segunda-feira, 24 de julho de 2017

Piaggio X8 200 - Regresso a um Sofá





Depois de um ano e meio com a Bala (LML 200), a minha segunda LML consecutiva, o regresso a uma scooter sofá parece não ser uma ideia totalmente destituída de sentido.

Qualquer scooter de mudanças manuais para usar na cidade é uma excentricidade. Diverte quando estamos em modo tolo e irrita quando a razão nos visita o espírito. O sentido prático do devaneio é igual a zero, em especial porque hoje existem dezenas de opções competentes no mercado de scooters automáticas

Como desvantagem da LML também se podem apontar as pequenas rodas de dez polegadas que, contribuindo embora para a maneabilidade excepcional, tornam qualquer irregularidade média na cidade uma onda do Canhão da Nazaré, e qualquer buraco uma cratera. Circular a dois e com pesada bagagem escolar a bordo é aventura diária garantida. Sem dúvida divertido, mas um pouco cansativo. 

A favor a LML conta com uma brecagem de cobra, que permite que a scooter passe em qualquer buraco de agulha, muito útil em ruas estreitas ou muito condicionadas. O efeito sorriso automático (ou feel good factor) também é assegurado, ao lado da disponibilidade para as respostas às abordagens de rua ao estilo bonito restauro. Ir de Vespa é sempre um desbloqueador de conversa.

Os tempos e as conjunturas vão mudando. E com essa mudança vem também o impulso para outras e novas experiências, crónicas no meu caso de scooterite.

A conjugação do regresso a Lisboa com as necessidades de transporte diário em scooter durante as quatro estações do ano, e a vontade de ter uma scooter mais anónima e menos apetecível fez-me repensar a estratégia.

No mercado de usados pensei em várias scooters plásticas. Numa Piaggio X7 ou numa Sym Citycom 300, de roda maior e já suficientemente desvalorizadas para poder encontrar um negócio equilibrado, com uma scooter direita, não demasiado velha e gasta.

Nenhum negócio disponível apareceu - também não procurei assim tanto tempo - até que no radar surgiu uma Piaggio X8 200.

Não estava nas minhas cogitações iniciais, mas a verdade é que, ao verificar a minha check list, quase nenhum item ficou por preencher, e desses em que a X8 fica coxa, nenhum era verdadeiramente impeditivo.

Tem um motor de boa memória, pois é exactamente o mesmo da minha antiga Vespa GT 200, e apresenta uma configuração de scooter executiva. Tem muito espaço de arrumação - alberga com facilidade, por exemplo, raquetes de ténis, ou tacos de golf curtos ! - , protecção de vento e chuva com o ecrã alto, e é muito mais curta e alta de assento do que a Nave, a minha antiga e baixíssima Honda CN 250. É também bastante mais curta e leve (!) do que, por exemplo, uma Sym GTS 125, e com menor distância entre eixos. Tem rodas doze e catorze, um bom compromisso para a cidade, sem demasiadas concessões ao comportamento em estrada.

Com treze anos no activo, a X8 há muito que deixou de exigir um cheque inicial pesado, como quando era nova.

No papel, parece, pois, ser uma aposta - por uma vez ! - racional. 

Daqui por uns meses, veremos como a ZÉzinha suporta o duro teste da realidade.  


















quinta-feira, 20 de julho de 2017

Galizastúrias (VI)





Fecha-se agora o ciclo de posts dedicados à viagem à Galiza e Astúrias. Não foi propriamente um roteiro, e também a preguiça não me permitiu trazer dicas úteis para uma viagem por estas regiões. O que vos posso dizer é que não vale a pena elaborarem um plano rígido. Se viajarem sempre pelo recorte da costa de Vigo para norte, e prosseguirem pela Costa da Morte até Ribadeo, descendo depois para sul acompanhando o Rio Navia, não vão ficar desiludidos. São centenas de quilómetros de rias, pequenas praias desertas, bosques, e uma curiosa ligação entre serra e mar. E quando abandonarem a costa, o azul dará lugar ao verde que inunda a paisagem natural das Astúrias. Boa viagem.

Talvez se feche também outro ciclo, o da Bala.

Embora goste muito da scooter, e esteja próxima de preencher grande parte dos meus critérios para ser "one motorbike to do it all", a verdade é que temos tido alguma dificuldade em fiabilizar alguns aspectos, curiosamente mais ligados ao kit e às transformações daí decorrentes, do que a uma LML 200 totalmente original. Provavelmente este Galizastúrias 2017 terá sido a última grande viagem da Bala.   




     

















segunda-feira, 10 de julho de 2017

Galizastúrias (V)







Cada um dá o que tem. A fotografia também pode ser uma contribuição.

Sabendo que ia viajar para fora da zona de conforto de máquinas pensadas para deslocações urbanas, é claro que as hipóteses de algo correr mal do ponto de vista mecânico aumentam exponencialmente. É a utilização intensiva de uma scooter pequena, com calor, muitas horas diárias, com centenas de quilómetros em curtos espaços de tempo.


Gerir os equilíbrios de uma equipa também passa por descobrir o que é que podemos dar aos outros que estão connosco, que eles também valorizem. No meu caso concreto, a capacidade analítica para identificação e resolução de problemas mecânicos e, sobretudo, a execução da reparação adequada são aspectos em que não cumpro os mínimos.

Em si mesmo isso não é impeditivo de viajar sozinho, em contextos mais ou menos aventureiros. Já o tenho feito. Mas condiciona. É verdade que muitas vezes abre janelas para outras experiências. Mas, no limite, posso ser obrigado a interromper ou atrasar uma viagem, de tal forma que a arruino. 

São essas capacidades - entre muitas outras, claro - que qualquer um dos membros da equipa de amigos têm para dar e vender. O Rui e o Paulo divertem-se genuinamente a analisar em conjunto as causas e as possíveis implicações de qualquer problema que surja nestas curiosas e vetustas máquinas à beira da estrada. E sujam as mãos até resolverem. O Miguel ouve os mestres com atenção e participa activamente nos comités de crise informais, com deferência mas também com sentido crítico. E executa sem medo.

E eu ?

Fotografo.

Exactamente aquilo que os meus amigos não querem ou não sabem fazer.

E valorizam.












































quarta-feira, 5 de julho de 2017

Galizastúrias (IV)




Para além do gozo que dá manejar e controlar um aparelho fotográfico, dos mais simples aos mais complexos, há muitas outras recompensas que a fotografia pode proporcionar.  

Uma das vantagens óbvias da fotografia que é muito percepcionada é a possibilidade de podermos estender a viagem para além do período de tempo em que estamos fisicamente a viajar.  

O facto de podermos revisitar, ainda que passivamente e sem interacção, pessoas e situações, mas especialmente lugares, cria um reforço de memória que nos ajuda a empurrar informação e sensações para aquela zona do nosso disco rígido que falha menos.

É um factor que eu valorizo na fotografia, até porque tenho uma memória fraca. E não é irrelevante saber que posso, de alguma forma, ajudar a iluminar essas zonas da memória de modo a que informação que gostava de guardar passe a fazer parte de mim, e me saia com naturalidade, mesmo quando não tenho outros recursos a ajudar. Só porque quero e consigo lembrar-me. 

Acredito que a fotografia também tem um papel aqui.