Há dias almocei com um amigo há
largos anos utilizador diário de scooter, que me apareceu no almoço com uma
Triumph Bonneville T100 novinha em folha. Perguntei-lhe pela Piaggio X Evo e
disse-me que a tinha entregue na retoma à Triumph. Confesso que ainda não tinha
olhado com a devida atenção para a T100, e depois de duas voltas à moto concluí
que, aparte a configuração do motor, não está assim tão longe da única moto
que, hoje, e nas minhas circunstâncias actuais, consideraria comprar para mim:
a Moto Guzzi V7. “Porque é que não compras uma ?”, retorquiu. Fiquei a pensar
no assunto e voltei mentalmente a uma questão básica: scooter ou moto ?
Classicamente há três grandes
critérios de escolha. Nem todos eles com o mesmo peso e importância, uns são
decisivos ou eliminatórios, outros não. Em qualquer deles a escolha pode
derrapar na escala do totalmente racional e adequado, ao totalmente irracional
e desadequado.
Em primeiro lugar a forma. Nesta
categoria podemos incluir o desenho, as proporções, o tamanho.
Em segundo lugar a função. Neste
capítulo afere-se o comportamento em geral,
velocidade, travagem, equilíbrio, segurança, ergonomia, altura ao solo,
dimensões das rodas. E também aspectos como a manutenção.
Em terceiro lugar o ego. Uma espécie
de feel good factor. Um requisito que, consciente ou inconscientemente nos
impomos, que pode ser aparente ou evidente, e que avaliamos como necessário para nos sentirmos bem ao adquirir determinado objecto. Quer seja por
satisfação interior, quer seja por assumirmos determinada percepção (verdadeira
ou não) por parte de terceiros relativamente à nossa escolha.
Na maior parte dos casos, o critério
ego é o que decide. Dito de outra forma, o primeiro e o segundo critérios podem
estar preenchidos, mas se o ego não quiser, a compra não se fará. Estou
convencido que só assim não será se a compra for definida por critérios quase
exclusivamente racionais. O que acontece com alguma frequência com motos ou
scooters utilitárias. Mas quanto mais irracional for a compra, maior o peso do
ego na definição.
No meu caso específico, nenhuma das minhas
scooters é utilitária, de uso diário.
A compra da Bianca foi definida em
grande parte por critérios não racionais. E a LML, embora menos, também. Ajuda
não lhes dar um uso diário, o que secundariza a razão em função de factores
mais lúdicos, ou do domínio do capricho, ou de ordem sentimental. Porém, em
rigor este argumento que serve para a escolha da scooter era perfeitamente
reversível: podia comprar uma moto como a Guzzi V7. Não me sairia muito mais
caro. Teria mais performance, embora sem excessos, é de uma beleza desconcertante,
um V2 transversal, uma moto mais competente para longas tiradas como gosto, com
outra polivalência.
Alguns dirão que a V7 até conta com
uma imagem mais afirmativa. Masculina. E que uma scooter é e sempre será uma moto
fraquinha. Leve, lenta, confinada a percursos curtos, para ir ao café ou para o
trabalho. Incapaz de entusiasmar. Não é uma moto a sério.
Discordo.
Adoro motos. Mas, para mim, a scooter é um bicho que representa um equilíbrio. Pode ser irracional, metafísico até: a síntese
entre uma bicicleta, um pássaro e uma moto.
6 comentários:
Apesar de já saberes a minha opinião, aqui a deixo: Compra e anda com o que te der gozo. Mesmo que o escape esteja a cair. Tenho mais arames.
Rui,
Guarda os arames para 2016, talvez possas levar a Lambretta de novo e eu consiga acompanhar-te mais de perto.
A Guzzi V7 não está nos meus planos. Mas seria a moto moderna de estrada que compraria se tivesse "espaço" para mais uma duas rodas.
Para já as scooters encaixam no meu puzzle.
Abraço,
Vasco
Vasco, só quem anda de scooter consegue perceber a irracionalidade que nos leva a andar numa "levezinha"...
Quando estava aí, a LaMeLas era o meu veículo diário... Dentro das scooters temos muitas opções... Quem disse que a Bianca não faz uma voltinha pela Europa?
Agora tens que me explicar o porquê de a azeitona já não fazer parte das tuas opções...
Nuno,
A Bianca faria várias voltas pela Europa, sem dúvida. E a LML também, embora com mais dias para gastar.
Quanto à pergunta do teu último parágrafo, será respondida muito em breve. E suspeito que não te desagradará.
Abraço,
Vasco
O titulo deste blog, é uma pergunta que já fiz n vezes a mim mesmo. Nunca consegui justificar racionalmente a escolha pela mota. Às vezes nem pela scooter. Só mesmo pela paixão... ainda que nem sempre bem alimentada. 😜
gostei muito da tua síntese de "scooter": bicicleta, passáro, mota!
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