domingo, 1 de maio de 2016

Espaço e Uma Golden Special





No contexto dos entusiastas de scooters antigas encontram-se múltiplas abordagens ao fenómeno da relação com a máquina. Desde o coleccionismo eclético até ao temático. Do comprador compulsivo ao scooterista de um amor só. São inúmeros os níveis de gradação. Contrariamente ao que muita gente possa pensar, não é tão incomum assim encontrar quem acumule mais de dez scooters. Ou até quem coleccione número idêntico, mas em caixotes, e na verdade não tenha nenhuma em condições de circulação. 

Ao contrário do que acontece com a generalidade dos coleccionadores de veículos motorizados com mais de uma dezena de clássicos, com as scooters não é obrigatório ter contas bancárias no Panamá em nome de empresas com nomes estranhos. Claro que ajudará, mas no mundo das scooters podemos ter, sem vender um rim, vários veículos que para além de especiais aos nossos olhos, são também relativamente raros.

O espaço diminuto que ocupam é uma vantagem mas também um perigo. É que não causa espanto ver-se um scooterista mais impulsivo ir comprando sem vender. Porém, e em geral, a acumulação e consequente redução do espaço demora bastante mais se compararmos com as consequências de vírus idêntico nas quatro rodas. 

Tudo isto significa que, pese embora seja sempre necessário algum capital e condições logísticas mínimas, a scooter é talvez o mais acessível dos brinquedos motorizados antigos a que se pode chegar, com verdadeiro risco de sobredosagem.  

Não obstante, a minha história com as clássicas antigas é - julgo que felizmente - relativamente distante. Pelo menos ao ponto de nunca ter estado suficientemente perto de perder a cabeça por uma. Ainda estão vivos os meus traumas de infância motivados pela fraca fiabilidade de motores a dois tempos nos karts. E o cheiro a dois tempos na roupa nunca foi perfume que me agradasse. Tudo razões que têm sido uma preciosa barreira à aquisição de antigas.  

Depois, nas Vespa por exemplo, nunca me imaginei a comprar uma antiga, com excepção da Rally 200. Nas Lambretta já não é bem assim, já que qualquer boa DL ou SX me deixa em modo de alerta. Mas seguro. Pelo menos até agora.

Porém, há uns meses vi com alguma atenção a incrível Li Golden Special que acompanha este post. Embora não seja raro encontrar uma Lambretta rápida e reluzente, o nível de acabamento e detalhe empregues na Li Golden Special do Rui Carvalho está num outro patamar. Difícil de resistir.

Se racionalizar por dois minutos, concluo que provavelmente iria arranjar uma companhia para a Bianca. O que, convenhamos, não só não fará grande sentido, como criaria uma dispensável crise de autoestima na rainha.

Tudo isto é verdade. Porém, já passou quase um ano sobre as duas fotografias que fiz desta Golden em particular. E continuo, com alguma frequência, a ocupar espaço a comprá-la na minha cabeça.

Começo a sentir-me inseguro.




3 comentários:

Rui Tavares disse...

Sentes o cerco a apertar?

VCS disse...

Digamos que esta Golden em particular surge com uma frequência no meu radar de pensamentos dispendiosos que já não é compatível com um capricho de rastilho curto.
O detalhe deste exemplar é qualquer coisa. Mesmo para alguém que não se engana na cor do parafuso interior.

Abraço,
Vasco

Anónimo disse...

É minha impressão, ou há qualquer coisa no ar em Torres Vedras esta Primavera?

Sei lá, como que um rencontro de desejos antigos por coisas antigas… :)

Abraço,
Paulo