quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Marca do Íman



Há um certo romantismo em bordejar o Mediterrâneo desde a Croácia até Portugal. Se o fizermos em cima de duas rodas com palmo e meio de diâmetro, empurrados até uma velocidade máxima que não chega nem perto de violar o limite previsto no código da estrada, entramos na ciência dos fenómenos que não se explicam. Só se conseguem sentir. Talvez como Fátima, lugar de outras peregrinações.

Obviamente que não todos, mas seguramente muitos dos amantes do insecto italiano, vindos um pouco de toda a Europa, experimentam esta transcendência paralela. Rever no seu espelho uma marca, muitas vezes um modelo, que funciona como uma espécie de extensão da sua personalidade.

Para eles, a viagem a Fátima para o Vespa World Days, em cima daquele improvável objecto, tornou-se um imperativo. Algo que seguramente seria fácil contornar, fazendo de outra forma, mais rápida, mais fácil de explicar e entender, mais segura, talvez até mais barata. Então porquê fazê-la assim? Nalguns casos a solo, sem rede para além da assistência em viagem…? Porque perderia todo o sentido se de outra forma fosse. Dir-se-ia quase por uma questão de fé, aqui despida do manto da religião.

Esse é o capital mais precioso, o Santo Graal de uma marca. É uma espécie de íman a aglutinar entusiastas que espontaneamente se reúnem para celebrá-la, cultivá-la, quase venerando os seus símbolos ou o modo de vida que cada um lhe associa. Na sua vivência particular. Na sua relação com a sua Vespa. É quase conceder que a nossa scooter é de carne e osso. Admirá-la, desculpando-lhe todos os pecados, todos os defeitos, todas as omissões. Quase uma relação de transcendência.

Não são muitas as marcas que se podem orgulhar de fazer parte do poço da alma de tantos, vindos de tão longe. Só para celebrar. E viajar. Em cima de palmo e meio de borracha. Protegidos na sua fé pagã por detrás de um fino escudo de gladiador romano, onde exibem, orgulhosos, as suas origens.



































1 comentário:

Leonardo Dueñas disse...

Assim como navegar é preciso, Vespear é preciso. Belas palavras Vasco, exprimiste precisão e lirismo o que muitos de nós sentem, qurem vivenciar ou de fato vivem ao 100%. Ainda refundo o bendito Vespa Clube do Rio de Janeiro!

Abraço,
Leo