domingo, 13 de maio de 2018

Paris






Em Paris durante uma semana, tive oportunidade de tomar o pulso aos desafios de mobilidade e aos hábitos dos motociclistas no centro da cidade luz.

Durante este período confirmei algumas ideias que trazia, de uma observação à distância, e pude ter uma visão mais clara sobre outras idiossincrasias da realidade parisiense, no que à utilização de motociclos diz respeito.

Não espanta que a utilização de motociclos seja intensiva no centro da cidade, e não posso falar aqui dos acessos suburbanos, realidade com que não me cruzei, excepto nas viagens ao aeroporto.

Sendo uma das cidades mais caras da Europa, e com um rendimento per capita substancialmente elevado face à média europeia, praticamente só se vêem motos (melhor, scooters) práticas. Este facto vejo-o como um sinal de maturidade do mercado. A moto, aqui, é comprada mais em função do que se precisa, e menos em razão do desejo.

Embora já o tenha feito, quando não tinha outra moto, sempre achei que não vale a pena andar quotidianamente com elefantes na cidade, motos do porte das grandes turísticas, ou das maxi-trails, tão em voga em Lisboa por exemplo.

Em Paris, durante este período, contam-se pelos dedos de uma mão, por exemplo, as BMW GS que vi, e duas estavam juntas na mesma esplanada.

Mas é claro que se vendem GS (e outras maxi-trail) em França, e em grande número. Encontro três explicações possíveis, nenhuma delas excludente das outras: ou não estão na rua, entre outras por razões de segurança, e estão guardadas em garagens; ou os seus donos usam outras motos ou scooters no seu dia a dia; ou no centro de Paris não vale a pena ter motos deste porte e vendem-se menos aqui, vendendo-se mais em outras regiões do enorme território francês.

Certo é que, da observação na rua às motos estacionadas ou em circulação, Paris se rendeu claramente às scooters e, dentro destas, a um grupo específico, o Piaggio.








Na verdade, não exagero se disser que em cada dez motos, cinco são Piaggio ou do grupo. À cabeça, a MP3 nas suas várias declinações. A explicação penso que é fácil: o piso no centro da cidade é maioritariamente constituído por empedrado, e as vantagens de ter duas rodas à frente são imbatíveis num contexto com esta exigência. Nunca vi tanta MP3 junta. E vi mais Quadros, de três e quatro rodas, do que Tricitys, a alternativa da Yamaha à MP3.

E a seguir à MP3,  qual é a scooter que mais se vê? X-Evo e X8 (!). O número de X-Evo (mais) e X8 (menos), que são, com poucas alterações, a mesma scooter, é impressionante. Muitas bem cansadas, mas não andam muito longe do número de MP3. Ao contrário de Roma, Barcelona ou Atenas, por exemplo, em que a roda alta é raínha, aqui não se vêem Beverlys ou Scarabeos. 






A par das Piaggio encontrei também muitas T-Max e X-Max da Yamaha.

De resto, e na categoria de scooters mais exóticas, cruzei-me com mais de uma dezena de BMW eléctricas.

Nas partilhadas, há pelo menos dois tipos de scooters disponíveis, ambas naturalmente eléctricas.

Se esta distribuição parece favorecer a utilização prática em detrimento de algum exibicionismo associado à moto grande, talvez esse comportamento seja revelador não só das prioridades de consumo mas, e sobretudo, das dimensões dos egos e necessidades de afirmação de uns e de outros.