segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Biancartoon


A imagem de abertura do post é uma adaptação livre, da autoria de Catarina Ruas, de uma fotografia minha. Quando lhe pedi que a fizesse queria – egoisticamente - evocar a minha cumplicidade com a Bianca. Escolhi uma fotografia algo complexa, com mais do que um tema, e não foi preciso dizer-lhe nada para que depurasse a imagem até que ficasse reduzida à sua atmosfera essencial. Quando, por fim, vi o trabalho foi como se finalmente tivesse conseguido fixar uma emoção perdida no tempo - porque irrepetível - , reacendendo-a. Gosto de pensar que talvez o olhar e o desenho da Catarina sobre a imagem tenham acrescentado uma dimensão narrativa à fotografia. Como um cartoon.

Se vos atraiu o trabalho e querem adornar uma parede da vossa sala com a vossa scooter de eleição, falem com a Catarina - que também é seguidora deste blog - através do Katatoon.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Puzzle dos Entusiastas - LML 2T



A direita descreve um longo semi-círculo, quase perfeito. Já lhe encontrei a saída no meu ponto de fuga visual. Decido embalar um pouco mais a terceira, para me certificar do veredicto conformado do Luís, dono da LML 2T verde tropa que seguro nas mãos… Zaaaááááppp… Troco caixa à saída, já depois daquele topo que me endireita a scooter para piso plano. Sim…, a quarta está morta. É pena, porque não é por muito. Mas se não esticar a terceira como um elástico, sente-se que a quarta agonia. O que acaba por tornar a condução algo paradoxal. Para não regressar à terceira para manter ritmo, tenho que a estender para rotações mais elevadas, o que torna a condução menos fluida e natural, poupando menos a mecânica do que inicialmente se supunha.

Esta indiana do Luís Gomes nasceu cento e vinte e cinco, mas recebeu um tempero mais picante feito de um cilindro Andrea Pinasco cento e setenta e sete, que se alimenta através de um carburador vinte e quatro em troca do vinte de origem. A biela e os rolamentos da cambota, que têm sofrido algumas quebras de fiabilidade, foram substituídos por unidades Mazzucchelli. Por fim, a linha de escape ficou a cargo do conservador Sito, o que significa retirar o catalisador.



Pretendeu-se, para este projecto, uma scooter mais longa de transmissão, que permitisse velocidades de cruzeiro mais serenas, com menos rotação e consequente redução do esforço a despender pelo grupo térmico. Assim, arriscou-se um carreto de relação primária de vinte e três dentes em vez dos vinte originais, emparelhada com uma cremalheira de sessenta e cinco dentes, por troca com os sessenta e oito de fábrica.

Fechado o motor era preciso conferir contas. E fazer figas. Infelizmente não resultou perfeita. Ainda é possível tentar outro escape. Mas para alterar a relação de caixa torna-se necessário abrir de novo o motor. Talvez para um set up mais consensual - e experimentado com sucesso – de vinte e dois sessenta e sete.




Mesmo assim, a scooter é muito divertida. Tanto quanto uma Vespa PX consegue ser. Experimentei esta LML no scooterpt camping, conjuntamente com outras oito ou nove scooters. Não se distingue, no tacto, de uma PX recente e estimada, se exceptuarmos as várias nuances que amiúde se escondem sob os balons direitos de cada PX. Sente-se sempre baixa de guiador para os meus padrões – estou habituado às GT(S), lembram-se? – , mas nada cansativa nos punhos. Há muito espaço livre para as pernas. Quase não vibra. Pelo menos se o termo de comparação for uma Lambretta. E curva à mínima ordem do cérebro. Aqui pareceu-me menos progressiva nas transições de inclinação do que outras PX, mas julgo que a explicação estava num pneu dianteiro em fim de vida, suspeito que também culpado de uma travagem pouco precisa a manter a direccionalidade ordenada pelo guiador. Na verdade pareceu-me quase aleatória, embora sem se tornar verdadeiramente perigosa.




Estes espinhos no projecto podiam retirar-lhe brilho e induzir algum desânimo no seu proprietário. Julgo que não foi o caso. E essa é uma verdadeira vantagem de uma LML 2T. É relativamente fácil e acessível construir-lhe um coração à medida, como um puzzle com múltiplas configurações possíveis. E tentar acertar num set up que sirva os propósitos e o gosto do seu proprietário. Sempre gostei de puzzles.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sonho de Outono em Montejunto

Bianca, 27 de Novembro de 2010, Serra de Montejunto.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ecos de Milão (V) – Protótipos & Novidades



Ao cair o pano sobre Milão, detenho-me nos protótipos.

A BMW decidiu apresentar a Concept C, um protótipo futurista com uma linha hi-tec, pretendendo interpretar sob a forma de scooter o ADN bávaro.

O protótipo tem um porte imponente. Há muito alumínio escovado à vista e a ideia de o apresentar assim é reforçar o quão alto é o nível de acabamento e sofisticação.

Pareceu-me haver algum desequilíbrio de proporções – talvez intencional - , com demasiado volume à frente. Há algo na carenagem frontal que, em certos ângulos laterais, me faz lembrar a incrível e quadrada sport tourer K1 do início dos anos 90, uma moto que sempre me fascinou.







Agradou-me o design geral, mas à parte a ausência de espelhos, suprimidos em favor de duas câmaras junto à luz de stop, e dos pneus com rasgos azuis, não é muito mais do que um exercício de estilo competente, mas frio. Como o alumínio.

Veremos se a Concept C (C de commuter) rasga caminho à entrada da BMW no segmento das scooters desportivas, com a Gilera GP800 e a Yamaha T-MAX como actuais referências.



Uma das oito estreias que a Honda trouxe até Milão é um protótipo de scooter desportiva, a New Mid Concept.

Está bastante mais próxima de um modelo de produção do que a Concept C.

A Honda tem tido alguma relutância em entrar na guerra ao armamento pesado, continuando sem apresentar no seu catálogo nenhuma concorrente directa das maxiscooters mais espevitadas.

Embora nada se saiba oficialmente sobre a cilindrada do motor, será seguramente um dois cilindros.

Estreia-se a Dual Clutch da VFR1200, o que permitirá outra liberdade de movimentos nos apetites do condutor sobre a transmissão, que por sinal é feita por corrente.



À vista, salta ainda o facto de calçar jantes de dezassete polegadas, uma medida rara em scooters, e jamais vista em scooters com pretensões desportivas. Antecipa-se, por isso, aprumo e rigor no comportamento, e uma certa aproximação ao handling das motos puras, mas mantendo a posição de condução com os pés para a frente. Este último aspecto é inovador numa scooter com rodas desta dimensão, pois ter uma scooter com rodas de dezasseis ou mais polegadas era, até agora, sinónimo de estrado plano.


Num Salão como Milão não é incomum surgirem protótipos ou meros estudos em maquete, modo de garantir alguma atenção extra por parte dos visitantes, algo aturdidos com a torrente de novidades e extensão dos pavilhões. Um desses construtores é a Garelli, que mostrou esta maquete para além de uma gama de scooters de baixa cilindrada com muita atenção aos detalhes e  qualidade perceptível elevada.




Fora dos protótipos, destaque para a muito aguardada Quadro de quatro rodas. Mesmo esta discutível versão para a Polícia de Nova York (?) não fez desaparecer a minha curiosidade sobre o comportamento do inovador engenho.







 
Na Kymco, a MyRoad 700 de dois cilindros fez nova aparição. Não sei se irá ser lançada no mercado, mas é seguramente a maior scooter em que já me sentei, tendo agradado pela evidente qualidade dos componentes. Fico, no entanto, com a sensação de que por vezes menos é mais. E que talvez sejam centímetros cúbicos, quilos e porte em excesso para uma scooter.




Na SYM podia ver-se a nova MaxSym 400, que desconfio que será um best seller em terras lusas, assim se mantenha a política de preços agressiva do importador nacional.



 
As rejuvenescidas MP3 agradaram-me na nova roupagem City. Cinco anos passaram desde a apresentação da revolucionária MP3 original, modelo que veio ampliar o espectro de sensações disponíveis em scooter para patamares até então desconhecidos. Continuo a ser grande adepto deste conceito. Mais tarde ou mais cedo, hei-de ter uma.






Termino esta síntese sobre a EICMA 2010 como comecei o primeiro post. Com uma interpretação da Polini sobre a Vespa 50 Special de 1969.

 




domingo, 21 de novembro de 2010

Ecos de Milão (IV) - LML



Lindas Mesmo Lindas. O stand da LML assemelhava-se a uma loja de rebuçados, em que os passantes retrocediam no seu conta quilómetros mental até à idade da inocência.
 
Acredito que se fizessem um inquérito, a primeira preocupação da esmagadora maioria dos que por ali passaram era escolher a cor da sua LML preferida. E não propriamente saber se precisam ou ponderam adquirir uma. É uma das formas clássicas de trabalhar o desejo.

O importador italiano assume-se sem complexos como a alavanca do fenómeno LML na Europa, ao preparar um contragolpe trovejando novidades, precisamente quando a sua anterior parceira, a Piaggio Vespa, se ergue de um sono profundo, desempoeirando do baú a velha PX.
 
Ficou patente o entusiasmo (será paixão?) que a LML (ou a LML Itália?) incorpora nos produtos que apresentou na EICMA. Tentando abraçar as várias tendências actuais e antecipar as futuras, mostraram uma gama muito completa que gira em torno da mesma scooter base, a Star, que por sua vez é uma cópia quase cem por cento fiel da PX.
 
O primeiro aviso já tinha vindo sob a forma de um motor de ciclo quatro tempos. Aparentemente, o relógio tem estado a provar a validade desta opção, sem que a Piaggio tenha ido atrás da ideia.
 
Com o que mostrou agora na EICMA, a LML Itália está a elevar de novo a fasquia e, parece-me, acertando no alvo.
 
O que está a fazer de diferente é muito simples e parece básico. Personalizar as scooters à saída do stand e chave na mão, potenciando a individualidade de cada um dos seus clientes. E fá-lo indo ao encontro do que o mercado parece querer.





 
Claro destaque para a nova série RS, com um poderoso verde seventies, a ausência quase total de cromados, vários detalhes a negro mate, mola e maxilas na cor do diabo, um descanso lateral e um ecrã escurecido bem enquadrado, num conjunto que pretende atrair scooteristas que apreciam um estilo mais desportivo.
 
Achei o verde irresistível. O laranja está no extremo oposto ao apresentar brilhantes (!) ao melhor estilo carro de feira, mas gostos não discuto. Posso eventualmente lamentá-los...









 
A série Mat, muito semelhante à RS mas com pintura mate, também revela auscultação do mercado. Não fiquei convencido com a qualidade da pintura, sendo que o exemplar cinzento era o que, ainda assim, denotava um acabamento mais conseguido.



De sublinhar ainda a versão 200i, a injecção, muito aguardada em Portugal, mas que terá uma estética algo diferente daquela que se mostrou em Milão, não tendo sido ainda destapado o véu sobre a verdadeira amplitude dessas alterações de imagem.


 
A versão eléctrica que a LML apresentou, a Electric,  era uma adaptação primitiva de uma Star a combustão, mais parecendo um plug in do que propriamente uma scooter pensada para ser eléctrica, designadamente no que se refere ao aligeiramento de peso e diferentes necessidades estruturais.



 
Outras versões expostas eram as Bicolor, as GT, e as já conhecidas do mercado português, as Vintage, Classic, e Glamour, diferenciadas apenas pela tonalidade das combinações banco/chassis. A multiplicidade de versões e cores, acresce ainda uma linha de capacetes desenhada para as LML, bem como de top case específicos.
















Por fim, a Star Corsa de competição, que servirá de base ao Trofeo Polini Italian Cup 2011. Grupo térmico Polini de 165cc, carburação específica a cargo da japonesa Mikuni, quatro tempos, escape, suspensões reguláveis, disco majorado e slicks. Porque a competição é o terreno de excelência para se trabalhar uma marca.


Comparando com os stands que tenho vindo a abordar nos posts anteriores, ficou-me a sensação de diferença. Aqui, na LML, algo está verdadeiramente a acontecer. Pelo contrário, na Vespa e na Lambretta encontrei cenários em que algo já aconteceu ou vai acontecer. Toda uma diferença quando se avalia a vitalidade de uma marca.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ecos de Milão (III) - Lambretta

 
Devo dizer que a minha admiração pelas Lambrettas clássicas é relativamente recente. Mas tem vindo a agigantar-se perigosamente no meu espírito. Já me tem acontecido pecar em pensamento, imaginando uma DL 150 num lugar de garagem que me pertença. Tenho conseguido controlar à distância este maléfico desejo com o papão técnico. É conhecida a minha inaptidão para sujar as mãos em óleo, só comparável à minha exígua capacidade para lidar com os mistérios do humor de uma clássica.
 
 


Seguramente não estava a pensar numa DL 150 quando encarei o stand Lambretta na EICMA. E tenho que confessar que fiquei algo inquieto quando vi ao vivo o modelo exposto. A primeira sensação é familiar, porque já me habituei a vê-la em fotografias de salões anteriores. Mas é daquelas scooters que é realmente estranha. Parece tosca, e provavelmente é. Mas – paradoxalmente, talvez - o desenho é bom, mesmo sendo declaradamente retro. Não se sente original, mas agrada, embora sem deslumbrar.




 
Do que menos gostei foi da sensação a plástico. Não há nada de errado com o plástico, aliás essa é a pele mais comum à esmagadora maioria das scooters hoje. Mas nesta scooter em particular o plástico parece sublinhar-se em todos os componentes. Há pormenores bonitos, mas o material acaba por destacar-se a bold. Tresanda a plástico.





 
Conversamos com o responsável pelo stand e fazemos algumas perguntas. Ficamos a saber que o motor será SYM, de 125 e 150cc, refrigerado a ar, a quatro tempos e de transmissão automática. As rodas serão de doze polegadas e atrás estará um travão de tambor a ajudar a missão do disco frontal. Garantem-nos ainda que em Itália se proporá a sua venda por um preço em torno dos três mil euros, algures no primeiro quartel de 2011. Será ?... Voltei a pensar na DL.


 

sábado, 13 de novembro de 2010

Ecos de Milão (II) - Vespa



A Vespa apresentou um stand sóbrio, em tons de branco, mas com um certo ar de sofisticação, com toda a gama GTS(V), Super, S e LX(V) com pequenas novidades de pormenor, espalhadas pela zona nuclear, e a mais aguardada PX mais recuada, com uma quase bizarra inscrição de world premiere em legenda no palanque rotativo.







Sobre esta PX já tudo se disse – ao longo dos últimos trinta e três anos – pelo que optei por destacar pequenos pormenores, garantindo que o azul presente na apresentação tem, ao vivo, um efeito soberbo.







À esquerda da PX exibia-se uma instalação simples mas bela de dois chassis monobloco despidos, pendurados na vertical, nos dois lados de uma mesma parede, pondo a nu as soldaduras de uma identidade.

Não por acaso escolheram-se dois quadros de GTS Super, como que reforçando que a tradição se faz também de transição.