quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pioneiros Regulares (II)


 


A princípio a ideia era recuperar as antigas Provas de Regularidade em Vespa. Apesar de o Vespa Clube de Lisboa dispor de um precioso espólio fotográfico de época, não foi possível recuperar qualquer evidência de regras ou regulamentos por que se norteassem aquelas competições, principalmente nos anos sessenta, o auge dos Ralis de Regularidade em Vespa.


Alguma experiência no âmbito das Regularidades em automóveis, muito consolidadas actualmente no âmbito das competições para antigos, permitiram-me ter uma matriz a partir da qual foi possível fazer adaptações e não arrancar totalmente do zero. O próximo desafio era desenhar um regulamento com regras claras e simplificadas, pensadas de raiz para utilizar em scooter por quem nunca ouvira falar em Regularidades.


Optei por fazer sair os concorrentes minuto a minuto e, consequentemente, permitir também que a entrada em cada controlo fosse feita ao minuto, com as contagens de média no final arredondadas também para essa unidade. Facilitavam-se as contas e anulava-se um factor de complexidade desnecessário que representam os segundos no averbamento de tempo numa prova deste tipo.




 



A opção por um percurso foi relativamente fácil. O trajecto entre Sintra e Montejunto tinha três vantagens: não só era próximo da capital, base territorial e natural do Clube, como representava uma etapa para um pouco mais de duas horas, suficientemente extensa para garantir que máquinas e pilotos aqueciam e tinham que encontrar um bom ritmo. E principalmente porque permitia usar um excelente road-book de base na etapa Sintra-Porto do Portugal de Lés a Lés de 2010, com várias alterações mas que não beliscavam o essencial do valioso levantamento então feito pela Federação de Motociclismo de Portugal.


A escolha e decisão quanto aos materiais de apoio foi o passo seguinte, com o cartaz, a sinalética na estrada para seis controlos horários, entre controlo horário de partida e chegada, início e fim de provas de regularidade, vários relógios de controlo e respectivos suportes, elaboração de tabelas com horários para cada controlo para cada participante. E idealizar as cartas de controlo para os comissários averbarem tempos.












Liderada por João Máximo, a direcção do Clube está rodada nestas lides organizativas, embora não neste formato específico de Regularidade. Tratou de toda a parte logística que implicou encomenda e aquisição dos materiais, transporte na carrinha do Clube, escalas de comissários, inscrições e almoço no final da prova, entre outros. Reconhecemos em conjunto o percurso ainda no mês de Julho. O Clube produziu um filme com um tutorial sobre como construir um leitor de road-book home made, e organizou um workshop na sede nas vésperas do evento. Estou convencido que esta medida proposta pela direcção se revelou de enorme alcance e relevância para o sucesso do evento, pois manteve os concorrentes motivados no percurso sem perdas de tempo desnecessárias. Não esperava ver tantas Vespa com leitores de road-book prontos às nove da manhã de Sábado em Sintra.






 




No briefing fiquei um tanto apreensivo quando perguntei aos participantes quantos tinham experiência prévia de leitura de road-book num Lés a Lés. Só um em trinta e seis levantou o braço. Reforcei então que era importante que se focassem no caderno do itinerário, pois não queria a comitiva perdida e sabia que isso aconteceria se não o seguissem. Um concorrente por minuto é muito diferente dos seis num Lés a Lés. Sobra muito espaço entre concorrentes e a probabilidade de se perderem seria bem real se não se esforçassem por interpretar os bonecos. Uma referência também para relembrar as regras de pontuação e as penalidades relevantes, em jeito de sumário executivo, e todos ao relógio no CHP para acertarem os relógios pela hora oficial.

Quando arranquei para o primeiro controlo com a Bianca com o zero-zero no escudo, tive uma sensação de estranha serenidade e regozijo interior. Pensei: caramba, a prova está de pé !!


















 









E a verdade é que, com excepção de alguns – julgo que muito poucos - pormenores secundários, ninguém se perdeu definitivamente, e tudo o que era realmente importante correu… sobre rodas. Fico, por isso, grato a todos os concorrentes por terem aderido ao desafio proposto, e ao Vespa Clube de Lisboa e à sua Direcção, com João Máximo nos comandos, por ter acreditado que podíamos fazer algo diferente, inovando e simultaneamente respeitando e recuperando para o Século XXI uma tradição antiga do Clube.



Imagem nº 10: Nuno Guicho

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