Já aqui estivemos antes e sabemos ao que vamos. Pela primeira vez em sete anos tinha a sensação de que 2014 seria um ano bom para faltar ao Lés a Lés, para fazer uma pausa. A décima sexta edição propunha-se, pela primeira vez, rolar em grande parte junto à costa atlântica, em vez de explorar territórios do interior. Pensei que seria muito mais difícil surpreender e ver o que os meus olhos ainda não tocaram. Não me enganei. Fizemos alguns troços mais enfadonhos e ligações de trinta, quarenta quilómetros, quase tenebrosas de feias. Mas as surpresas - que as houve - foram preciosas e pesaram na balança bem mais do que as limitações de uma edição que, provavelmente, teria mesmo que fazer-se assim.
São várias as razões por que é tão difícil desligar do magnetismo que a prova exerce sobre as minhas opções, que sintetizo numa palavra: conceito. Endurance, estrada por pelo menos doze horas por dia, descoberta, pinceladas culturais na medida certa. A estes ingredientes convém adicionar o sal que faz do Lés a Lés a receita imperdível, mesmo em anos previsivelmente menos dotados: scooters improváveis e fortes laços de amizade.
O Rui, o mais conhecedor e eclético scooterista nacional, decidiu levar a Lambretta de coração laranja. Talvez inspirada pela companhia da Helix, a veterana italiana não resmungou uma única vez e foi, nas mãos do Rui, e com grande avanço, a scooter (ou moto) com mais classe que subiu os três palanques, em Lagoa, Peniche e Gaia.
Uma das diversões maiores era acordar o motor a toque de batuta de maestro, em coordenação perfeita entre as ordens do condutor da Helix, executadas pela orquestra composta pelo kick e controlo do acelerador do Rui na Lambretta, e as goelas do Jetex. Qualquer momento de paragem era uma boa ocasião para mais um número de sincronia e uma ode à sinfonia. Os nossos sorrisos quase infantis e os comentários que se ouviam pelo rádio nos capacetes, eram só mais uma prova do quão simples - e fora de moda - podem ser estes prazeres.
A Lambretta, apelidada pelo Rui de Handa Nagazoza, foi a estrela maior do evento e provou ser merecedora do número um que, infelizmente, não foi possível conseguir, em favor de oito equipas nas indestrutíveis motorizadas nacionais, este ano quase todas restauradas. Continuo a pensar que a organização devia isentar o Rui do preço da inscrição por levar scooters como esta num evento tão massificado pelas BMW GS, com quase quarenta por cento do parque de motos a pertencer à casa alemã.
A par da Scuderia Sereníssima, com o número nove, viajaram connosco o Paulo, na PX 177, e o Miguel, numa SYM GTS 125, como equipa número dez.
O Paulo fez o Lés pela segunda vez e provou que o seu nível de intimidade com a PX 177, a sua Luíza com "z", não esmoreceu. A Vespa chamou a atenção do grupo e atrasou-nos durante a primeira parte da primeira etapa, concedendo-nos a oportunidade para "lições de mecânica na estrada sob calor escaldante", partes I e II, sendo que a parte III ficou reservada para o parque fechado em Setúbal, já depois do almoço. Humor refinado, resistência acima da média e dotes mecânicos fazem do Paulo um scooterista que qualquer equipa quer ter.
O Miguel foi a surpresa da edição deste ano. Com nove meses e menos de quatro mil quilómetros de experiência, este scooterista emergente da directiva das 125 sentiu-se seguro e à vontade no ritmo e nas exigências da prova, e provou o meu ponto há anos: que com gosto pelas duas rodas, um pouco de jeito e intuição, o Lés a Lés está ao alcance de qualquer um, em qualquer moto.
O Miguel foi a surpresa da edição deste ano. Com nove meses e menos de quatro mil quilómetros de experiência, este scooterista emergente da directiva das 125 sentiu-se seguro e à vontade no ritmo e nas exigências da prova, e provou o meu ponto há anos: que com gosto pelas duas rodas, um pouco de jeito e intuição, o Lés a Lés está ao alcance de qualquer um, em qualquer moto.
15 comentários:
As insónias podem ter coisas boas como, por exemplo, ler este post ainda fresquinho. :) Muito bom uma vez mais. Parabéns aos quatro.
Quatro dias, quatro amigos. Foi essa a essência, condimentada por um azul piscina, uma Luiza a querer atenção, um novato de fazer vergonha a muito veterano e uma Lambretta atrevida e ruidosa indecisa entre a terceira e a quarta, mas determinada a fazerse ouvir.
Espectacular mesmo, grande aventura que deve ter sido. muitos Parabéns à equipa, especialmente ao Rui que conheço pessoalmente! Abraço e continuem assim.
Relato absolutamente fantástico, acompanhado de fotos magníficas, como já nos habituaste.
Deve ter sido uma aventura fabulosa, deixou-me cheio de vontade de fazer algo do género.
Um abraço
Foi bom ler este relato e relembrar a experiência que tive na edição anterior.
Fico contente por ter corrido tudo bem estão todos de parabéns.
Abraço
Hugo,
Obrigado também pela tua presença em Gaia e pelas fotografias, foi óptimo rever-te e pôr a conversa em dia. Já lancei um desafio à equipa para algo realmente improvável para o ano, vamos ver...
Grande abraço,
Vasco
Rui,
A quarta na Lambretta só exige que te empranches como se estivesses na piscina... azul.
Abraço,
Vasco
Catarino,
Obrigado pelo comentário, o Lés a Lés é uma prova à medida da Rally, era um óptimo desafio.
Abraço,
Vasco
Rastafarian,
Obrigado. Não tenho dúvidas de que irias adorar o Lés, aponta para 2015.
Abraço,
Vasco
Canha,
Muito obrigado pela recepção no centro de Aveiro, soube-nos muito bem, e adorámos os fresquíssimos ovos moles que nos deram um suplemento de energia precioso para terminar a etapa. Já estávamos bem moídos naquela parte da etapa.
Sentimos falta da tua presença este ano, vê se não falhas 2015.
Abraço,
Vasco
Desafio?! Mais improvável do que ir de Helix, PX, Li e GTS!? Isso é uma promessa ou uma ameaça? E nós que te viamos como um amigo, mentor, sensato, seguro...
Se começas a sentir que a nossa abordagem se está a tornar demasiado burguesa, que te faz falta a adrenalina de quando eras novo e começaste no Lés a Lés, nós adaptamos-te a Helix para ficar mais asustadora :)
Só que depois terias de guiar sentado, com as duas mãos no guiador, a olhar em frente e.... não teriamos as tuas mágnificas fotos...
Muito obrigado Vasco pela companhia, e pelas memórias tão bem registadas.
Já estava há espera deste post há algum tempo. Delicioso como previa. Obrigado, mais uma vez, por me deixares "ir à boleia" neste Lal. Mesmo sendo só no sofá. :)
Abraço
Julio
p.s. - temos que marcar uma voltinha pelo oeste!...
Paulo,
Como sabemos, há máquinas ainda mais improváveis do que a Lambretta na agenda. Aliás, julgo que este foi o primeiro ano em que lancei uma sugestão de projecto para o LAL seguinte, logo no jantar de encerramento. Isto promete !
Abraço,
Vasco
Júlio,
Fico contente por apreciares as fotografias.
Realmente já estão muito distantes as memórias do primeiro LAL nas nossas duas Vespa Granturismo...
Para quando um regresso teu ?
Abraço,
Vasco
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