Com menos de seis meses em vigor, ainda é cedo para medir o impacto estrutural da transposição da directiva das 125 em Portugal. Numa cidade como Lisboa vêem-se mais motos e scooters desta cilindrada, mas é difícil ter uma percepção exacta da extensão dos ganhos por mera observação de rua. Essa foi uma das razões pelas quais se inventou a estatística e os primeiros dados apontam para um forte impulso nas vendas do segmento em causa.
Pela primeira vez na história, o Top 6 das motos mais vendidas no nosso país é composto exclusivamente por 125cc. O curioso é que destas seis apenas duas são scooters. Esta tendência não se verificou em nenhum outro país da Europa que beneficiasse de legislação semelhante.
Há quem interprete estes dados no sentido de o consumidor estar a adquirir menos com a razão e mais com o coração, optando por motos tradicionais em vez de scooters, sendo que estas são, teoricamente, mais práticas em circuito urbano. Não sei se a leitura é acertada, mas não me espanta que haja um fundo de verdade nessa ilação.
Embora talvez seja abusivo e perigoso extrapolar – quase todas as 125cc são utilitárias – não podemos escamotear que, genericamente, o cidadão português médio tem especial atracção pela ostentação de veículo próprio, de preferência de marca e estatuto suficientemente sonante para impressionar o vizinho. Porque não haveria de ser assim nas motos ?
Pensando nisto, há dias li no Público uma notícia que dava conta do sucesso da implementação do programa de automóveis partilhados Cambio, em várias cidades da Bélgica. Trata-se de uma ideia para a mobilidade urbana que merece atenção.
Em traços gerais, contra o pagamento de uma taxa mensal de quatro euros recebe-se um cartão electrónico que permite ao utilizador alugar um automóvel por telefone ou internet, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, pelo tempo que quiser. Pode optar-se por centenas de automóveis, de várias gamas, disponíveis em parques específicos (em Bruxelas são mais de cinquenta) junto a paragens de metro ou autocarro da empresa de transportes de Bruxelas, proprietária da Cambio.
Ao que parece, os preços do aluguer começam nos dois euros por hora, vinte e três euros por dia, ou cento e quarenta por semana, sem qualquer outro encargo. O cartão dá acesso ao veículo reservado e a chave acciona o sistema que (des)bloqueia o estacionamento em local próprio. Com este programa, prosseguia a notícia, muitos belgas já haviam optado por vender o seu automóvel próprio, decisão que não espanta para quem do automóvel faça um uso residual.
A verdade é que o conceito tem potencial. Talvez pareça utópico e pouco consentâneo com a tal mentalidade portuguesa, mas façam este exercício: imaginem o conceito Cambio aplicado numa grande cidade lusa. Sim, com muito menos dinheiro envolvido. Em vez da partilha de automóveis, imaginem a partilha de scooters…