ao desafio demonstra algo que valorizo: espírito entusiasta e confiança no produto. O que talvez ajude a explicar parte das razões do sucesso comercial de que tem vindo a beneficiar. 

O Offramp está habituado a Lambrettas vibrantes, Vespas rotativas, Heinkels luxuosas e Hondas de sofá. Este Lés-a-Lés representa uma nova experiência scooterística: viajar numa scooter de Taiwan de roda alta da nova geração, com motor encorpado, injecção de combustível e pose de all rounder. Durante cerca de cinco dias e dois mil quilómetros de estradas tortuosas de asfalto, gravilha e terra, estarei entregue a uma SYM Citycom 300 i. Será a primeira vez que, no Lés a Lés, terei vinte e três cavalos às ordens do meu punho direito. Conto com a experiência de quase 50 anos de história da SYM para me assegurar que nenhum deles dormirá durante a prova.



(imagem: soloscooter.com)