Fiz esta fotografia em Outubro de
2009, em Atenas. No fim-de-semana da última eleição legislativa, que haveria de
conduzir ao poder Papandreou, entretanto demissionário.
Sem sequer suspeitar, testemunhei
o dia zero do até aí impensável ataque criminoso às dívidas soberanas na
Europa.
Pouco tempo depois a Grécia
entraria na espiral ascendente dos juros da dívida pública, fenómeno que
rapidamente se alastrou a países periféricos do Euro, Irlanda e Portugal,
também já intervencionados pela troika, e que promete fazer mais vítimas entre
as nações sob a mira dos mercados.
Ao voltar por acaso a esta
imagem, de uma Vespa gasta numa rua estreita de Atenas, detive-me na observação
dos detalhes, num exercício em que gosto de ligar a fotografia a aspectos e
realidades que nela aparentemente não estão. Pelo menos directamente. Revi, então,
vários sinais da história.
A de uma Europa velha, mas cheia
de charme, representada pela Vespa.
A de uma sabedoria milenar, simbolizada
pela língua grega na placa toponímica e pelo pedaço de Parténon na loja, também
esta caduca.
A de um modelo económico já sem
soluções, ultrapassado, como o autocolante no vidro da datada Kodak.
A dos europeus de rosto fechado,
como o cadeado na porta.
Resta saber se a charmosa e velha
Vespa se submeterá a restauro para resistir. E se, ainda assim, resistirá.
1 comentário:
O velho continente já superou simplesmente tudo, o único preço que não se deve pagar, pelo menos conscientemente, é o do ânimo de viver e da esperança. Seja lá como for o amanhã.
Abraço,
Leo
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