Como boa parte de vós saberá, a Piaggio é um dos maiores construtores mundiais de motos. Com origens ainda no século XIX, começou por mergulhar na indústria naval, experimentou a ferrovia, lançou-se na aeronáutica e aterrou nas motos, actualmente o seu core business. Sob o chapéu do grupo transalpino abrigam-se hoje, nas duas rodas, emblemas como a lendária MotoGuzzi, a irreverente Aprilia, a jovem espanhola Derbi, ou a centenária Gilera. Contudo, a marca do portfolio que há mais tempo se encontra ligada ao grupo, e que muitas vezes com ele se confunde, não nasceu marca. Nasceu modelo que se transformou em marca, por força da sua projecção. De seu nome, Vespa. Um nome que nasce assim merece não só respeito, como um cuidado acrescido. Designadamente no lançamento criterioso de novos modelos. Na verdade, a Piaggio carrega um ónus, digamos, benévolo. Quando as decisões são correctas, existe uma boa probabilidade de desencadearem reacções fortemente positivas. Medidas no mercado mas não só. O potencial de impacto dessas decisões tem uma escala que só está ao alcance de um número muito restrito de marcas. A Vespa é uma delas.
Um parêntesis aqui para sublinhar que o que fica dito não significa que pugne especialmente pelo conservadorismo, ou pela nostalgia pura e dura. Pelo contrário. Há um traço de contemporaneidade característico da Vespa que só pode existir se ela se reinventar, aceitando o desafio de acompanhar o tempo presente ou até antecipar o futuro. Aprecio, por isso, a inovação. Especialmente se esta se fundir em harmonia com a melhor tradição de cada marca, com o que lhe traça os genes. Seja o V2 paralelo da Guzzi ou os painéis metálicos estampados do quadro da Vespa.
Vem isto a propósito do último lançamento comercial da Vespa. Está para muito breve a chegada aos stands da GTS 300 Super Sport. Que, no meu modesto entendimento, continua (é este o verbo certo) uma scooter belíssima e altamente cobiçada pelo meu subconsciente.
O conhecido chassis nascido em 2003, com a GT (Granturismo), surge agora na sua sexta roupagem o que, estatisticamente, lhe dá em média um fato novo por ano. Acontece que os modelos que sucederam à GT – GTS 250, GT 60º, GTV 250, GTS 300 Super – pareciam ter uma razão de ser concreta, para lá da cortina de fumo do marketing. Na verdade, todas estas evoluções trouxeram algo de novo, por pouco que fosse. Duas alterações no motor, que foi crescendo de capacidade, acompanhadas de alterações estéticas mais ou menos subtis, consoante se visava conferir maior exclusividade ou, em alternativa, superior pragmatismo.
Pela primeira vez na história da saga GT - e também contra a melhor tradição Vespa - , a nova 300 Super Sport não acrescenta uma única alteração digna desse nome em relação à versão precedente. Nem na motorização, nem nos componentes, nem no desenho. Zero. Ou quase. Temos novas pinturas (bem bonitas, não custa reconhecer o belo), estrias no banco e dois pares de autocolantes e logótipos. Muito pouco para lhe chamar, com propriedade, um novo modelo. Ainda mais se pensarmos no sufixo comercial escolhido: Sport. Nada, na essência ou na aparência, a torna mais ou menos desportiva do que a conhecida Super. E nem seria preciso muito para, dentro das limitações naturais do conceito, lhe atribuir um carácter realmente diferenciador, que traduzisse um acrescento sportivo à saída da fábrica de Pontedera. Combine-se, por exemplo, um banco ao estilo Corsa, um cuppolino exclusivo, um guarda lamas diferente ou suspensões de taragem mais agressiva. Para me cingir apenas a alterações que por certo não encareceriam significativamente o produto final. Respeitariam a boa tradição. Não menosprezariam o público, que não gosta de ver anunciado como novo modelo algo que não o é. E, provavelmente, serviriam melhor os clientes, que podiam optar entre duas versões vincadamente diferentes. Não seria mais entusiasmante ?
(imagem catálogo Vespa)
1 comentário:
Esses gajos do marketing... só servem para fazer destes disparates. :)
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