Em recolhimento obrigatório é mais difícil gozar um dos bons prazeres que a vida nos proporciona: andar de scooter.
O confinamento a um espaço pequeno, que se perspectiva poder durar vários meses, é algo de anormal. Para nós inédito em tempos de paz, e seguramente de memória longínqua para quem nunca esteve num teatro de guerra ou tem menos de setenta anos.
Qualquer restrição à liberdade individual parece intolerável, não só para quem a dá por adquirida - em especial os mais novos - , mas também por aqueles que por ela tanto lutaram. Mais do que intolerável, às vezes parece insuportável. E ainda só passou uma semana.
Não é que o tempo não passe, ou que não exista trabalho. Existe, chama-se teletrabalho e nem é por estarmos sistematicamente com um olho na televisão à espera das últimas notícias.
A verdade é que a liberdade nos faz tanta falta. E só estamos a falar da liberdade de nos movermos para onde nos apetecer. Uma pequena parte das liberdades fundamentais.
Mas talvez a que mais colide com esta coisa estranha de gostar de deambular por qualquer que seja a geografia sentado em cima de um engenho com duas rodas a motor.
As coisas vão melhorar. Mas vai levar tempo.
As scooters estão ambas em bunkers. A Bianca está longe agora. A Sogni D´Oro está perto, mas não lhe posso lançar a mão na garagem que tem acesso interdito.
Se pudesse escolher um último depósito antes que me apareça a mensagem game over na televisão… escolhia a Lambretta.
Exactamente porque é a que me dá a sensação mais crua e intensa de liberdade.
E vocês ?
4 comentários:
Quase sem saber, há dias, fui dar o ultimo passeio em duas rodas antes deste "intervalo"e a premiada foi a Transalp.
Se o tivesse de fazer de forma consciente e antes de um "Game Over", escolheria a Heinkel sem hesitar. De fácil explicação para quem as conhece. Para os outros informo que se trata de um veiculo que está na família há 60 anos. Entre outras coisas. Mereceria esse tratamento.
Sempre se falou muito em Apocalipse por blogs Vespistas, ainda que não neste, mas de facto a actualidade assim o merece.
Gosto desta dinamica nova de deixar questões, para provocar os leitores a responderem e a inter agirem neste canal. :-)
Pelo que me toca, como utilizar o ultimo deposito seria sempre uma escolha difícil.
Passando a heresia e de um modo meio racional, acho que iria para um veiculo de 4 rodas. Com uma estrada vazia 45 litros de gasolina serviriam para uns 500 km de prazer. :D
Mas talvez por estar confinado a pouco mais de 4 paredes suge-me desejo de ir aos encontro da natureza e fujir do asfalto. Aí a escolha recairia na LML 200 que, como trator que é, me levaria por muito maus caminho facilmente e sem se queixar. Abraço
Com uma Vespa (e depois de uma LML) e uma outra montada na garagem, o último depósito teria claramente de ser para a Vespa, mesmo fazendo metade dos km. Idealmente pelo alentejo fora, onde o ritmo pachorrento da PX e as estradas tipicamente em boas condições permitem apreciar a tranquilidade da paisagem.
hum... um último depósito? Essa é difícil! sinceramente, entre os cerca de 400km prometidos pela NC e os menos de 200 que a Vespa permite não sei qual escolheria... se calhar ainda preferia atestar "o meu depósito" com um bom pequeno-almoço e pegava na bicicleta :)
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