segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lés a Lés 2013 - Perfis





As imagens da viagem interessam-me cada vez mais na perspectiva humana. Estas minhas fotografias são feitas com uma câmara compacta básica. É a única forma racional de transportar numa fita de levar ao pescoço um aparelho de registo fotográfico leve e barato, que está sujeito a condições que por vezes são bastante severas. A outra, melhor mas menos barata, é levar uma GoPro.

Eis os perfis das equipas catorze a dezassete do Lés a Lés 2013.





O Rui Tavares fez comigo três dos meus seis Lés a Lés. Não precisamos de muitas palavras para nos entendermos bem. É do Porto e é uma autoridade em conhecimento e divulgação por cá das Heinkel. Tem um invejável e católico trio de scooters clássicas que abrangem a dita alemã, e duas guerreiras italianas. Uma gorda e bêbeda, e uma fininha. É dele a culpa de não termos cumprido os horários estipulados. Porque fuma demais. E porque escolheu levar uma scooter com uma autonomia que pouco ultrapassava os cem quilómetros. Tornou-se, neste Lés a Lés, um vampiro dos jerricans.








O Paulo Coelho é uma recente aquisição do grupo, mas é talvez o que utiliza a sua scooter há mais tempo. Comprou a sua Vespa "Luiza" nova em 1987. E com ela já correu meia Europa, num tempo em que andar de scooter era bem menos cool do que é hoje. A sua Vespa é um case study de performance e equilíbrio, sem alardes nem publicidades desnecessárias.  Viajante do Mundo, transporta um refinado sentido de humor e histórias plenas de sumo para contar, em especial quando uma Lambretta avaria debaixo de sol tórrido. Não descobri se fuma mais ou menos do que o Rui Tavares. É conhecido no meio scooterístico por ser embaixador oficioso da Parmakit em Portugal. 








O Rui Carvalho é um scooterista experiente. Conta no seu curriculum, entre outras, com uma viagem à Noruega em Vespa. É também um scooterista de bom gosto. Ninguém sabe ao certo de quantas Lambrettas é proprietário. Estreou-se no Lés a Lés e pilotou com mestria e inteligência a sua Lambretta SX 200, talvez a mais valiosa das scooters clássicas presentes no evento. 









Luís Totti. Discreto e sabedor, corresponde exactamente ao ideal de companheiro de equipa que não perde o controlo, nem falha. Calmo na estrada e fora dela, mesmo quando as coisas se complicam. Tem uma boa relação com a caixa de ferramentas. Teve o azar, que definitivamente não merecia, de ver a sua DL avariar depois de finda a prova, perto de Grândola.





   

Bruno Canha. Recentemente chegado ao universo Lambretta, é o scooterista que me pareceu que não sabia bem ao que ia, mas que se aguentou como os duros. Pouco habituado a muitos quilómetros, agravou o cansaço com um banco cuja rigidez é semelhante ao mármore de Vila Viçosa. Duvido que o meu esqueleto aguentasse. Fuma e usa o telefone em qualquer paragem, e é candidato ao prémio de mais bem disposto da expedição.   







Duarte Marques. É o senhor enciclopédia Lambretta. Tal como acontece com o Rui Carvalho, também ninguém sabe ao certo quantas Lambrettas habitam na sua garagem. Pilota - é o termo - uma Lambretta empranchado, como se estivesse a correr na Ilha de Man nos anos 60, fazendo parte da equipa de Arthur Francis. De coração gigante, envergonhou várias motos com sete vezes mais potência do que a sua. À minha frente vi faíscas que saíam do contacto entre o escape da DL 200 - com motor LI 175 - e o alcatrão. A sua coragem e destreza é inversamente proporcional à quantidade e qualidade do equipamento que usa. Não calça luvas e protege-se com um capacete do tempo do mesmo Arthur Francis. É o Foguete de Mangualde. 







10 comentários:

R. Jordão disse...

Genial Vasco! =)

Apesar de comentar pouco, obrigado pelos teus textos.

Elaborados mas simples.

Curtos mas cheios de conteúdo.

Continua!

Um abraço

Lyp disse...

Vasco,

mais um brilhante relato! As fotos são sempre excelentes, mesmo que a máquina seja compacta e barata.


Obrigado por continuares a deliciar aqui a malta ;-)

Forte abraço
Filipe

Canha disse...

Pouco tenho a acrescentar depois dos comentários do Jordão e do Lyp.
Adorei as descrições e em especial a minha, pouco nos conhecíamos e consegues ser tão assertivo nas descrições que fazes...
A conclusão que tiro disto tudo é que no mundo das scooters sejam vespas, lambrettas ou outras, existe muito mais do que a partilha do mesmo gosto pelas motos. Amizades que se criam gestos, atitudes, entreajuda fazem-nos perceber quanto algumas pessoas que conhecemos são especiais na forma de ser e como são bem-vindas as suas ações e amizades. Muito obrigado

Hugo Reis disse...

Gostei muito destes perfis, mas realço um ponto comum preocupante: essa malta fuma muito! Será ansiedade motivada pela incerteza de atingir o destino?

Sempre excelente Vasco!

VCS disse...

Jordão,

Vindo de um viajante que admiro, esse incentivo sabe bem.

Um abraço,
Vasco

VCS disse...

Lyp,

Obrigado pelo teu comentário, e bem-vindo.

A máquina compacta e barata é um paralelo com o Lés a Lés em scooter. Tem limitações, mas é simultanemante um desafio fazer mais com menos.

Um abraço,
Vasco

VCS disse...

Canha,

As scooters, muito em especial as clássicas, têm um pouco esse condão. Há uma certa predisposição dos outros para a aceitação, para a simpatia. E isso traduz-se em coisas muito simples, que por vezes parecem laterais, mas não são. Repara que quando parávamos num espaço com mais cinquenta motos, os locais só interpelavam os condutores das scooters, com histórias ou curiosidades. Muito raramente o faziam em relação a motos grandes.
Claro que o ambiente que se vive numa aventura destas, num grupo pequeno como apesar de tudo era o nosso, é propício a que todos se conheçam melhor em pouco tempo. Como julgo que já disse algures, para mim o Lés a Lés é como as Obras Completas de Shakespeare em 97 minutos. :-)

Um abraço,
Vasco

VCS disse...

Hugo,

Tinhas que reparar nesse tique :-).

Depois de ter escrito os perfis, também achei que estava a sobrecarregar o assunto, mas era um bom tema de ligação a vários personagens.

De resto, a ansiedade da fiabilidade várias vezes foi ultrapassada pela ansiedade resultante da iminência da falta de gasolina no meio de nenhures.

Um abraço,
Vasco

Anónimo disse...

Não me parece que tenha havido suficiente stress para explicar a aparente correlação entre o tabaco e as scooters nesta grande equipa.

O meu argumento: o stress nunca é divertido, e nós gozámos cada minuto destes dias...

Dito isso, pode ser que haja uma explicação mais para os lados daquele aforismo: "conduzo (a minha scooter) depressa demais para me preocupar com o colesterol"

Belas fotos, belos retratos, como sempre Vasco.

abraço,

Paulo

VCS disse...

Paulo,

Há aqui um dado curioso: os fumadores são dois Vespistas e o Lambrettista menos experiente e avisado para problemas de fiabilidade.

O que deixa o teu aforismo mais próximo do alvo :-)

Realmente o stress esteve quase sempre ausente. O que me deixou mais tenso foram os intermináveis quilómetros perto da Lousã, em terra com muito xisto pontiagudo solto. Só pensava que se furasse rasgando um pneu, o meu Lés a Lés acabava mais cedo. Felizmente só a T5 furou, o que se resolveu com a facilidade imbatível da terceira roda na Vespa.

Abraço,
Vasco