quinta-feira, 22 de março de 2012

Na Pista



Parado à saída do pitlane, com o motor ao ralenti, e enquanto aguardamos ordem do comissário para avançar, estou estranhamente descontraído e relaxado.




Nas ocasiões em que me encontrei aqui neste mesmo pedaço de pista, em terreno quase sagrado para um devoto confesso do desporto motorizado, estava mais tenso e focado. Relembrei então ocasiões em que arranquei deste mesmo pitlane, em especial duas: uma corrida com um Super Kart nas mãos, à chuva, de pneus slicks, ou a mais memorável boleia da minha vida, em 2003, com Jean Ragnotti ao volante do Renault 5 Maxi Turbo vencedor do Tour de Corse de 1985.

São apenas duas das memórias vivas que ajudam a explicar porque motivo o Autódromo do Estoril é e será sempre especial para mim.

Desta vez, a descontracção reina. Vamos para a pista num grupo de pouco mais de uma dezena de Vespas, verdadeiro peixe fora de água. O evento é o Estoril Experience Day dedicado também a clubes, na boa tradição inglesa de track days. Em boa hora o Vespa Clube de Lisboa se associou à iniciativa.

Pisar os quatro quilómetros e cem metros de alcatrão do autódromo em Vespa é algo bizarro. Foi aqui mesmo que se consagraram nomes como Lauda, Senna, Prost ou Mansell, em máquinas que na qualificação da era turbo na F1 atingiam cerca de mil cavalos. Um pouco mais do que os vinte e dois que estão à minha ordem na Bianca.




Saímos para a pista imediatamente após a curva um, e entramos num parque de diversões para gente grande. É um par de voltas sem pretensões, não é uma corrida, mas ninguém perde a oportunidade de enrolar o cabo. Nunca aqui tinha andado em duas rodas, pelo que é uma estreia para mim e para a Bianca. Infelizmente não tenho (ainda) uma GoPro, pelo que não há filme, e também estava demasiado ocupado a gozar a pista para fazer fotografias.

Em circuito, convém seguir regras mínimas de bom senso se queremos evitar palermices e dissabores. Mas alguns truques são mais específicos. Ao contrário do que acontece com as máquinas de quatro rodas, de moto ou scooter devemos esquecer que existem correctores, não devemos pisá-los em qualquer circunstância.

De início desfrutamos da pista num grupo compacto de Vespas nas curvas dois e três, antes de negociarmos a esquerda que constituiu a lenta curva VIP. Pela primeira vez desejei ter mudanças manuais na manete esquerda. No Estoril sou forçado a reconhecer que daria outro gozo.

À saída da VIP há que abrir a garganta ao acelerador na longa recta partida por uma ligeiríssima direita a fundo que nos guia até à parabólica interior, travando a descer bem depois da placa dos cem metros. Curva longa a subir e a atirar-nos para o exterior da corda, e nova descida em relevo natural para a curva da orelha. À saída mantemo-nos na mesma trajectória para inclinar sobre a direita e travar para acesso à subida dos ésses. Acelerador a fundo - vamos de Vespa ! - e saída para a esquerda de acesso à longa e difícil Parabólica Ayrton Senna, com várias linhas boas para explorar. É altura de acelerar a fundo logo que controlamos a trajectória à saída da curva para não pisar o corrector. Durante cerca de um quilómetro vamos em carga máxima, passando frente às boxes e à tribuna. Depois de passarmos pela bancada B a descida vai-se acentuando à medida que nos aproximamos de novo da travagem para a curva um. Nova volta em curso. Numa pista tudo é rápido e intenso. De Vespa é lento e divertido.





 


















domingo, 18 de março de 2012

Para Além da Serra (II)





Subitamente encharcado por visitas transcontinentais via link da Horta, entendi que valia a pena aproveitar a embalagem e mostrar mais alguns instantâneos da jornada da Serra da Estrela 2012. Boa viagem...   






























































quarta-feira, 14 de março de 2012

Para Além da Serra



Por contraste com a aspereza da meteorologia na ida à Serra da Estrela no ano passado, desta vez a montanha deu-nos tréguas e premiou com um sol primaveril quem se inscreveu cedo antecipando a queda de flocos de neve.

Reincidi na ida tardia, julgo que fui mesmo o último a chegar na noite de sexta-feira, perdendo uma vez mais o passeio de um dia aos ésses de Lisboa até às Penhas da Saúde. 




Aqui, o micro-cosmos do bar foi temperado, entre conversa, a queijo da serra e requeijão com doce de abóbora.

 
Sábado acordou já tarde, mas ainda muito a tempo do passeio colectivo com a tradicional subida à Torre. Seguimos para Seia em direcção à gastronomia formatada em Folgosinho. As delícias não estavam no prato, mas sim nas curvas da montanha esculpida, por uma vez secas e aptas a receber borracha das pequenas rodas em condições de atrito perfeitas.
















Para não variar experimentei mais algumas scooters, com destaque para a rápida mas assustadoramente destravada P125X do presidente João Máximo, uma séria concorrente ao prémio de "Vespa Mais Lassa Que Já Experimentei". Foi por uma unha negra que não destronou a já clássica raínha nesta classe, a congénere e orgulhosamente bamba P125X do Bob. 






São ambas máquinas que aliam a beleza que só a patine sabe dar, a traços de personalidade fortíssimos. Para as guiar em ritmo regular aconselha-se que, antes de colocar o capacete, degluta um comprimido para a ansiedade.


No regresso do almoço vi em directo e sem filtro a queda aparatosa do Kes & pendura, numa esquerda longa e traiçoeira, que deixou a P125X Oliva com mais cicatrizes do que autocolantes.










A adrenalina foi então baixando lentamente, à medida que a luz se amarelava sobre a encosta que se avista de Gouveia, antecipando uma subida ainda quente ao planalto das Penhas Douradas. O recurso frequente à manete esquerda das Vespa dava lugar agora à primazia para a capacidade de abrandar, em direcção à descida para Manteigas, teste maior aos travões de tambor da maioria das máquinas.






O negro da noite cobriu a serra e trouxe o genuíno frio de Março, que desceu sobre o aço das Vespa, de todas as cores, novas e velhas, reluzentes ou oxidadas.








Na Pousada a lenha ardia e convidava a não sair. Deitei-me cedo e saí também cedo no Domingo, dividindo a estrada com o Bob, para me despedir da Serra e fazer umas chapas, em mais uma máquina fotográfica acidentada e cheia de fita adesiva após uma queda devida a distracção.








Despedimo-nos na Lagoa Comprida, inverti a marcha e dei início ao regresso a solo, sempre por estrada nacional, evitando a A23 e as respectivas portagens. Covilhã, Fundão, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, sempre com o azimute na N18.


Nas Portas de Ródão encostei junto à ponte para almoçar duas maçãs. Tinha pela frente as melhores curvas do dia na ligação a Nisa, onde aproveitei para confirmar que o novo pneu da frente da CN, o Dunlop Scootline SX01F, se segura como osga em parede.




Gavião viu-me passar na casa dos noventa, ganhando balanço no início das rectas da N118 até fazer uma tangente a Abrantes. Cumprimentei o rio Tejo à direita e segui para sul, na direcção da Chamusca. Queria ver a bela ponte encarnada sobre o rio para acesso à Golegã. Demorei-me um pouco a observar e percorri a ponte nos dois sentidos.



Voltei à N118 e desci até ao Porto Alto, cruzando o Tejo a partir dali. Do lado certo do Rio, ainda tinha curvas, mosquitos no ecrã e um depósito quase vazio até casa. Nos eventos longos do VCL, a CN é a companhia certa para partilhar os momentos simples de gosto pela estrada. Mesmo quando quase não se avista neve.