domingo, 10 de fevereiro de 2013

Combate ao Frio




Tenho estado em pousio, a cumprir apenas os quilómetros mínimos semanais aptos a manter as baterias em níveis aceitáveis. As minhas e as das scooters.


Quando olho para o calendário com linhas por trimestre, já consigo ver a ida à Serra da Estrela. Talvez animado por essa proximidade no horizonte dos meus dedos, não resisti a comprar uma manta térmica para as pernas para instalar na Helix. Sim, estou... amantizado :). Na verdade, já tenho há muito um avental daqueles à sapateiro, mas que apenas posso usar - e uso pouco - na Bianca. Devido ao seu formato não é possível utilizá-lo em scooters com os pés para a frente como a Helix. Quem vai passando por aqui sabe que a Bianca não tem sido a minha escolha para viagens, facto que se aliou a um preço tentador para resultar numa compra impulsiva, algo realmente raro em mim.


Hoje fiz alguns testes para verificar se o dito thermo scud funciona bem, e já percebi que tenho que melhorar o ajuste das cintas. Na Helix também não ajuda o facto de ter um travão de pé no ski direito e próximo da saída da plataforma, o que dificulta a fixação da cinta e potencia um desagradável risco de prisão indesejada do pé. Algo a que, por coincidência, estou ainda a habituar-me recentemente depois de comprar uns pedais de encaixe para a minha bicicleta de estrada.





A combater o frio, de pés mais ou menos presos, mas com vista para um horizonte que perspectiva novas viagens com o céu mais azul.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Enredo



Bela cena de época e do quotidiano inspirada na escola realista. Reparem no caminhar triunfal do homem da mala, enquadrado pelo vértice de Lambrettas em direcção ao exterior da imagem. Quase como se quisesse ser ele não apenas o protagonista, como também o próprio espectador da tela. É o único em verdadeira acção e movimento. Todas as personagens - e são muitas - sorriem e parecem observá-lo, ainda que alguns indirectamente, ou com menos atenção.


A primeira pergunta que fiz quando vi a imagem, antes mesmo de descortinar que modelo de Lambretta faz parelha com a belíssima Li 150, foi a de saber o que levará o homem de fato na mala. Os documentos da Li ?!? A declaração de venda ? Uma encomenda de gelados para o Brighton Coffee Bar ?!? Na minha primeira observação a mala é o objecto central, quase magnético, da tela.


Claro que, com tantas personagens, as perguntas vêm umas atrás das outras, como as cerejas. Qual o género do(a) fumador(a) de camisola branca e bolsa a tiracolo ? Feminino ou masculino ? E o ar suspeito do homem de fato à frente da montra, também ele fixado na mala castanha do homem confiante de fato cinzento ? O que pretenderá ? Não faltam pistas para um enredo a partir da tela de Trevor Mitchell.  
 
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

In the Sticks




Revisitando álbuns de imagens com o rótulo Bianca no assunto, apercebo-me, e com algum arrependimento, que raras são as vezes em que nelas aparece gente. Uma razão óbvia para esse facto é a circunstância de maioritariamente viajar sozinho. Outra poderia ser, talvez, o facto de me deslumbrar mais com a natureza em bruto do que com a própria natureza humana. Mas suspeito que esta última razão não será verdadeira. Não são muitos os perfis que aqui registo em imagens, mas talvez por conveniência conjuntural, ou até alguma timidez.

Registar as imagens deste e não de outro modo é frequentemente um jogo egoísta, em que gosto de me convencer que sou eu que dito as regras da gramática visual. Que faço o papel do maestro. Na verdade, é uma composição a três. Entre mim, a natureza ou alguma intervenção humana nela, e a máquina. A minha função é quase sempre atrás da câmara. Tenho a ilusão de que dirijo, querendo narrar a história. Mas há sempre um limite, um limbo invulnerável, como uma força psíquica na objectiva, na luz e na sombra, que nunca é verdadeiramente controlável. O que eu vi não é o que se vê na imagem. Nem a percepção de quem a interpreta ao olhá-la. 

Os perfis e os retratos são ainda mais complexos, e as histórias dentro deste género revelam um outro potencial. Sempre me pareceu que é aí que a câmara se pode transformar num microscópio.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Ventos e Vales




Entre vinhedos, parei. Era dali que tinha imaginado uma perspectiva diferente sobre a estação. Uns minutos antes tinha estado no apeadeiro, onde constatei que o relógio Paul Garnier desapareceu, como as pessoas que aqui vinham. O celeiro também. Restaram as tábuas, ordeiramente empilhadas junto à rede, como se para ali se deslocassem por acção misteriosa dos ventos. Já estive nesta estação dezenas de vezes, jamais me cruzei aqui com alguém. Ainda recentemente aqui estive, e ainda não tinha percebido que ali em cima, a uma cota um pouco mais alta na colina, entre as vinhas, corria uma estrada de alcatrão, estreita, entre postes eléctricos de madeira, dispostos em ângulos muito diferentes do ideal. Senti-me impelido a descobrir-lhe o ponto de entrada. Queria ver como seria a estação a partir dali. Quando, minutos depois, parei entre os vinhedos, estranhamente não fotografei. O amarelo torrado fundia-se com madeixas alaranjadas no apeadeiro. A luz do fim de tarde de inverno abatia-se numa linha sobre o telhado do edifício ainda digno. Senti uma absoluta desnecessidade de fotografar. E agradeci o deslumbramento das coisas simples. Esperei apenas que a sombra engolisse a estação. O cenário era perfeito, a metáfora da linha ferroviária como a linha do tempo, lá em baixo, entre vales, a correr da esquerda para a direita, e o apeadeiro quase ao centro, a representar o presente. À esquerda, o passado. À direita, o futuro, o que me falta viver. Não se fotografa o futuro. Todos sabemos que a câmara mente. O tempo todo.



domingo, 23 de dezembro de 2012

Helix na Motor Clássico




No número de Dezembro de 2012, a Motor Clássico deu à estampa mais um artigo do seu colaborador Hugo Reis, que vem escrevendo os textos mais refrescantes e bem humorados de toda a imprensa motorizada portuguesa. 

Imagino que seja difícil fazer bem uma revista de automóveis ou motos clássicos. Especialmente com limitação de recursos. Tradicionalmente escreve-se sobre algo que já foi objecto de análise sob centenas de pontos de vista, já tudo foi dito ou escrito. Novas abordagens a temas batidos são raras. É aqui que entra uma rubrica de humor inteligente, fantasioso, por vezes envolto em lendas e mitos, e susceptível de gerar desassossego e saudável desconforto. O leitor é atiçado por um olhar corrosivo e crítico habitualmente arredado da imprensa destas latitudes.    

Sou leitor da revista desde o início e considero-a a melhor do espectro nacional nesta área, embora se reconheça que liderar esse mini-ranking interno não seja propriamente difícil. Actualmente, quando pego na revista no escaparate, é à procura do artigo mensal do Hugo que parto.

Os textos identificam cinco propostas que encaixam num tema, que pode ir dos "garanhões de corrida" aos "carros para vaidosos", passando pelas "grandes pechinchas".  Desta vez, o assunto visava as "motos para principiantes", na perspectiva sempre sarcástica do autor.

Uma das cinco escolhas foi precisamente a Honda CN Helix. Nas restantes consta ainda uma outra scooter, justamente a Heinkel Tourist. Com a devida autorização do Hugo, e porque continuo à espera que ele me envie um guest post prometido há anos, aqui fica o texto publicado, não podendo deixar de conceder-se inteira razão à legenda na fotografia principal da Helix: "É uma moto tão feia que só existe uma solução: sente-se no sofá de olhos fechados."   


Clássicas para Principiantes






Sempre fantasiou com a ideia de ter uma moto mas o sonho ficou por concretizar? Já não tem idade para “superbikes” ou quer iniciar-se com calma? Selecionámos cinco clássicas perfeitas para si.

Pode não parecer, mas este artigo é dedicado principalmente a automobilistas. A todos os que sempre acalentaram o sonho de um dia embarcar em pequenas aventuras em duas rodas mas nunca se atreveram ou não passaram das primeiras experiências com a motorizada da adolescência. Nos modelos que aqui apresentamos poderá aprender ou recordar os princípios essenciais da condução de uma moto sem correr demasiados riscos e sem se sentir tentado a fazer mais do que sabe.

Se aprecia carros desportivos reconhece seguramente a veracidade da máxima “mais é menos”. Menos rodas significam muitas vezes mais prazer, mais agilidade e sobretudo mais emoção. É verdade que a componente do desequilíbrio acarreta alguns riscos e exige um nível de destreza física que não é essencial num carro mas, por outro lado, uma moto oferece sensações fortes sem ser necessário rodar nos limites ou sequer a velocidades elevadas. Isso aplica-se tanto à condução em estrada como fora dela. Quase todos demos os “primeiros passos” de motociclista num qualquer modelo de 50cc. Serviram de “escola” motos como a indestrutível SIS Sachs V5, a popular Casal Boss, a Vespa 50 S, a Yamaha RZ50 ou a ubíqua e sempiterna DT50 LC. Em nome da nostalgia, podíamos aconselhar modelos desse género mas acontece que você já não é um miúdo, depois, esperamos que faça viagens mais longas do que até ao liceu ou praia mais próxima e por último há que admitir que as montadas de 50cc têm muito pouco de moto: ciclísticas fracas, travões medíocres e potências que não permitem sequer uma ultrapassagem segura. Além disso, não esqueçamos que agora vigora uma lei que durante muito tempo se tornou um obstáculo ao usufruto de uma moto e que permite que qualquer pessoa com carta de ligeiro possa guiar uma 125.

Conselhos a ter conta antes de conhecer cada uma das sugestões e, eventualmente, fazer qualquer compra:

1- Nunca assuma que vai fazer poucos quilómetros. Andar de moto é viciante.

2 - Não procure escolher uma moto a pensar na habilidade de transportar um passageiro. O mais certo é não conseguir convencer mulher ou filhos a participar nas suas aventuras e assim que começar a andar de moto não vão faltar amigos a querer segui-lo noutras motos.

3 – Não pense demasiado pois a próxima moto que comprar dificilmente será a sua última.

  Honda CN 250 (Helix) 1985-2001

Porquê este modelo?

As scooter atingiram uma maior popularidade entre os principiantes a partir do momento em que se tornaram automáticas. Pode parecer aborrecido não ter de engrenar velocidades mas, na realidade, isso permite-nos imensas vantagens: mais atenção à estrada, mais tempo para apreciar paisagens, mais agilidade na cidade, melhor perceção do comportamento da moto e mais conforto. Claro que muitas destas vantagens só são importantes no uso citadino e, no seu caso, a ideia talvez seja apenas o lazer. “Então porquê sugerir uma scooter neo-clássica?”, pergunta o leitor enquanto contém as náuseas motivadas pelas fotos desta página. Porque esta foi a primeira scooter a ser pensada para uma utilização para lá das fronteiras urbanas, inaugurando o conceito hoje tão popular de “maxi-scooter”. Se sempre invejou aqueles viajantes confortavelmente montados em grandes Goldwing, Pan-European ou BMW LT e quer viver essas sensações sem os custos ou a habilidade normalmente exigidas, esta scooter de aspeto vagamente aberrante pode revelar-se o segredo mais bem guardado desde o dossier Freeport. Paralelamente é um veículo óptimo para o quotidiano de uma grande cidade, ainda que a sua posição de condução “refastelada” e o comprimento exagerado possam dificultar certas manobras. Hoje a CN é um curioso objeto de design “retro-futurista”, com o seu estilo TGV sublinhado pelo painel de instrumentos digital bem completo, que inclui mesmo um avisador de intervalos de revisão!

O que procurar?

Quando em bom estado, a experiência de condução da CN (também conhecida como Helix noutros mercados) é gratificante. A direção não é muito direta, em parte devido à longa distância entre eixos, mas o baixo centro de gravidade permite velocidades em curva consideráveis com inclinações surpreendentes. Mas para isso, é fundamental que os pneus de pequeno diâmetro estejam em boas condições (pelos padrões atuais). É normal sentir uma potência de travagem reduzida, quer no disco dianteiro, quer no tambor traseiro acionado por pedal, como numa Vespa... É importante procurar uma moto que tenha os componentes plásticos em boas condições, especialmente as partes menos brilhantes e o painel de instrumentos. Para as partes mecânicas é fácil, ainda que nem sempre barato, adquirir peças de substituição. O monocilíndrico a 4T não é um portento, mas esse talvez seja o segredo da sua longevidade, já que parece relaxado mesmo à velocidade de ponta, perto dos 120km/h.

Para que serve?

Este carácter sereno faz da CN250 uma scooter ideal para aventuras despreocupadas e pouco cansativas. O aspeto utilitário não é de menosprezar, já que o vasto porta-luvas, a considerável bagageira e os baixos consumos, convidam a deixar o carro para segundo plano.

Serve também para obrigar os miúdos a comer a sopa.

Se fosse um carro 

Seria talvez uma espécie de Renault Avantime, mas mais pertinente.

Alternativa

Na verdade a CN não tinha concorrentes à altura senão no fim da sua carreira. Menos exclusiva, mais moderna mas igualmente confortável e polivalente, a Yamaha Majesty de 97 surgiu no último fôlego da Honda, com um preço semelhante e atributos equivalentes.

Uma para comprar já

Se tivesse onde a guardar, não revelava onde esta está. Por €1500 esta CN está a um preço um pouco acima da média, mas o seu estado não tem paralelo com nenhuma outra. A cor é também invulgar para o nosso país. Pronto… está no OLX!



Motor: Monocilindrico 4T; 234cc; Arrefecido a água; Carburador Keihin 20mm; 18cv às 7000 rpm; Transmissão: correia; Automática por variador de fase e embraiagem centrífuga; Travões: à frente, de disco; atrás, de tambor Chassis: tubular em aço; Arranque elétrico; Peso: 178 kg; Velocidade Máxima: 130km/h

Utilização : 4
Manutenção: 4
Fiabilidade: 5
Valorização: 2 "


domingo, 9 de dezembro de 2012

Figueira, Frio na Foz (II)




Depois de alguns perfis no encontro da Figueira da Foz,  o cartão de memória registou também detalhes, com merecido destaque para um irrequieto trio de Lambrettas. Uma Li bem conhecida, a do Duarte Marques, uma SX200 dans son jus, e uma TV 175 com um restauro atento.  Ao lado da Bianca, o trio encena uma declinação da expressão popular: a galinha e os pintos.






























segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Figueira, Frio na Foz



Uma estranha atracção do carburador da T5 do Rui Tavares pelo mais plebeu dos insectos, a mosca, acabou por fixar na rede o nome deste encontro que tradicionalmente marca o fim do ano no âmbito do scooterpt: moscas da figueira.

Uma conjugação feliz de disponibilidades fez com que pudesse regressar depois de 2009, dividindo agora os caminhos para a Figueira da Foz com um grupo de velhos amigos que há muito não se reuniam. Duas Vespa PX, uma LML e duas GTS 300 a combater a massa de ar frio num dia luminoso de inverno. À noite, no regresso, a partilha foi ainda mais literal: dividi a faixa de rodagem e o potente farol da minha Bianca com o Júlio, ocasionalmente de volta às scooters na cega PX bunny style do Hugo Oliveira.