Paro em Góis para um café, está a faltar-me energia. Dirijo-me a pé até ao rio procurando a esplanada de verão. Está fechada pelo que volto para junto da Helix, que parei perto da praça central.
Quando regresso depois da cafeína, inspecciono o desgaste no piso dos pneus. Como num ritual automático, aperto lentamente o capacete e calço as luvas.
Tenho pela frente a EN342, que liga Góis à Lousã. Não tenho pressa. É domingo, não há trânsito, o dia está seco e ainda fresco. No café havia perguntado como estava o asfalto, há anos que aqui não passo. “Parece uma pista”. A resposta deixou-me tranquilo porque me recordo que é daquelas estradas em que parece que se esqueceram das rectas.
Pergunto à Helix se está pronta. Quando rodo a chave responde-me afirmativamente ao acender o painel com um traço de temperatura e seis de combustível.
É uma companheira de viagem estranha, esta. Até paradoxal. No catálogo nasceu como scooter, mas é lenta e desajeitada na cidade, o que é tudo aquilo que uma scooter não deve ser. Parece sentir-se melhor aqui, nas curvas, topos e vales em volta do Ceira. É tudo menos desportiva, mas inclina-se com segurança até raspar o descanso central. É corpulenta e comprida mas, numa estrada como esta, dou por mim a apurar travagens e a enrolar cedo o punho à saída daquele gancho a subir. Como se houvesse décimas de segundo a recuperar.
Tudo isto raramente ultrapassando os dois dígitos na escala do velocímetro. E com um grau de diversão que duvido que sentiria se estivesse aos comandos de uma Fireblade. Gosto destes paradoxos...
1 comentário:
Uma das razões que me leva (quase) todos os anos à concentração de Gois é fazer essa estradinha desde a Lousã até lá. Parabéns pelos relatos do Portugal de Lés-a-lés, para quem como eu nunca foi, tal descrição abre bem o apetite para fazer uma aventura dessas. Talvez para o ano, haja espírito! Um abraço
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