No editorial deste mês da revista Motor Clássico, o seu director, Adelino Dinis, faz uma breve incursão pela história dos Concursos de Elegância Automóvel. De acordo com Adelino, existe um antes e um depois de Pebble Beach, nos EUA, há cerca de 50 anos. A evolução que se registou depois, a reboque da progressão técnica e do crescente interesse pelos clássicos, trouxe-nos restauros cada vez mais perfeitos. A par destes, a avaliação pelos jurados especialistas de nível internacional, neste tipo de concursos, também foi mudando. "Mas chegou um ponto em que, para ganhar, proprietários e profissionais faziam, literalmente, carros 100 por cento novos. Eram automóveis autênticos que pareciam réplicas." - escreve o Adelino.
O modo como a FIVA (Federação Internacional do Veículo Antigo) reagiu a este ponto aparentemente sem retorno foi interessante: os parâmetros mudaram e o foco passou a ser dirigido para a preservação e autenticidade. A filosofia do restauro é o grande critério matriz. E para um olhar treinado é relativamente fácil perceber se o objectivo foi salvar o máximo de componentes originais ou, pelo contrário, refazê-los na íntegra, obtendo-se como resultado um veículo que quase nada tem do que saiu de fábrica. "À medida que entra o brilho de algo feito agora, sai a história do objecto original".
Esta recente abordagem, que começou a ser posta em prática no concurso mais importante da Europa, Villa d´Este, mas já está a ser aplicada pelos jurados nos melhores concursos, determina algo muito simples: o estado "melhor do que novo" deixou de ser desejável. Ou seja, a reconstrução total, que é uma actividade nobre, dispendiosa e difícil, não é vista como arte. "A arte está em recuperar tudo o que pode ser salvo e substituir apenas o que está perdido". É ainda mais caro e difícil. Porém, preservar ao máximo a autenticidade é, nos padrões de hoje, o caminho certo para o restauro.
Imagem: Rui Simões
6 comentários:
Não que pretenda candidatar a minha Lambretta a qualquer tipo de concurso, mas acabaste de me convencer a NÃO restaurar a Handa Nagazoza.
Já tinha o projeto de a restaurar esteticamente numa gaveta semi-aberta, até porque ela tem alguns aspetos que já não são os originais, mas fechei a gaveta e abri outra que tem uma etiqueta a dizer: Procurar componentes originais, com tempo.
Rui,
Não foi inocente a escolha da bela fotografia do Rui Simões feita no P3 da última Regularidade.
Pensa na tua Lambretta daqui a 20 anos, e vou só dar-te um exemplo: esses cárteres não deveriam manter-se laranja ?
Abraço,
Vasco
Caro Vasco, o restauro ao nível de concurso também não me seduz. Normalmente são processos que consomem recursos em excesso, logo só se tornam viáveis para veículos com valores comerciais elevados, devido à raridade, pedigree ou interesse histórico. De fora acabam por ficar 99% dos exemplares construídos ao longo da história da mobilidaded, que vão sendo abandonados, canibalizados ou mesmo abatidos.
Os veículos de concurso, acabam também por se tornar bibelots de museu, que raramente são utilizados pelos seus proprietários. Os veículos antigos são para usar, independentemente do estado em que estiverem ou da sua originalidade.
Ainda há pouco tempo num encontro do VCL recordo-me de alguém comentar que uma determinada 90SS não estava original porque lhe faltava um friso cromado algures. Santa Paciência, a mota estava um show!
Portanto, desde que o proprietário esteja satisfeito com aquilo que conduz, original, de concurso, restaurado ou reconstruído, etc... tudo é bom, desde que nos dê gozo. Abraço.
Castanheira,
De acordo quanto ao princípio. A utilização, ainda que parcimoniosa, é fundamental num veículo. Aliás, por definição, um veículo é feito para andar e não para ser exposto.
O ponto do Adelino é um pouco o da filosofia do restauro: melhor que novo, isto é, saído da fábrica "melhorado", ou restaurado no sentido de bem recuperado, com pelo menos alguns dos sinais identificadores de uso - sempre únicos - presentes ?
Claro que depois há questões de grau que são importantes: se estivermos a falar de pedigree de "competição", o critério pode e deve ser refocado: não falando em Ferraris 250 GTO Drago, e voltando à Lambretta do Rui: em 2013 tem um Lés a Lés completado (contra muitas expectativas, até de especialistas na matéria) e uma Regularidade. Será de apagar as cicatrizes dessas marcas ?
Abraço,
Vasco
Directamente à tua pergunta, não, não penso tirar o laranja. Achas que devia?
Rui,
Eu manteria o laranja. É certo que começou quase como parvoíce, mas até já disseminaste o conceito para outras latitudes, e é uma marca distintiva ou dos motores "feitos" onde esse foi sendo construído, quase como um protótipo, ou como marca de equipa. É uma curiosidade da tua Lambretta que julgo que não se justificará apagar. É só a minha opinião.
Abraço,
Vasco
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