O que é que define uma saída perfeita em scooter ? Tempo. Liberdade. Tudo o resto é conjugação das nossas referências, da curiosidade, do desejo, de um impulso. Para produzir uma experiência. Nem tudo está pré-determinado. Gosto de acreditar que algum livre arbítrio ainda pode habitar-nos nem que seja por um dia. Desde que acordamos até adormecermos. Que nem tudo é agenda. Mesmo quando o que está na agenda nos é agradável e nos realiza.
O que me seduz na saída perfeita é mais do que isso. Talvez seja a susceptibilidade de produzir uma experiência que não estava programada de véspera, que vai sendo construída à medida que o relógio avança, e que no final, quando fazemos o filme do dia, excede expectativas. Que é gratificante por aparentar ser construída por uma sucessão de pequenos impulsos ou acasos, de pequenas decisões não previamente programadas que mudam o curso dos acontecimentos. Para sempre.
Podem ser actos simples e banais. Como decidir se regresso por Alcácer ou por Tróia em cima do desvio. Como estar em Alcácer do Sal a degustar a gastronomia alentejana, sem razão prévia ou aparente para ali estar, visitar a cidade sem pressa e absorver com disponibilidade o que me oferece, olhar o mapa, descobrir a proximidade do Lousal e dizer a mim mesmo que a seguir valia a pena fazer mais umas dezenas de quilómetros para ir até ao Centro de Ciência Viva aprender e conhecer as minas. E ir.
Esta oportunidade de encadeamento de decisões representa para mim um raro luxo. Acontece. Experiencio. (Sinto-me) Vivo.
5 comentários:
Olá Vasco!
Mais uma mão cheia de belas fotos... Obrigado pela partilha.
Tu (e a Helix) andas cheio de sorte... Em pouco tempo, duas folhas em branco, duas saídas sem destino, duas saídas sem cronómetro. Coisa boa!
Concerteza a alma agradeceu.
Um abraço!
Filipe
Olá Filipe,
Obrigado pelo teu comentário.
De facto, este passeio é o mesmo do primeiro post "Folha em Branco", não é um segundo passeio. Mas ter tido a oportunidade de fazer este no meu primeiro dia de férias já foi uma entrada de luxo.
As fotos na mina e zona circundante transportam sempre um ambiente de arqueologia industrial com cores quentes e fortes. A Helix ali no meio fica ambígua. Nem se percebe se fica do lado da arqueologia ou do futuro.
Abraço,
Vasco
Lógica e habitualmente não faço comentários nesta caixa salvo em resposta a quem se dá ao trabalho de me ler e simpaticamente comentar os meus posts.
Abro aqui uma excepção para vos redireccionar para um post que o Steve Williams publicou no seu "scooter in the sticks" dois dias depois do meu post Folha em Branco (II), que por feliz coincidência faz apelo a muito do que eu tentei aqui transmitir. A diferença é que ele escreve melhor do que eu. Vale a pena:
http://vespalx150.blogspot.pt/2013/08/the-pleasure-of-being-lost.html
Vasco
Caro Vasco,
Parabéns pelo passeio e obrigado pelos momentos que proporcionas com a fluidez das tuas palavras e o impacto das tuas fotografias.
Continuação de bons kms para ti.
Nuno,
Obrigado pelas tuas palavras, é sempre reconfortante ler aqui que outros, de alguma forma, valorizam o que lhes transmitimos.
Nunca mais é hora de dividirmos uns quilómetros, sempre achei que temos uma abordagem deste temas com muitas afinidades.
Um abraço,
Vasco
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