domingo, 25 de agosto de 2013

Folha em Branco (II)





O que é que define uma saída perfeita em scooter ? Tempo. Liberdade. Tudo o resto é conjugação das nossas referências, da curiosidade, do desejo, de um impulso. Para produzir uma experiência. Nem tudo está pré-determinado. Gosto de acreditar que algum livre arbítrio ainda pode habitar-nos nem que seja por um dia. Desde que acordamos até adormecermos. Que nem tudo é agenda. Mesmo quando o que está na agenda nos é agradável e nos realiza. 


O que me seduz na saída perfeita é mais do que isso. Talvez seja a susceptibilidade de produzir uma experiência que não estava programada de véspera, que vai sendo construída à medida que o relógio avança, e que no final, quando fazemos o filme do dia, excede expectativas. Que é gratificante por aparentar ser construída por uma sucessão de pequenos impulsos ou acasos, de pequenas decisões não previamente programadas que mudam o curso dos acontecimentos. Para sempre.


Podem ser actos simples e banais. Como decidir se regresso por Alcácer ou por Tróia em cima do desvio. Como estar em Alcácer do Sal a degustar a gastronomia alentejana, sem razão prévia ou aparente para ali estar, visitar a cidade sem pressa e absorver com disponibilidade o que me oferece, olhar o mapa, descobrir a proximidade do Lousal e dizer a mim mesmo que a seguir valia  a pena fazer mais umas dezenas de quilómetros para ir até ao Centro de Ciência Viva aprender e conhecer as minas. E ir.


Esta oportunidade de encadeamento de decisões representa para mim um raro luxo. Acontece. Experiencio. (Sinto-me) Vivo.



















































segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Quase Seis Décadas




Cinquenta e nove anos de actividade ininterrupta do VCL, completados a catorze de Agosto e comemorados no feriado de quinze, num lento e suave passeio com quase cinquenta Vespas desde a sede, na Avenida Infante Santo em Lisboa, até à Praia das Maçãs, em Sintra.


O ambiente estava agradável, o espaço junto à praia e com vista privilegiada era simpático, e estiveram cerca de cem pessoas no almoço. Entre associados, antigos dirigentes, novas caras, famílias e mesmo crianças já aspirantes a Vespistas, numa mescla descontraída e heterogénea que auspicia bons novos ventos para o tempo que aí vem. Eu estive particularmente preguiçoso com a máquina fotográfica.







A neblina abafada ajudou a conter os efeitos nefastos da exposição solar, e a sangria, a conversa e a música foram desaguando devagar até meio da tarde, em perfeita sintonia com o lento passeio matinal. Aliás, essa lentidão foi especialmente notada por dois pormenores: nunca me lembro de me entreter a contar e a comparar com as outras GTS o número de vezes que a ventoinha disparou durante um trajecto; e o facto de, sem paragens, um ciclista que passou por nós na Guia, em Cascais, e que ultrapassámos na longa subida para a Malveira da Serra, ter chegado pouco depois do momento em que estávamos  a estacionar na Praia das Maçãs. Certifiquei-me que não era o Chris Froome. 











Para o ano comemorar-se-ão sessenta primaveras do mais antigo clube português em duas rodas. Um ano para talvez projectar algo especial, que revele a vitalidade de um clube que é mais do que isso: uma verdadeira instituição.

domingo, 18 de agosto de 2013

Vespalogy e a Fibra de Carbono




A Vespa aproveitou a boleia da 946 para refrescar o seu site internacional. O sítio está graficamente bem esgalhado, embora demasiado cheio de referências a ícones de moda, com pouca história e ainda menos técnica. Nunca fui ao site da Louis Vuitton, mas não deve ser muito diferente. Seja como for, assinala-se que o site vai sendo alimentado com alguma frequência com material novo e, por vezes, com interesse como é o caso do bom vídeo Vespalogy.


A matriz desta página rejuvenescida está, assim, em linha com os valores e estilo que a Piaggio parece querer imprimir na sua marca fetiche: aquele espírito "Martini Terrazza", ou seja, muita festa,  poucos quilómetros. Eu tendo a embirrar, mas no fundo não consigo condená-los. Percebo a lógica, e até tolero bastante bem este lado glamour, não deixando de reconhecer que também tenho os meus dias em que me apetece alinhar na onda e comprar, num impulso consumista, um capacete Vespa azul squadra azzurra com a bandeira italiana, embora não precise dele. Mas, no final, a balança pende sempre para os quilómetros e as sensações na estrada, em detrimento da conversa no terraço.


Dito isto, dei uma vista de olhos mais detalhada aos catálogos destinados às Vespa automáticas, quer os oficiais, quer o catálogo da SIP. Queria ver com mais atenção o banco individual ou Corsa para a minha Bianca que a própria Vespa disponibiliza, até porque eu ando sempre a solo na Bianca, o que me parece uma boa desculpa. A minha mulher chama a este tradicional espaço de tempo que antecede uma compra, o meu período de mentalização. No meio da busca pelo tal banco encontrei, com algum espanto, uma série de peças avulsas para a GTS que são nem mais nem menos do que tampas, frisos e protecções em fibra de carbono. Ou carbon look, na expressão oficial dúbia e sem qualquer aviso complementar visível.







Na primeira metade dos anos 80, quando eu comecei a ver Fórmula 1, os chassis eram feitos de alumínio. Pouco depois, com o McLaren MP4, chegou a revolução da fibra de carbono, um material altamente exótico e dispendioso, apenas disponível na competição motorizada de topo ou na aviação. Lentamente a fibra de carbono foi aparecendo em alguns super carros mais exclusivos. Actualmente, podemos encontrá-la em tacos de golf, raquetes de ténis, e até a minha bicicleta de estrada de gama baixa tem uma forqueta em carbono.


Sucede que aí o carbono desempenha uma função tecnicamente diferente do aço ou do alumínio, comporta-se de maneira distinta e tem vantagens directas em termos de peso e performance, embora possa discutir-se se não serão marginais para os resultados obtidos na vida real. 


Mas quando a fibra de carbono aparece, como produto de catálogo oficial, numa crista de um guarda lamas, ou no friso inferior de um balon de uma GTS, ela não cumpre qualquer função, não tem qualquer efeito real ou imaginado, a não ser, e isso é seguro, o mais do que discutível aspecto estético. Nem sei o que é pior. Se uma peça em fibra de carbono totalmente inútil, ou se uma película de vinil que pretende ser o que não é. À desvantagem da falsificação opõe-se - presumo - a vantagem do preço. Em qualquer caso, é a aparência que interessa. Ressalvadas as devidas distâncias, não estamos assim tão longe da conversa do terraço.

  
 Imagens: Vespa.com (1) e Scootercrazy.com (2) (3).

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Folha em Branco



A minha agenda tinha um buraco branco de norte a sul do dia de ontem. Atestei o depósito da Helix e peguei num mapa em papel. Escolhi o sul. Andei de barco e fui a um museu. A sério. Cheguei a casa de dia. Quando desliguei o motor da Helix tinha acrescentado quatrocentos quilómetros ao odómetro. O planeamento só atrapalha.

  







segunda-feira, 5 de agosto de 2013

2ª Regularidade Moderna - VCL







O relógio está oficialmente em marcha. A publicação do cartaz dá início à contagem decrescente para a 2ª Regularidade Moderna do Vespa Clube de Lisboa, a realizar no próximo dia 14 de Setembro na região Oeste, com o controlo horário de partida instalado na cidade de Torres Vedras.

Os mapas já estão riscados e de novo dobrados, o planeamento já sofreu vários ajustes e o trajecto está escolhido. A esta distância os locais de controlo não estão definitivamente marcados e boa parte das indicações a constar do road book ainda não saíram do meu lápis.

Certo é que vamos ter provas de regularidade mais longas do que as  que tivemos na primeira edição, obrigando os concorrentes a dispersar a sua atenção durante mais tempo pelo relógio, pelo road book  e pela condução, sem esquecer a paisagem que mescla com equilíbrio os ares serranos com a maresia, ao longo do município que se estende pela maior área geográfica de todo o distrito de Lisboa.

O que se mantém igual a 2012 é a média horária preconizada, fixada ao longo do percurso nos quarenta e cinco quilómetros por hora. Já vi ciclistas com médias superiores em contra-relógio, mas sou capaz de apostar que nenhuma Vespa se apresentará no controlo horário de chegada com a carta de controlo a zero. O que só valorizará o desafio proposto pelo VCL a máquinas e condutores. A desculpa perfeita para tirarem a vossa Vespa da garagem.