domingo, 15 de junho de 2014

Lambrélix - Lés a Lés 2014 (II)





Mais instantâneos da viagem para desenrolar em formato de road book
























Imagem nº 12: Hugo Reis

sábado, 14 de junho de 2014

Lambrélix - Lés a Lés 2014





Já aqui estivemos antes e sabemos ao que vamos. Pela primeira vez em sete anos tinha a sensação de que 2014 seria um ano bom para faltar ao Lés a Lés, para fazer uma pausa. A décima sexta edição propunha-se, pela primeira vez, rolar em grande parte junto à costa atlântica, em vez de explorar territórios do interior. Pensei que seria muito mais difícil surpreender e ver o que os meus olhos ainda não tocaram. Não me enganei. Fizemos alguns troços mais enfadonhos e ligações de trinta, quarenta quilómetros, quase tenebrosas de feias. Mas as surpresas - que as houve - foram preciosas e pesaram na balança bem mais do que as limitações de uma edição que, provavelmente, teria mesmo que fazer-se assim.









São várias as razões por que é tão difícil desligar do magnetismo que a prova exerce sobre as minhas opções, que sintetizo numa palavra: conceito. Endurance, estrada por pelo menos doze horas por dia, descoberta, pinceladas culturais na medida certa. A estes ingredientes convém adicionar o sal que faz do Lés a Lés a receita imperdível, mesmo em anos previsivelmente menos dotados: scooters improváveis e fortes laços de amizade.




O Rui, o mais conhecedor e eclético scooterista nacional, decidiu levar a Lambretta de coração laranja. Talvez inspirada pela companhia da Helix, a veterana italiana não resmungou uma única vez e foi, nas mãos do Rui, e com grande avanço, a scooter (ou moto) com mais classe que subiu os três palanques, em Lagoa, Peniche e Gaia.    








Uma das diversões maiores era acordar o motor a toque de batuta de maestro, em coordenação perfeita entre as ordens do condutor da Helix, executadas pela orquestra composta pelo kick e controlo do acelerador do Rui na Lambretta, e as goelas do Jetex. Qualquer momento de paragem era uma boa ocasião para mais um número de sincronia e uma ode à sinfonia. Os nossos sorrisos quase infantis e os comentários que se ouviam pelo rádio nos capacetes, eram só mais uma prova do quão simples - e fora de moda - podem ser estes prazeres. 






A Lambretta, apelidada pelo Rui de Handa Nagazoza, foi a estrela maior do evento e provou ser merecedora do número um que, infelizmente, não foi possível conseguir, em favor de oito equipas nas indestrutíveis motorizadas nacionais, este ano quase todas restauradas. Continuo a pensar que a organização devia isentar o Rui do preço da inscrição por levar scooters como esta num evento tão massificado pelas BMW GS, com quase quarenta por cento do parque de motos a pertencer à casa alemã.






A par da Scuderia Sereníssima, com o número nove, viajaram connosco o Paulo, na PX 177, e o Miguel, numa SYM GTS 125, como equipa número dez.






O Paulo fez o Lés pela segunda vez e provou que o seu nível de intimidade com a PX 177, a sua Luíza com "z", não esmoreceu. A Vespa chamou a atenção do grupo e atrasou-nos durante a primeira parte da primeira etapa, concedendo-nos a oportunidade para "lições de mecânica na estrada sob calor escaldante", partes I e II, sendo que a parte III ficou reservada para o parque fechado em Setúbal, já depois do almoço. Humor refinado, resistência acima da média e dotes mecânicos fazem do Paulo um scooterista que qualquer equipa quer ter.






O Miguel foi a surpresa da edição deste ano. Com nove meses e menos de quatro mil quilómetros de experiência, este scooterista emergente da directiva das 125 sentiu-se seguro e à vontade no ritmo e nas exigências da prova, e provou o meu ponto há anos: que com gosto pelas duas rodas, um pouco de jeito e intuição, o Lés a Lés está ao alcance de qualquer um, em qualquer moto.        






quarta-feira, 4 de junho de 2014

# 9





Últimos preparativos para a viagem rumo a Lagoa, no Algarve, para a partida do Lés a Lés. Este ano com o número nove. Dois mil quilómetros em perspectiva.

O dia zero é um dia descontraído,  de deslocação até ao local da partida, com pouco mais de trezentos quilómetros de horizonte, sem horários a cumprir.
 
O Rui virá do Porto com cerca de trezentos quilómetros a solo na Lambretta, finalmente pronta. Juntamo-nos todos em Lisboa, sem um plano fixo de viagem. Por mim almoçamos peixe, junto à costa. Mas com scooters com cinquenta anos de idade no quarteto é mais prudente não planear a este nível de detalhe. 
 
Esperámos meses por estes dias. Pelo passeio em agenda, pois sempre são cinco dias seguidos, pela amizade que nos liga, pelo prazer que estas máquinas já mostraram ser capazes de nos proporcionar, quer na estrada, quer na garagem a prepará-las.
 
E pela cumplicidade que cada um de nós tem com aquela amálgama de aço, plástico e borracha a que chamamos scooter, e na qual confiamos, com doses variáveis de fé, para nos guiar ao fim do desafio.
 
Em alguns momentos da viagem a scooter será bastante mais do que uma máquina. Sofrerá, esforçar-se-à. Terá até coração. Ouvirá e perceberá confidências que vamos dizer dentro do capacete, sem que mais ninguém ouça. Poderá amuar e fazer birra. Poderá ser uma heroína. Como se tivesse alma. 
 
Em 2014 o Lés a Lés será um desafio especial para o Rui, que completa este ano o seu trio de scooters na prova, depois da Heinkel, e da Vespa. Todas elas com muita história atrás de si. Com a Heinkel foi quase fácil, com a T5 foi esquizofrénico. Com a Lambretta, veremos. Na ausência de outras Lambretta em 2014, a Handa Nagazoza será a mais bela scooter a cruzar o mapa de sul para norte de Portugal por estes dias. No dia dez saberemos se esteve à altura dessa beleza.
 
Imagem do Lés a Lés 2013, adquirida à organização
 
 
  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pré-Prólogo






Em jeito de prólogo do Portugal de Lés a Lés, três quartos do grupo destacado para rumar a sul já no próximo dia 6 de Junho decidiu reunir-se para uma tarde de scooterismo de estrada, depois de semanas de scooterismo de garagem e solidão com ferramentas, para uns, e de scooterismo de internet para comprar as últimas peças, para outros.








Encontro marcado para Torres Vedras, numa tarde amena, com vários e aleatórios pretextos na agenda: enquanto o Paulo tinha terminado de montar a Vespa PX na véspera e precisava desesperadamente de a testar, por impossibilidade de o fazer até dia 6, o Miguel estava aliviado por finalmente sair à rua vendo a Helix fazer o mesmo movimento desimpedindo a sua garagem. Eu estava a precisar de garantir que ainda sabia andar de scooter e desfrutar, vaidoso, a minha renovada Helix. Ao Rui, o elemento da equipa geograficamente desfavorecido pelo programa, contámos a versão oficial: íamos dar uma volta para testar os rádios. 














Ter três quartos da frota pronta a quinze dias do Lés a Lés é inédito e concordámos que merecia uma comemoração condigna. Decidimos reproduzir o percurso da última Regularidade do VCL, mas sem os troços de terra, e fizemo-lo quase na íntegra. Rolámos tranquilos, não caíram parafusos, os rádios funcionaram perfeitamente, e nem foi preciso esvaziar jerrycans - penso que já referi atrás que o Rui não veio. 


A Handa Nagazoza continua com uma instalação eléctrica para fazer. Deve ser das Lambrettas. No ano passado, por esta altura, a do Duarte era um caixote de peças. E foi a estrela que se viu. Nunca menosprezo uma Lambretta.   

          
















segunda-feira, 26 de maio de 2014

Starship





A Helix está de regresso a casa. Vários meses depois. 

A ideia não era restaurar a scooter, no sentido próprio do termo. A Helix tem sido extremamente fiável na minha mão, e tem sobrevoado serenamente estes quase vinte anos de vida sem dificuldades, apenas com revisões periódicas e substituição de peças de desgaste. Pela primeira vez, a ideia era renová-la também por fora. 

Hoje foi finalmente o dia de ver o efeito do pacote de alterações completo. Fiz um pouco mais de cem quilómetros nela e várias vezes tive a estranha sensação de que tinha uma scooter diferente nas mãos. E não foi só o efeito visual do azul. Valeu mesmo a pena.  


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Toy Story





A imagem permite múltiplas interpretações. A mais óbvia é a de que já gastei umas valentes massas com a minha Honda CN nos últimos meses. O odómetro desnudado serve como representação de uma antiga máquina registadora, não necessariamente em euros. O gigantesco zero no velocímetro significa que a CN ainda nem começou a andar. E os dois traços vazios na régua de combustível lembram-me que não posso ainda fechar a carteira. 

Tudo começou com pouco mais de meia dúzia de plásticos em kit, que me levaram a uma viagem por uma pintura em três actos, a um escape - a cuja aquisição resisti durante seis anos - , a um painel de instrumentos novo, passando por um jogo de pneus a estrear, afinações de válvulas ao milímetro, ou a pormenores como o revestimento de porta bagagens novo. Com paciência, fui recebendo as peças do Oriente, da Europa e, com a ajuda preciosa do Miguel, o puzzle foi ganhando forma outra vez. A garagem dele volta agora a poder receber o carro, depois de se libertar das carenagens azuis de um comboio de duas rodas.  

Ao longo dos últimos meses temos estado a seguir a odisseia da renovada Lambretta Li que o Rui Tavares preparou especificamente para o Lés a Lés deste ano. Piloto de fábrica, estudou e perguntou a quem sabia, e entregou a Lambretta a um preparador renomado, para reforçar as entranhas do seu motor com mais de cinquenta anos. Para que não haja dúvidas sobre as suas intenções, optou por lacar o seu motor de laranja, em representação do inferno que espera as pequenas e esforçadas peças de metal ao longo dos dois mil quilómetros da viagem.

Como o Rui, também o Paulo Simões Coelho se esforça por levar a PX com quase trinta anos pelo caminho mais difícil. A um par de semanas do arranque sabe que a Vespa não está perfeita, mas tem fé que aguentará. Para incrementar o índice de dificuldade decidiu partir um perno da tampa da embraiagem. Em vez de se irritar, viu nisso mais um motivo para enviar uma encomenda para o Fundão. Não à procura de cerejas, mas de um torneiro da velha guarda, com mãos de midas. Na véspera do arranque uma bobine de reserva aparecerá no saco via Manel, não vá a PX Luísa ficar com falta de energia na viagem. 

A ligar estas narrativas soltas estão conversas, cumplicidades, gargalhadas e emails ao longo de meses, nos tempos livres de cada um dos quatro. Nenhum de nós precisa das scooters para trabalhar. São histórias. Histórias de brinquedos.    


sábado, 10 de maio de 2014

Vimeiro







Quase um mês. Por várias razões, o acesso à garagem com vista a destapar a Bianca e expô-la à fotossíntese não foi possível durante quatro semanas. Não sei se é um máximo histórico negativo meu, mas se não é ficou a saber-me como se fosse. Sei que fiquei demasiado tempo parado. Noto isso quando me sinto perro nos primeiros minutos, a manobrar a scooter a sair de casa. O reajuste é rápido, os movimentos depressa se tornam naturais outra vez, mas o espaço de tempo desconfortável e de menor fluidez existe. E é um sinal. Também de trabalho a mais e lazer a menos.


O dia esteve fresco, ideal para me esconder nos tesouros desertos do Vimeiro, a pouco mais de meia hora de Lisboa. Aqui, e nesta altura do ano, a tranquilidade da natureza conjuga-se com a ausência quase total de humanos. Razão suficiente para explorar e observar o pequeno mas belo recanto perto do mar, um verdadeiro parque natural não oficial. A meias com a Bianca.