sábado, 7 de agosto de 2010

Porque não uma SYM ? - SYM CityCom 300 i



Há pouco mais de um par de anos atrás, o pequeno e periférico mercado das scooters em Portugal foi invadido por uma vaga de produtos provindos da China, de tal modo que se verificou quase uma cisão estanque. Num primeiro degrau as propostas chinesas, privilegiando a acessibilidade e o baixo custo, e num segundo nível as criações japonesas e europeias. As diferenças, a todos os níveis, eram consideráveis o que fazia com que os dois patamares não canibalizassem o mercado um do outro.

Simultaneamente, e num período de forte ascendente que antecipou a transposição para o direito português da chamada “Directiva das 125”, surgiu no mercado uma marca que por muitos foi confundida com produções oriundas  da China, mas que rapidamente superou a desconfiança inicial, provando não temer as scooters nipónicas. Na verdade, oferecia ao mercado, em regra por muito menos, um produto de qualidade difícil de distinguir de uma tradicional japonesa. Estou a falar do gigante SYM, com sede em Taiwan.

Ao contrário do que se possa pensar, a SYM não nasceu agora, tem cinquenta anos de provas dadas no mercado mundial e essa experiência tem-se notado nos produtos que coloca no mercado europeu e na satisfação geral dos seus clientes.

No topo do catálogo da SYM encontra-se a Citycom 300i, scooter polivalente e de roda alta, que o importador RedMoto me sugeriu e - simpaticamente - cedeu para realizar o Portugal de Lés a Lés.

Este ano a prova propunha-se ligar Faro ao Porto, num percurso com um pouco mais de mil quilómetros, teste de resistência ideal para perceber qualidades e limitações de qualquer moto.

Cinco dias de utilização intensa, de manhã à noite, podiam tornar a minha convivência com a CityCom numa experiência demasiado longa e penosa. É justo dizer que sucedeu exactamente o contrário. À medida que os quilómetros se acumulavam a minha empatia pela CityCom não esmorecia. Na verdade, parecíamos velhos amigos que há muito não se encontravam. Desde os primeiros metros que me senti confortável e familiarizado com a dinâmica, a agilidade, o conforto e a potência disponível.

Olhando para ela parada percebe-se que não é uma scooter que faça rodar cabeças. Tem um design sóbrio e discreto mas também moderno, embora esteja longe de ser apaixonante. Talvez não seja fácil de identificar de imediato como sendo uma SYM, facto para o qual contribui a circunstância de apenas se encontrar um pequeno logótipo abaixo do ecrã, e outro, com o nome da marca, estampado no final do assento. A verdade é que fui abordado várias vezes no sentido de esclarecer qual a marca da CityCom.







O desenho é marcado pela frente com dupla óptica bem rasgada ao estilo oriental e por um ecrã alto, complementado por uma extensão lateral ao nível dos punhos muito útil na sua protecção.






A traseira é difícil de distinguir da concorrente Yamaha X-Max, tais são as semelhanças. Um bom conjunto de pegas para o passageiro enquadram os dois farolins num arranjo que, não sendo original, é muito agradável à vista.



Do lado direito sobressai o avantajado escape, elemento que marca claramente, e pela positiva, o desenho da CityCom. Nas laterais insinua-se um painel em plástico claro que pretende quebrar o negro do estrado e avental, ambos não pintados. O desenho das jantes de dezasseis polegadas, em estrela de cinco pontas, sublinha a sensação de robustez geral. O painel de instrumentos combina manómetros analógicos para taquímetro, velocímetro e temperatura da água com um display digital para o odómetro e nível de combustível, para além das imprescindíveis luzes avisadoras.



A ergonomia é um factor muito relevante na avaliação de uma scooter all rounder, exactamente o que a CityCom 300 pretende ser.

A posição de condução é muito natural, com o tronco direito, pernas em ângulo recto e braços a caírem sem esforço sobre os punhos. O estrado não admite variação no posicionamento dos pés, mas a sua acomodação é muito satisfatória. Os comandos são intuitivos, fáceis de usar e sólidos, bem como os espelhos de área majorada. O banco é muito generoso em largura, amplo e suficientemente macio para proporcionar viagens sem cansaço. O ecrã é perfeito para condutores com a minha estatura, um metro e setenta. A altura ao solo também não me pareceu um problema, sendo que a scooter é algo pesada na balança (182 kg) e em manobras parada, embora essa sensação se dissipe em andamento.










O espaço para bagagens é muito largo debaixo do banco, cabendo sem problemas um capacete integral, desde que de tamanho médio. À frente conta-se com um porta luvas pouco profundo e um sempre útil e robusto porta sacos.





A qualidade perceptível inspira muita confiança. Fiz algumas dezenas de quilómetros em locais pouco aconselháveis a scooters, com terra, lama e água com caudal quase para pescar, e a CityCom jamais se queixou. A montagem tem que se reconhecer como boa, não se ouvem ruídos parasitas, apesar de haver muito plástico na construção. A única nota menos positiva refere-se ao plástico duro usado no painel superior, no guiador e em volta do painel de instrumentos, que está uns furos abaixo da restante qualidade geral. Um pormenor a rever.



Em estrada a nota dominante é o equilíbrio. Está muito bem calibrada, vê-se e sente-se que está feita com saber, para responder às necessidades do condutor real, sem grandes fantasias nem adereços supérfluos ou pormenores especialmente rebuscados.

É rápida, tem um motor forte a qualquer regime, são 23cv a empurrar desde baixa rotação e com especial predilecção pelos regimes médios, embora não se furte a ritmos em auto-estrada entre os 140 e os 150kms/h, e com conforto! O taquímetro acaba por ser útil especialmente em autoestrada, pois permite-nos ter a percepção do esforço do motor em longas tiradas e, por outro lado, avaliamos melhor o óptimo desempenho do variador quando a velocidade é mais inconstante.



Para refrear estes ritmos contei com excelentes travões, apenas um disco à frente e outro na traseira, mas ambos incansáveis mesmo quando os tentei fatigar para lá do razoável.





O consumo oscilou entre os 3,2 e os 3,6 litros/100, frugalidade típica de scooter mais pequena e que me surpreendeu pela positiva.

O comportamento beneficia da conjugação de uma suspensão com o equilíbrio certo entre conforto e rigidez e um motor bem centrado no quadro, o que assegura uma boa distribuição de massas, se não perdermos de vista que se trata de uma scooter. As jantes de dezasseis polegadas permitem-lhe passar por buracos e desníveis na estrada com uma compostura impossível de reproduzir numa scooter de roda baixa. Absorve muito bem as irregularidades e digere com surpreendente eficácia andamentos mais exigentes, como sucessões intermináveis de curvas de raio apertado, ou curvas longas em auto-estrada em velocidades muito para além do limite legal. Sempre tão à vontade como a ziguezaguear entre filas de trânsito no centro de Faro!



Esta CityCom 300 i é proposta por Eur.3.990 o que, não sendo um preço de combate em tempos de crise, acaba por ser ajustado para o muito que oferece. E é mais barata do que uma Yamaha X-Max 125 (!). A maior concorrente desta SYM na categoria 300 é a Honda SH, mais rápida, mas cerca de Eur.700 mais cara, para além da Aprilia Scarabeo 300, esta ainda não disponível entre nós. As restantes propostas de roda alta (de que é exemplo a Piaggio Beverly) estão no patamar inferior em capacidade (250cc), mas ainda assim marginalmente acima no preço.



Equilibrada. É este o adjectivo que sobressai na conclusão da apreciação à CityCom 300i. Esta multiplicidade de utilizações tão bem resolvida permite-lhe criar a ponte perfeita entre a facilidade e a descontracção de uma scooter e a performance e qualidade de tacto de uma moto convencional de média dimensão. Não há nenhum ambiente real em que a CityCom não dê conta do recado. Arrancava com ela sem pestanejar rumo aos Picos da Europa ou ao Atlas Marroquino. E esse talvez seja o seu mais genuíno cartão de visita.

19 comentários:

Gustavo Delacorte disse...

É uma pena que aqui no Brasil não tenhamos belezinhas como esta. E, quando há alguma marca chinesa, as lojas são muito mal administradas...

Abraços.

Bessa disse...

Andava à espera desta Review. Bom trabalho Vasco!

Um abraço,
Bessa

Rui Tavares disse...

Acompanhei-te numa Transalp por esse teste de cinco dias e fácilmente me apercebi da paciência que ela tinha em se desenvencilhar de algumas situações mais extremas em que a colocaste. Apesar de eu viajar aos comandos de 50Cv, se me distraía rápidamente ameaçavas desaparecer no horizonte. Como também a experimentei posso assegurar que viajar em cima dela, além de confortável, dá bastante gozo e confiança. Quem não deve ter sentido muito gozo foram um grupo de BMW's GS1200 quando se aperceberam que não conseguiam fazer com que tu lhes deixasses de "morder" o pneu traseiro. Apesar de não muito barata é uma mini-maxi-scooter a considerar.

Cavok disse...

Depois de ler a tua descrição cuidade e pormenorizada, só posso concluir que a Citycom está dotada de uma excelente nota global.

Só não concordo totalmente com o teu comentário ao preço, pois face áquilo que oferece parece-me um excelnete "value for money" e até barata face à maioria do mercado neste segmento.
Felizmente - para o cliente - uma das políticas de estratégia da SYM, é o preço. Este factor aliado à qualidade e à fiabilidade, têm feito com que neste momento a marca continue a liderar o mercado das duas rodas no nosso mercado.

Belo relato Vasco!

Leonardo Dueñas disse...

Li esta review justamente quando tive a notícia da possibilidade da pseudo fabricante brasileira Dafra montar no Brasil uma scooter SYM de 300 cc. Ao que tudo indica se trata exatamente desta CityCom.

O preço europeu seria uma admirável bagatela por aqui, já que o valor que se supõe no mercado brasileiro seria pelo menos 50% mais caro. Aliás, todo tipo de veículo no Brasil é estupidamente mais caro do que na Europa, sem levar em conta os exclusivos de "países emergentes", as carroças mais caras do mundo.

Abraço,
Leo

Marcelo disse...

Finalmente teremos um scooter de bom nível no BRASIL com um preço razoavel.Andei pesquizando na net sobre o citycom 300 e a Apache. São produtos com qualidade e beleza nos mercados que ocupam. Resta a Dafra, parceira da SYM no Brasil, oferecer peças de reposição a um preço justo e preparar a rede de cc para prestar um serviço decente e honesto.Prezados pesquizem na net sobre esses produtos e verão que tratan-se de ótimos veículos, já testados e aprovados em outros mercados.Minha dúvida agora é comprar uma street com ar envocado (Apache) ou um scooter elegante (Citycom 300).

Fausto disse...

Acabei de adquirir uma Citycom 300/Dafra, após três anos andando de burgman 125. Uso a moto no dia a dia, como meio de transporte casa/trabalho e lazer. Li muitos reviews antes da compra, pensei, pensei e depois de ler tantas avaliações positivas decidi arriscar. Rodei só 100 km e o que tenho a dizer é que simplesmente tudo o que está dito é a mais pura realidade. O Citycom foi uma agradável surpresa pelas rápidas respostas do motor, muito confortável, estável, muito, mas muito, além daquilo que a valente burgman me proporcionou. Parabéns ao blog. Abraço

Rubinho disse...

Fiquei ainda mais tentado ainda a comprar a Citycom 300i depois de ler esta matéria! Parabéns pela matéria!
Abraços a todos.

VCS disse...

Agradeço a todos os vossos comentários generosos.

E registo, também com agrado, que o post se tornou especialmente oportuno para o Brasil, por força da comercialização quase simultânea da CityCom do outro lado do Atlântico.

CYRO JANNOTTI disse...

PUTS. Fizeram a matéria com uma Citycom mais suja do que pau de galinheiro.

VCS disse...

As fotos e o texto foram feitos depois do Lés a Lés. Nem fazia sentido fazê-los antes.

Ficou acordado com a SYM que a scooter seria exposta no stand tal como chegou do Lés a Lés o que, do ponto de vista do marketing, me parece elementar.

VCS

JOÃO MARTINS disse...

Feliz Feliz!! Aqui no Brasil já temos a Citycom e estou indo buscar a minha. Os detalhes prateados aqui são pretos, a suspensão foi recalibrada para suportar nossos buracos (nosso piso cede com certa facilidade e o asfalto nem sempre é de boa qualidade), o freio também foi modificado para ganhar eficiência o sistema de arrefecimento foi dimensionado para suportar nossas altas temperaturas. Citycom é sucesso no Brasil e no mundo!!!

VCS disse...

João Henrique,

Bem-vindo. Parabéns pela aquisição da CityCom. Essa versão com os detalhes em negro também já existe aqui na Europa, mas é mais recente do que o exemplar que testei.

Vasco

Anónimo disse...

No Brasil tem sim....é da Drafa!!!

Unknown disse...

VCS,

Parabéns pelo excelente review! Comprei minha Citycom 300 há quatro dias, e estou ansioso pela entrega da mesma, que deve ocorrer amanhã. Antes da compra, confesso que relutei bastante em adquirir um produto de uma marca pouco conhecida no Brasil (fato este que está com os dias contados devido a excelente qualidade e evidente satisfação de seus proprietários), e distribuída pela questionável Dafra!
Porém, após a leitura de inúmeros testes, comentários em blogs (como o seu), e um exigente testdrive que fiz na scooter, decidi pela compra! Neste testdrive, tive a oportunidade de perceber o vigor do conjunto motor/cvt, potência dos freios, conforto do banco, e suavidade das suspensões, as quais em conjunto com as rodas de 16" tornam este escooter muito agradável de ser conduzido!
Finalmente, o valor cobrado no Brasil pela Dafra (R$ 13.450,00) me parece bastante justo em comparação aos € 4.000,00 pedidos na Europa. Isto representa um sobrepreço de "apenas" 25%. Infelizmente, nós brasileiros somos sempre explorados pelas grandes montadoras mundiais, que nos cobram no mínimo 100% de acréscimo sobre os preços praticados no primeiro mundo pelo mesmo produto, alegando o falso argumento dos elevados imposto brasileiros!

VCS disse...

António Aguirre,

Obrigado pelo comentário, e parabéns pela aquisição, boa sorte com a máquina.

Já me apercebi pelo que vou lendo e pelos comentários que me chegam do Brasil que, para a actual realidade brasileira, a Citycom representa uma aposta muito racional.

Vasco

Unknown disse...

Olá pessoal,gostaria de saber a opinião de vocês.
Aqui na minha cidade existe o preconceito que scooter é veículo de mulher,que é menos seguro que motocicleta etc... Eu sempre gostei deles desde as antigas lambretas e hoje estou disposto a comprar um citycom 300i,por favor falem se ha verdade no boato do scooter ser menos seguro no trânsito urbano do que uma motocicleta,obrigado a todos.

VCS disse...

Mazza Carvalho,

Esses preconceitos, se existirem, são totalmente infundados. Nos anos 50 e 60 as scooters trouxeram as mulheres para as duas rodas, isso é verdade. Agora daí a serem veículos para mulheres vai uma enorme distância. Na Europa, em cidades como Barcelona ou Roma, toda a gente anda de scooter. Novos, velhos, homens, mulheres.

Quanto à questão da segurança, também não concordo. Nas scooters de roda pequena (Vespa, Lambretta), em mau piso, a tendência é para serem mais desconfortáveis. Mas a CityCom é uma scooter de roda alta, logo essa limitação nem sequer se aplica ao caso.

Vasco

Nelson Felício disse...

Boas Pessoal, adquiri à pouco tempo uma Citycom 125 e só tenho que dizer que é realmente uma maravilha de scooter, surpreendeu-me pela positiva, posso dizer para uma 125 que se mantém a uma velocidade cruzeiro de 110km por hora na boa, já atingi os 120km é muito boa para uma 125cc.