Sempre tive sensações contraditórias quanto ao universo BMW. Por um lado admiro algum arrojo tecnológico e o próprio conceito de muitos dos seus modelos, por outro acho-me incapaz de algum dia me sentir tentado a ter uma. Julgo que esta ausência de “desejo” tem mais a ver com um certo preconceito meu (mea culpa) em relação ao perfil do cliente BMW, no qual não me revejo, do que propriamente a algo de errado com as máquinas de Munique.
A divulgação da imagem que acompanha estas linhas, da autoria do designer Oberdan Bezzi, já tem mais de um bom par de meses. Não sendo uma novidade, não deixa por isso de colocar algumas questões que se mantêm actuais sobre o posicionamento no mercado da BMW, empresa familiar e bem sucedida, tradicionalmente ligada ao segmento premium.
Recentemente a BMW Motorrad inflectiu a sua política de décadas virada quase exclusivamente para os segmentos turismo, sport-turismo e trail, alargando o seu catálogo a novas categorias em busca de novos clientes.
O exemplo mais flagrante dessa inversão é o lançamento em 2009 de uma moto hiper-desportiva de quatro cilindros para combater a clássica hegemonia japonesa naquele mercado sem tréguas. Mas a S1000RR é apenas a ponta mais visível da mudança.
As recentes parcerias de produção nas trail série G com as orientais Loncin (China) e, especialmente, com a Kymco (Taiwan) vão também no sentido do aproveitamento de sinergias e know-how que não seria de desprezar numa maxi-scooter, para além da própria questão do custo de produção no Oriente e do Euro forte, que dificulta as exportações às empresas europeias.
A polémica imagem do esboço veio relançar a hipótese de a BMW voltar a construir uma scooter, depois da avançada e original C1 (2000-2002). Tomando o pulso aos rumores e mantendo-se atenta, a BMW não tem desmentido a intenção de voltar a entrar neste mercado.
Mas porquê voltar às scooters ? Aparentemente há espaço para uma scooter de topo que incorpore o ADN bávaro, tecnologicamente avançada e de design identitário. No lay-out de Bezzi cabe o conceito Telelever para a suspensão dianteira e o bicilíndrico BMW da F800ST. Seria, talvez, uma dura adversária para a GP800 da Gilera.
Especula-se sobre quase tudo neste projecto, mas a motorização tem sido fonte de discussão acesa: para além do bicilíndrico que já existe na gama BMW, não estarão descartadas as hipóteses híbrida, totalmente eléctrica ou de um bicilíndrico de 700cc desenvolvido pela Kymco.
Por enquanto o esboço traz mais questões do que respostas. Parece, contudo, quase inevitável o regresso da BMW às scooters.
Para quem franzir o sobrolho, pode sempre analisar-se o gráfico de vendas de duas rodas no velho continente: nas cinquenta motos mais vendidas na Europa, em média cerca de vinte e cinco são scooters. Porque razão haveria a BMW de ignorar este mercado ?
2 comentários:
A mim sempre me pareceu fazer todo o sentido a existência de uma scooter BMW. No seu tempo, nem a própria C1 me surpreendeu. Aquele cliente-tipo de que falas, encaixa perfeitamente numa scooter. O "new age yuppie" tem muito menos probabilidades de borrar a pintura (e o fato) ao volante de uma scooter, mas qualquer coisa abaixo de BMW iria ficar mal nos lugares da administração. :)
Esse nicho pode até andar de scooter, mas desde que a mensagem transmitida seja "ando porque posso e não porque preciso!". ;)
Na minha modesta opinião, a maxi-scooter (por maxi entenda-se mais de 400cc) é um conceito espectacular para um moto-turista, mas ridículo para qualquer outro tipo de utilização.
Bem observado, Hugo :)
Já quanto à verdadeira vocação das maxis acima de 400cc, não iria tão longe, mas é uma óptima questão. Em teoria parecem ser excelentes roladoras e óptimas "all rounders". O problema talvez se coloque mais no campo da economia. Em regra custam e gastam (na bomba e na oficina) como motos. Em termos dinâmicos são inferiores. E também deixam de ser tão práticas como as scooters mais pequenas.
Estão em território híbrido, em que não superam em absoluto nenhuma das outras categorias tradicionais, mas também não pontuam mal em nenhum item particular. Até na cidade.
Hei-de voltar a este tema ;)
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