domingo, 30 de novembro de 2014

Dilemas de Garagem




As últimas semanas têm sido de transição. A Bianca está já em casa, depois de um mês a reparar a barriga e a parte inferior do estrado, que apesar de todo o cuidado no uso já não estava como era suposto estar: como saiu da fábrica.


É um desafio que reconheço pouco usual e ainda menos racional tentar manter a originalidade da Bianca, usando-a pouco e, simultaneamente, carregá-la de história cúmplice. É um paradoxo difícil de resolver mas que, por alguma razão, continua a fazer todo o sentido no meu espírito, passados quatro anos. Talvez o facto de ter noção de que esse objectivo é desfasado do uso que o comum proprietário destina a uma scooter ajude a explicar a minha apetência por ter outra, que actualmente até são duas, a Helix e a LML.


Com o inverno a trazer o rasto cinzento das chuvas, e alguma indisponibilidade temporária para agarrar-me ao guiador das máquinas, corre também o processo evolutivo de afinar o papel que, na minha cabeça, cada uma delas tem na garagem.














segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Scooters nas Corridas (III)





Ainda as scooters nas corridas, mas de um outro tempo, em que as corridas passavam à porta das casas, no meio das montanhas, vilas e aldeias da Sicília. Sem rails, sem protecção, sem rede. No limite da estrada, da máquina, da razão. Uma loucura.

Esta imagem do arquivo Porsche está coberta dessa adrenalina e reflecte a paixão dos sicilianos pela velocidade, pela competição. Pelo Targa Florio. Voltas de 72 quilómetros, mais de 900 curvas por volta, quase impossível memorizar. Uma verdadeira tortura sinuosa para pilotos e máquinas. Talvez a mais romântica e irracional das corridas de estrada com o envolvimento directo das marcas e a cobertura do respectivo mundial. Quase até à última tragédia neste formato já então anacrónico, cujo episódio final ocorreu em 1977.

A caminho da vitória em 1970, o Porsche 908/3 skate de Jo Siffert e Brian Redman, uma bela seta azul bebé com duas redundantes setas pintadas na carroçaria com o número 12, levanta o pó e passa indiferente à psicadélica Vespa de Palermo estacionada no limite da berma.   

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Scooters nas Corridas (II)






Sábado chuvoso de fim de época no Autódromo do Estoril. LML a caminho através do dilúvio para ver com amigos este campeonato de endurance V de V, que tem um programa de resistência quase familiar, com GT a sério. Os franceses adoram encerrar as hostilidades nos desafios do circuito próximo de Cascais, onde normalmente conseguem gozar o bom tempo nas seis horas de corrida. Não este ano. 

Apesar de se apresentarem a competir em várias dezenas de Porsche 911 GT3, Ferrari 458 Scuderia, Saleen e alguns GT ainda mais excêntricos, estes gentleman drivers deslocam-se no paddock, na sua maior parte, em anónimas scooters chinesas e sem matrícula. Provavelmente compradas todas no mesmo contentor. Claramente os euros e as atenções estão nos GT. Não nas scooters. 


















sábado, 1 de novembro de 2014

Na Terra de LML (III)






À medida que a estação fria se aproxima, as folhas teimam em não alaranjar, nem amarelar. Quanto mais cair. O Outubro foi o Verão que quase não tivemos e estas são ainda imagens de luz de Verão.  


A LML tem alguns trabalhos pela frente, mas não me apetece entregá-la ao mecânico. Quero usá-la e gozá-la sem limitações, pelo menos enquanto não precisar de me vestir por várias camadas. Amanhã tenho que lembrar-me de colar ao lado do painel analógico um autocolante "brake rear". Ajuda a memorizar e a estabilizar a frente e o seu disco. É o único componente mecânico potente nesta scooter.












domingo, 26 de outubro de 2014

Restauro ?








No editorial deste mês da revista Motor Clássico, o seu director, Adelino Dinis, faz uma breve incursão pela história dos Concursos de Elegância Automóvel. De acordo com Adelino, existe um antes e um depois de Pebble Beach, nos EUA, há cerca de 50 anos. A evolução que se registou depois, a reboque da progressão técnica e do crescente interesse pelos clássicos, trouxe-nos restauros cada vez mais perfeitos. A par destes, a avaliação pelos jurados especialistas de nível internacional, neste tipo de concursos, também foi mudando. "Mas chegou um ponto em que, para ganhar, proprietários e profissionais faziam, literalmente, carros 100 por cento novos. Eram automóveis autênticos que pareciam réplicas." - escreve o Adelino.


O modo como a FIVA (Federação Internacional do Veículo Antigo) reagiu a este ponto aparentemente sem retorno foi interessante: os parâmetros mudaram e o foco passou a ser dirigido para a preservação e autenticidade. A filosofia do restauro é o grande critério matriz. E para um olhar treinado é relativamente fácil perceber se o objectivo foi salvar o máximo de componentes originais ou, pelo contrário, refazê-los na íntegra, obtendo-se como resultado um veículo que quase nada tem do que saiu de fábrica. "À medida que entra o brilho de algo feito agora, sai a história do objecto original".


Esta recente abordagem, que começou a ser posta em prática no concurso mais importante da Europa, Villa d´Este, mas já está a ser aplicada pelos jurados nos melhores concursos, determina algo muito simples: o estado "melhor do que novo" deixou de ser desejável. Ou seja, a reconstrução total, que é uma actividade nobre, dispendiosa e difícil, não é vista como arte. "A arte está em recuperar tudo o que pode ser salvo e substituir apenas o que está perdido". É ainda mais caro e difícil. Porém, preservar ao máximo a autenticidade é, nos padrões de hoje, o caminho certo para o restauro.



Imagem: Rui Simões  

sábado, 25 de outubro de 2014

3ª Regularidade VCL - 2014 (IV)






Mais postais ilustrados da 3ª Regularidade Moderna do Vespa Clube de Lisboa, com alguns dos instantâneos captados por outras objectivas que não só a minha, cortesia do Miguel Lázaro e do Rui Simões, devidamente identificadas no final do post.







































Imagens nº 3, 4, 6, 9, 10, 13 de Miguel Lázaro
Imagens nº 5 e 7 de Rui Simões

domingo, 19 de outubro de 2014

3ª Regularidade VCL - 2014 (III)





O VCL levou ontem à estrada a 3ª edição da sua Regularidade Moderna, na bela vila de Sintra, capital do romantismo.

Numa manhã chuvosa e traiçoeira, com o nevoeiro a pairar às primeiras horas da manhã, foi preciso querer muito repetir edições anteriores ou experimentar pela primeira vez este formato, para vestir os fatos de chuva e fazer parte da caravana de vinte e um bravos scooteristas que disputaram a classificação. 














Dezoito terminaram, lidando com um roadbook que não impunha desafios extremos de navegação e apresentava uma extensão cerca de trinta por cento inferior à de 2013. Porém, escondia inéditos doze controlos que obrigavam a constantes visitas ao relógio e ao odómetro, para manter a média imposta de trinta quilómetros por hora, o que obrigou os mais rápidos a moderar bem o seu andamento, para não penalizarem por avanço. 









As subidas à Pena, com uma árvore a barrar o caminho e a ser serrada pelos bombeiros enquanto a Bianca, de zero no escudo, passava a abrir a estrada, foi apenas uma das peripécias que todos levaram na bagagem no final do evento, para além de pontos de penalização e um almoço servido bem a horas, a justificar o acerto do formato compacto e a validade da ideia de duplicar o percurso por via de uma segunda volta.

Quem rolou pelas estradas de Sintra pôde assistir à beleza e às singularidades desta paisagem de contos de fadas, incluindo o seu microclima particular, que fazia com que os concorrentes, num perímetro de cerca de vinte quilómetros, tivessem que alternar piso seco e céu entreaberto, com estrada húmida, chuva, nevoeiro, e tudo isto em duas voltas, a fazer lembrar as Ardenas belgas. 










Por um percurso que mostrou os troços clássicos do antigo Rali de Portugal, como Sintra, Peninha e Lagoa Azul, passámos também por pérolas como o Palácio da Pena, Monserrate, o Monte da Lua ou a Regaleira, a merecerem visitas sem cronómetro no bolso. 

O bom e o mau piso alternaram, e toda a destreza dos concorrentes foi convocada para a serra serpenteante, a obrigar à constante gestão de máquinas e concentração, em especial nas descidas mais técnicas, numa combinação de empedrado molhado com relva e musgo. 









A verdade é que ninguém caiu, e foram muitos os sorrisos à chegada, a provar que quem vem, volta. Com mais ou menos pontos na bagagem. Aguardemos, pois, por 2015.






Imagens nº 5, 6, 7, 8, 9, 10 de Miguel Lázaro