sábado, 31 de janeiro de 2015

Lugares





Descobri este lugar no Verão, numa daquelas incursões em duas rodas deixa-ver-onde-isto-vai-dar. 

Para além de beneficiar do ar do mar, é um sítio de raro sossego e paz, onde parece que nada acontece. Ninguém passa. 

Abro um livro para ler em cima das pedras. 

Para o fotógrafo permite as mais variadas tomadas de vistas. E brincar com o enquadramento com uma amplitude pouco habitual. Parece um estúdio enorme, parece que estamos em vários outros lugares, sem sairmos do mesmo espaço. 

Gosto dos tons ocre. Da desordem ordenada das pedras. Das texturas do chão de areia, paus e rocha. E da LML, que ao mesmo tempo que estica o pescoço, dilui-se no meio dos tons da terra.


domingo, 25 de janeiro de 2015

29 / 14 & Outros Números





O que aqui se vê é arqueologia éle-éme-élista no pós-cirurgia à forqueta. Estão vocês a dizer: "parece-me que há alí peças que nada têm a ver com uma forqueta". Verdade. Mas não se esqueçam que a operação não visava a mudança de se... err...natureza. Ainda é uma LML. Logo, há outros órgãos que precisam de atenção.   









A presença da LML no hospital foi prolongada e o tempo despendido avariou o taxímetro. A narrativa era tão extensa que uma folha de factura não foi suficiente. 

Em contrapartida, posso provar documentalmente que o sangue azul PX E já corre nas veias da minha indiana a quatro tempos. Não foi preciso encomendar material com caril. Não. Tudo PX E, supostamente italiano e compatível.   




E o preço a pagar ? As peças são miúdas e nem são caras. Procuro a soma e nada. Viro a página e lá vem o taxímetro da mão de obra. 

Concluo duas coisas. Primeira: se tivesse habilidade mecânica podia perfeitamente fazer sozinho e barato, porque essa é uma real vantagem da LML. Segunda: pela primeira vez percebo que o meu projecto low cost está a derrapar como uma obra pública.






Pelo menos tenho a Azeitona em condições. Agora a meu gosto do ponto de vista mecânico. Decido então aproveitar a saída da oficina para ir experimentar a máquina. 

Enquanto fazia contas de cabeça e tentava ensaiar uma justificação racional para a súbita leveza que sentia no meu bolso, reparei que o trânsito no meio da cidade estava anormalmente caótico. 

Na segunda rotunda que encontro vejo vários Aston, MG, Sunbeam, Triumph, Bentley, Jaguar... Todos no pára-arranca. Lembro-me então que vira há umas semanas que o Encontro dos Ingleses, um passeio de clássicos com tradição, passaria por Torres Vedras este ano. Deve ser hoje. Vou atrás de um lindíssimo Jaguar E Coupé, amarelo suave, e decido segui-los quando o trânsito desanuvia à saída da cidade.    

O ritmo é bastante alegre, e a sinuosidade do percurso ditado pelo roadbook obriga-me a puxar a LML pelo pescoço para acompanhar a caravana. Não é só entre Lambrettas que se fazem duelos na estrada. Aqui também se esganam aceleradores, mas com mais zeros na equação. No meio da serra, acabo por fazer um inesperado e bem sucedido teste à máquina em companhia ilustre. 

Em vez de partilhar as curvas com a Heinkel do Rui, a indiana está a disputar uma travagem no meio de um Healey e de um XJS V12 ! 

Isto sim, é estilo ! 









sábado, 24 de janeiro de 2015

Na Serra com o VCL






O regresso à Serra da Estrela já foi anunciado pelo Vespa Clube de Lisboa, em cumprimento de uma tradição de décadas. Este ano será um pouco mais cedo, no último fim de semana de Fevereiro (27, 28 e 1 de Março), portanto bem no meio do Inverno.

Sendo época alta na Serra, apenas existem 34 vagas, pelo que quem quiser reservar lugar deverá apressar a sua inscrição, seguindo as instruções do Clube, não esperando pelo final das inscrições a 19 de Fevereiro.

Eu já me inscrevi e este ano vou de LML, exactamente da mesma cor da scooter que aparece no já clássico e bonito cartaz da prova, que habitualmente confunde não só na leitura das datas, como também na marca da scooter representada: LML ou Vespa ?

Veremos o que nos reserva a meteorologia para pintar o cenário da montanha. Habitualmente prefiro tempo seco com neve no topo, para rolar o máximo possível, mas a minha opinião é irrelevante e os mistérios climáticos fazem parte do jogo. 




domingo, 18 de janeiro de 2015

Azeitona no Estaminé (II)







Manhã em sessão de testes. Na oficina, numa inspecção visual, a LML não parecia estar totalmente alinhada, mas realmente é difícil treinar o olhar nestas máquinas. O guarda lamas nunca está direito, o descanso também não, há várias superfícies que concorrem para deformar linhas quadriculadas na nossa visão de frente para o esqueleto indiano. Neste particular, as PX também não ganham por grande margem, não se ficam a rir. É raro encontrar um guarda lamas alinhado. E agora, quando olho para uma, estou sempre a ver estes pormenores.






Durante a semana tinha tido nota de que os meus mais desastrosos receios não se tinham confirmado. Por ordem decrescente de gravidade: o quadro está direito; a forquilha não está empenada. Abaixo disto na escala já me permitia manter a scooter, e evitar o embaraço de exclamar imediatamente ao mecânico: "Vendida!".


Aparentemente o problema estava no braço da suspensão, o-rings, rolamentos e eixo. E as caixas de direcção também já tinham visto melhores dias. Não perguntei, mas espero que quem lhe mexeu tenha a vacina do tétano em dia.


  


A manhã esteve de aguaceiros, com um misto de estrada molhada ou apenas húmida em alguns locais menos abrigados do vento. Quase ideal para o efeito que pretendia, porque a LML era um verdadeiro susto à chuva, e a nova geometria talvez me contasse outra história hoje. Acertei a pressão dos pneus e arranquei. 


Assim que saí da cidade e apanhei uma recta percebi que tenho uma scooter nova: tirar as mãos do guiador equivale a manter a direcção. Acabou a inclinação para a esquerda. Passar em ressaltos também me trouxe uma sensação desconhecida, a suspensão da frente está suave e até progressiva. O travão da frente ficou a parecer menos potente, o que é bom nesta scooter. Ainda assim, é suficientemente forte para bloquear se for muito provocado. 


Tudo isto é muito bom, diverti-me a guiá-la, confiante. Até os pneus me pareciam melhores à chuva. Mas ainda não está perfeita. Noto ainda uma ligeira inclinação para o interior, quando curvo para a esquerda acima de setenta, oitenta, e toco no travão dianteiro. Muitíssimo menos do que sentia antes, é ligeiro, mas o efeito não foi totalmente eliminado. Porém, a partir daqui dou-me por satisfeito. Uma LML perfeita não existe.

   

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Azeitona no Estaminé





Como é do conhecimento público, este é o último blog de scooters a pesquisar quando se procura alguma informação útil sobre mecânica pura e dura. Fotografias e dicas sobre como montar uma forqueta ferrugenta numa LML são censuradas. Até hoje. As imagens, pelo menos. A LML está na concessão Piaggio - já de si um sacrilégio - para se perceber até que ponto o seu esquerdismo - sem conotação política - é culpa de um desvio de um garfo montado... à direita da roda. 

São, por isso, fotografias que vale a pena apreciar pela extrema raridade neste espaço. 

Quanto à minha restante actividade scooterística, tem-se limitado a pequenos e rápidos passeios de CN, e à minha primeira experiência de detalhe em scooter, por sinal bastante bem sucedida. A Bianca brilha agora com uma profundidade que aconselha o uso de óculos 3D. Infelizmente estava demasiado ocupado e entusiasmado com os resultados para usar a máquina fotográfica.

O que nos traz de volta ao óleo e ferrugem de uma LML.











sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Bihelix







Aqueles que vão seguindo esta página saberão que a Honda CN é a minha scooter mais rodada. Há muito que venho defendendo o quão fácil é ser-se conquistado pela CN uma vez sentado no sofá e empurrado pelo motor suave. Inclinar uma CN ao sabor de uma estrada enrolada equivale invariavelmente a estampar um sorriso pateta na cara, escondido pelo capacete. E o seu estilo à frente do seu tempo vem fazendo cada vez mais adeptos. Desta evangelização em curso vêm resultando algumas aquisições por amigos, que não resistem aos apelos desta estranha scooter.   

Apesar de ser um modelo original, com um significado histórico relevante e relativamente rara entre nós, ainda se vão encontrando alguns exemplares nos classificados e a preços comedidos, embora com alguma irregularidade de oferta.

O que é invulgar é encontrar uma CN não restaurada com dezasseis mil quilómetros, e em condição muito próxima daquela que exibia à saída de um concessionário Honda, há quase dezoito anos atrás. 

Foi exactamente esse negócio que o Miguel Sala encontrou. É a CN cor de vinho que vêem nas imagens. Depois de a ver e testar, percebi que a scooter está realmente nova, justa e a respirar saúde, sem qualquer falha ou pormenor a rever. De longe a melhor CN que já experimentei. Sorte a do Miguel.       






Num encontro em Mafra numa manhã fria, as duas CN deslizaram pelas estradas que rasgam os montes e vales da Tapada. As fotografias mostram essa cumplicidade das duas japonesas, finalmente em harmonia dentro do rectângulo mágico.
  

















domingo, 21 de dezembro de 2014

Borracha






Seis mil quilómetros depois, o Pirelli GTS traseiro acabou. O pneu frontal acusava muito menos desgaste, mas estava estranhamente ressequido nas paredes laterais, para além de que havia sido construído em 2009. Se esperasse pela próxima troca do pneu traseiro, provavelmente estaria com oito ou dez anos. Acresce que não ia voltar aos Pirelli GTS, pelo que decidi trocar os dois.


Depois de ter ouvido boas referências da Motocenter, solicitei orçamento e conselhos sobre que borracha montar. O serviço de aconselhamento foi célere e eficaz e após alguma ponderação optei pelos Michelin City Grip, a escolha OEM que actualmente é usada pela Piaggio nas novas Vespa GTS.
 

 
 
Marquei para sábado de manhã, e depois dos últimos quilómetros gelados e cheios de nevoeiro em cima dos Pirellis, fui recebido pelo simpático Francisco, sócio da Motocenter com quem tinha trocado os emails. Quando tirei o capacete fechado o Francisco reconheceu-me como... organizador da Regularidade do VCL ! Rapidamente associei e percebi que é um dos participantes habituais na sua PK50 preta e também sócio do Vespa Clube de Lisboa. O que não sabia é que tinha uma oficina de pneus. 

 
A Motocenter é um espaço aberto ao público em 2014, com instalações centrais em Lisboa, perto da Praça de Espanha. De acordo com o Francisco, trata-se da primeira oficina de pneus ibérica exclusivamente dedicada a motos, o que já de si é um facto de relevo. Fala-se uma linguagem de motociclista e as motos não são um estorvo e embaraço no meio dos automóveis. São o centro das atenções.


Mas mais do que estes factores, que há que reconhecer que são diferenciadores, o que realmente me fez optar por experimentar a Motocenter foi a disponibilidade de um serviço que há muito procurava e que nunca encontrei em oficinas de pneus: calibra rodas de scooter. O que faz toda a diferença. 
 

 

 

Os Michelin estão agora com pouco mais de meia centena de quilómetros, e é óbvia a diferença para os pneus anteriores. O que se explica pelo desgaste extremo do quase plano Pirelli traseiro, que degradava a experiência de condução, em especial tornando menos linear o movimento de inclinação.


Verifiquei já que não tenho wobble, que era uma das minhas preocupações com a troca de pneus e, como é sabido, um ponto sensível das GTS. Ainda é cedo, porém, para formar uma convicção mais abrangente sobre estes City Grip.