quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A Montra de Milão - EICMA 2015 (II)





Depois de uma troca de emails sobre a antecipação das novidades Ducati e Guzzi para 2016, e da revelação das sensações de condução de uma inesperada intrusa, a MT-07 da Yamaha, o Paulo Simões Coelho achou que o processo de aquisição da substituta da sua Monster arrefecida a ar estava a tornar-se deliciosamente confuso. Estávamos em Setembro, e a ideia de ir a Milão surgiu-nos quase em simultâneo. "E se fôssemos à EICMA ?".

Claro que ninguém vai verdadeiramente tirar dúvidas à EICMA, mas é uma boa desculpa para passar um fim de semana a ver motos entre amigos, no mais relevante salão de duas rodas à escala planetária, em troca de dois vôos e um hotel minimalista, ambos low cost, e secundados pela boa comida italiana.

Para fazermos a coisa em estilo só faltava um Maserati para ir visitar os lagos a norte de Milão. Esteve previsto e até pensámos que nos seria entregue em overbooking um Maser azul claro metalizado estacionado no rent a car. Infelizmente, apenas a cor e a nacionalidade do automóvel era a desejada: entregaram-nos a chave de um asmático Fiat Punto, cuja cor, afinal, viemos a descobrir que está na berra em Milão.

Tirando esse detalhe automobilístico (a rever numa futura deslocação), tudo correu como planeado. Desta vez o lago escolhido não foi o Como, mas o Maggiore, onde o estilo de vida italiano parece estar sempre arredado de qualquer preocupação, especialmente se o dia for de sol, com os Ferrari ou as MV e Ducati a sairem à rua, para a esplanada ou a caminho da neve alpina, a apenas algumas dezenas de quilómetros.








E a Feira, como a encontrei ? Para além dos nichos de alta costura ou margens da indústria (Paton, Horex, Mondial, CCM), e por comparação à minha anterior visita, em 2010, nota-se uma transformação significativa no que o mercado oferece.

Em primeiro lugar destaco o boom das Scramblers e das Café Racers, com o culto da personalização dos modelos e, mais do que isso, da customização das motos de acordo com os catálogos que as próprias marcas comercializam. É um mercado demasiado atraente para as marcas e para as suas margens para ficar nas mãos apenas dos especialistas, que também têm o seu espaço, e às vezes são trazidos para dentro das marcas como anzol (Faster Sons é um exemplo).

Não agrada apenas aos hipsters e aos seguidores de tendências de moda, mas aos motociclistas mais imunes a este tipo de oscilações ao estilo agora-vamos -todos-comprar-este-tipo-de-moto

Em segundo lugar, penso que este movimento, que já vem de há um par de anos, sublinha uma tendência, essa mais antiga, de um certo envelhecimento da população motociclista, que não é suficientemente compensado pelos efeitos, nalguns mercados, da Directiva 125. 

Os motociclistas estão mais velhos, e isso significa uma maior tendência natural para a nostalgia dos produtos que apelam à memória, aos modelos que inspiraram épocas como as décadas de 60 e 70, que muitos deles nem sequer viveram, mas têm tendência para olhar para elas através das lentes (e lendas) douradas das grandes referências do passado. 

O terceiro factor é de índole mais económica e legal, e interliga-se com estes dois: a redução das cilindradas. 

Por um lado, as motos mais pequenas são mais racionais nos custos, na manutenção, na aquisição (embora não muito) e permitem trazer mais cedo para as marcas os clientes novos no mercado (BMW, KTM, Ducati). 

Por outro, uma moto mais pequena admite algum descanso na hora de olhar para os pontos na carta de condução e, novamente, muitos dos mais velhos também já não têm a mesma genica nem necessidade de adrenalina que tinham aos vinte anos. Este é o lado mais racional do utilizador, mas que pode trazer grandes números e volume às marcas (veja-se a KTM já, e a Ducati e a BMW dentro de um par de anos).
















O mercado das motos é sui generis. A paixão é muito frequentemente fundamental nas motivações de compra e nisso diverge muito, por exemplo, do negócio automóvel, onde os argumentos racionais têm maior peso. A moto (e a scooter) continua a ser um negócio emocional.

Como costuma dizer o Paulo, é bom "comprar motos na cabeça". Não há melhor sítio no mundo para o fazer do que em Milão.





Imagem nº 5: Paulo Simões Coelho

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Castanhas no Vespa Clube de Lisboa




No Domingo o Vespa Clube de Lisboa convocou sócios e amigos para arrastar o São Martinho até à sede na Avenida Infante Santo. As castanhas e a água pé estiveram ao nível do melhor clube do mundo, e até deu para um pequeno passeio pela cidade de sonho que é Lisboa, até ao Miradouro do Jardim do Torel. A mim soube-me ainda melhor este encontro e convívio despojado e simples, num dia de ressaca da tragédia de Paris. Obrigado Vespa Clube de Lisboa.






















Imagens 4 e 7 - João Máximo

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A Montra de Milão - EICMA 2015




 
 
Estamos a uma semana do grande certame mundial de motos, que todos os anos lança as novidades mais apetecidas para quem segue de perto o fenómeno das duas rodas. 
 
De 19 a 22 de Novembro, Milão será o epicentro dos sonhos e desejos motociclísticos de 2016. 
 
Para as marcas europeias este é o salão por excelência, e muitas das marcas do oriente também apostam forte aqui. Todos acertam agulhas para destapar as novidades mais relevantes das suas gamas em Milão.
 
Estive lá em 2010 e foi uma experiência que me encantou. A qualidade e variedade do certame, a dimensão, o pulsar das novidades e a atenção das marcas são únicos. Para quem nunca tinha estado num salão de motos fora de portas e está habituado à realidade portuguesa, a EICMA é uma overdose. Não tem comparação com nada do que já tivesse visto antes. 
 
Este ano vou regressar à EICMA, desta vez com o Paulo Simões Coelho. Duvido que o salão me impressione tanto como da primeira vez, mas julgo que o meu entusiasmo,  interesse e curiosidade pelas duas rodas não esmoreceu desde então. O que só por si já justifica a visita.
 
Veremos o que as marcas nos reservarão. Esta última semana é habitualmente muito agitada com os pré-lançamentos das novidades.
 
Prometo que levo comigo a máquina fotográfica. 
 
 
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Terapia ao Sol em Vermelho e Preto (II)






É curioso como o digital quase esmagou a expectativa que se seguia a uma sessão de fotografia em película. Até à revelação nunca se sabia exactamente com o que se contava. Podíamos ter um resultado melhor ou pior. Mas ele sempre foi medido em função da nossa própria expectativa, o que dava espaço para efabulações e conjecturas, e por vezes algum drama, em especial quando algo de errado acontecia à película.

Recordo-me sempre dos avisos nos contratos de depósito e revelação das películas, que diziam que se, por qualquer motivo, incluindo culpa do revelador, a película entregue fosse insuscetível de gerar fotografias, o laboratório apenas se obrigava a entregar um rolo igual. Felizmente nunca tive que discutir esta cláusula.
 
Seja como for, essa ansiedade própria do espaço de tempo entre o acto de fotografar e o acto de visualizar o resultado em papel, quase desapareceu com a omnipresença do digital. Ainda tenho num saco de material que já não uso um rolo de 1999 não revelado, que não sei como estará se o revelar hoje.
 
No digital, e por mais funcionalidades que a câmera que utilizamos tenha, ainda há um pequeno espaço para esse quase romantismo da espera. Mas alterado. É que nada substitui o impacto da visualização da imagem que criámos num suporte de dimensões generosas. E isso é impossível de conseguir no visor de uma reflex digital. Se quisermos  podemos ver um detalhe, ampliando. Mas perdemos a noção de conjunto, a definição de cor, até o enquadramento em proporções mínimas. Só temos o suficiente para poder dizer que não parece mal. Mas não há garantia de que esteja bem. E, nesse sentido, é uma parte da incerteza que existia na película.
        
No passado fim de semana  senti um pouco isso com as imagens em relação às quais tinha mais expectativa. O plano das duas  LML a subir a  rampa na praia da Calada tinha várias possibilidades. Imaginei logo quatro ou cinco tomadas de vista que permitiam jogar com os desníveis, as texturas do fundo, com o mar e a escarpa abrupta da serra, a luz muito tensa, com um efeito de quase nevoeiro. Tinha uma expectativa alta e confesso que gostei do resultado das duas primeiras imagens que aqui partilho, bem como da fotografia de abertura do post anterior a este.
 





 
 




segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Terapia ao Sol em Vermelho e Preto






Ver gente na praia a tomar banho de mar em Novembro não é habitual. Pelo menos por aqui. Porém, a conjugação de temperaturas amenas com um sol radioso de Outono trouxe-nos uma janela para a fotossíntese.

Em vez de praia, preferi aproveitar para combinar um passeio de scooter. De repente, uma manhã disponível para gozar a Bala implicava apenas sacrificar sono, o que já me parecia uma oportunidade a não desperdiçar. 

Só a possibilidade de começar a descontar algum lazer na conta corrente de trabalho acumulado já me fazia sorrir. Céu azul e abrandar foram expressões que raramente casei na minha realidade quotidiana dos últimos dois meses, o que fez delas urgências para restabelecer algum equilíbrio.  









Depois de uma troca rápida de e-mails, a Bala teve a companhia de uma outra LML 200, a do Paulo Castanheira. Depois de um Lés a Lés e quase cinco meses enclausurada numa arrecadação debaixo de livros e outros pertences do Paulo, a LML vermelha viu a luz a caminho da Oldscooter para uma rápida intervenção de rotina.

Um dia depois estava em Mafra, local de encontro e partida para um passeio sem rota definida, mas que acabou por não andar longe dos cem quilómetros. Apetecia andar de moto. Esta zona Oeste tem esta particularidade: num raio de cinquenta quilómetros, e conhecendo (ou descobrindo) os sítios certos, temos tudo a passar-nos à frente do ecrã : mar, serra, mundo rural e  estradas suficientemente curvas.

As fotografias mostram apenas uma parte do que pode ver-se num passeio de umas horas por estes cenários.

Sobre a comparação de uma LML 200 com uma LML 221, vão ter que esperar por um próximo post.











domingo, 1 de novembro de 2015

A Bala






...E a nova scooter é... (som dos tambores)... outra LML ! (som de palmas e algumas vaias)...

O mecanismo de decisão de compra foi contrário ao que utilizei quando fiquei com a 150 verde. Para a Azeitona resguardei a possibilidade de rapidamente me arrepender e mantive durante uns meses largos a Honda CN em paralelo, até me sentir preparado para essa libertação de uma japonesa quase perfeita.

Com esta LML foi diferente. Apareceu no meu radar via Duarte há um pouco mais de um par de meses, e encaixava na perfeição no que pretendia. Uma LML quase nova, com o motor que queria, o 200, e com mais algumas vitaminas adicionais para escalar andamento com as Lambretta e as Vespa mais espevitadas dos meus companheiros de Lés a Lés. 






Havia apenas que confirmar que as anfetaminas não afectavam de forma muito desproporcional o consumo e, muito em especial, sem tornar a autonomia ridícula. Os testes que o Duarte foi fazendo no final do Verão garantiram resultados dentro das previsões nesse capítulo, pelo que avançámos.

Em cerca de quinze dias vendi a 150, já com esta 200 segura no meu futuro portefólio. 














E o que é que esta máquina tem de diferente ? Em primeiro lugar está realmente nova, sem ferrugens nem toques, que eram abundantes na 150. E depois tem um motor bastante diferente. Com uma capacidade para scooter touring significativamente maior, sem perder uma grama do que de bom tem este desenho.

Acresce que dentro do 200 encontramos um Polini 221, com o também italiano carburador azul certo, carreto e, por fim, o escape Giannelli. Tudo material de primeira, numa scooter praticamente em rodagem. Veio parar às minhas mãos com dois mil quilómetros feitos desde que saiu do stand.

Ontem fez a viagem da Póvoa do Varzim para casa, cerca de trezentos e cinquenta quilómetros, sem pressas. Tirei os maus Dunlop que trazia de origem e escolhi outros, da mesma marca, mas bons: os Scootsmart. O Mestre Ribeiro fez a troca e entregou-ma já calçada de fresco. Entretanto já o Hugo Reis tinha ido buscar-me ao comboio em Gaia. A viagem até à Póvoa deu para pôr alguma da conversa em dia, depois do sono leve proporcionado pela nossa ferrovia no comboio desde Lisboa. Foi neste contexto de dia exclusivamente dedicado ao bom lazer, com um céu negro com algumas abertas mais a sul, que fiz os primeiros quilómetros desta nova aventura. A minha sexta scooter. 

É preta, banco creme, jantes pretas. A minha filha já a baptizou: parece uma Bala. 

Segurem-se.