domingo, 1 de dezembro de 2019

No Dirt, No Glory?





Comprar a Lambretta foi um processo célere quando tive alguma pressão para decidir. Mas a gestação da ideia de adquirir a Sogni D´Oro demorou anos, cerca de quatro.


Por entre as várias razões que me fizeram amadurecer longamente esse projecto esteve uma que agora está ainda mais nítida na minha cabeça: eu não queria mais uma scooter para (quase não) usar como a Bianca, a minha Vespa GTS 300.

Bianca foi adquirida numa época e num contexto muito específicos, comprei-a nova com um significado muito pessoal, e sempre a vi como uma scooter que vai ficar comigo e para a geração seguinte. Até porque, à época, tinha feito tudo o que queria fazer com a minha scooter anterior, a Vespa Granturismo 200. Que era praticamente igual à GTS. Portanto, a experiência GT(S) tinha sido explorada, e bem. Esse balão estava meio vazio, o que não me empurrava para a necessidade de usar intensivamente a Bianca. Pelo contrário. A ideia era guardá-la, utilizando-a, claro, mas com muita parcimónia.


No fundo, quando saiu do concessionário no primeiro dia eu já sabia que ela ia ser tratada por mim como uma clássica. Já a imaginava daí a trinta anos. Só que tinha zero quilómetros.


Eu sei que (quase) ninguém pensa assim, mas isso para mim conta muito pouco. 

A scooter é minha, interessa-me a forma como me relaciono com ela e o gozo que me proporciona. Parada ou a andar. Independentemente do uso na estrada que lhe dou. Ninguém anda com uma escultura pela estrada. E se me bastar vê-la na garagem e andar com ela em dias de sol, isso pode perfeitamente ser suficiente e igualmente gratificante. 

A experiência que vale a pena numa scooter não é só a viagem épica à Galiza ou a Marrocos. Claro que essas ficam gravadas em álbum de ouro.


Mas são temas diferentes. E, à sua escala, podem ser ambos gratificantes.

Mau é se abrimos a porta da garagem, olhamos para a scooter e ela já não nos diz nada. Em quase dez anos, nunca aconteceu com a Bianca. E desconfio que, se não aconteceu até agora, dificilmente acontecerá no futuro. Mesmo com a Lambretta em casa.

Quando comprei a Lambretta fiz alguns eventos do Vespa Clube de Lisboa com ela. Lembro-me do aniversário, de umas idas ao clube, da divertida night ride em gang na Lisbon Beer Week e do Ibero de Mira. 






Mas eu sabia que depois do Ibero - e dos seus troços de terra -, queria dar à Sogni D´Oro um tratamento de limpeza e protecção. Feito não por mim, mas por profissionais que sabem o que estão a fazer. O que não é barato.

E intuía que isso serviria para transformar a Lambretta ainda mais numa Bianca II.

Isto é, numa scooter que me dá um gozo imenso ter - pelas minhas razões - mas que traz consigo sempre uma preocupação latente e um cuidado extremo quando ando com ela na rua.  Não a levo ao cinema, à praia, ou a um restaurante se souber que não a posso ter debaixo de olho. E muito menos a mergulho despreocupadamente numa ribeira castanha, como já fiz com a X8, em viagem com amigos.

A glória vem, de facto, com o pó e a lama.

Mas eu não estou preocupado com a glória.

Constato é que nesta experiência de década e meia de scooters, já passei por oito scooters minhas. E há, de facto, um padrão de uso intensivo em scooters que vieram para mim gastas. A ET2, a CN, a LML 150 são os exemplos mais vincados. A própria X8, embora esta seja a única que beneficia de uso diário e vive como uma sem abrigo, o que inquina um pouco o raciocínio. 

A conjugação deste padrão de uso intensivo de scooters cansadas, com o enamoramento duradouro pela experiência Lambretta leva-me a pensar se não seria melhor comprar também outra Lambretta cheia de patine, para usar despreocupadamente.

Para ter a experiência Lambretta de outro prisma e com outra magnitude. Sem temer pelo pequeno risco, pela mossa quase imperceptível, sem ter "pesadelos acordado" sobre o desgosto que seria se algo acontecesse à Sogni D´Oro. 

Tentador.

Mas inexequível.

Ainda bem.




  (Imagens nº 2 e nº 3  - Paulo Ministro)

6 comentários:

Rui Tavares disse...

Grande explicação :)
Se quiseres ajuda na procura de um xasso diz. Abraço

VCS disse...

Rui,

É melhor não começares a procurar. :-)
But... never say never.

Abraço,
Vasco

Slow disse...

"No Dirt, No Glory"?
Que nível, Vasco. Inspirador. É um regalo ler os teus textos. Sei que pedir a terceiros é fácil, mas 2 meses sem escrever também é muito... ;) E os teus seguidores como ficam, pá?
Guarda uma gasolina e uns euros para o tinto agora em dezembro. Encontramo-nos no sítio do costume... :)
Grande abraço!

VCS disse...

Slow,

Obrigado pelo comentário :-)
Vamos ver se consigo encurtar um pouco esse espaço entre publicações, é preciso tempo e disciplina. E sem a predisposição certa também não se faz.
Quanto á volta de final do ano, está prometida. Vamos ver ainda em que moto.

Abraço,
Vasco

Anónimo disse...

Vasco,
É sempre um prazer fazer uma pequena pausa para dar uma espreitadela no teu blog e perder-me nos teus textos e fotos. Não é comum encontrarmos pessoas que pensam as scooters da mesma forma que eu, embora eu não possa ter coisas bonitas, porque na prática acabo sempre por as estragar com uma utilização demasiado intensiva ou menos apropriada… Por isso fico-me pelas scooters com muito uso e deixo os unicórnios para quem tem essa capacidade (invejável) de os manter como merecem ser mantidos. Espero que tenhas um excelente ano e que nos cruzemos um pouco mais que em anos anteriores. Um abraço
César

VCS disse...

César,
Obrigado pelas palavras.
A Lambretta foi o acontecimento motociclístico de 2019 e veio para ficar. Ainda estou no período de "lua-de-mel" :-)
Vamos ver o que nos reserva 2020. Espero que um pouco mais de estrada a sério, já não fazia tão poucas viagens de scooter talvez há uma década.
Em algumas das viagens haveremos de nos cruzar. Nem que seja só pelo clube.

Abraço e um Excelente 2020 !
Vasco