O que é que a regularidade oferece a Vespistas e Clubes? É a esta e a outras perguntas que o Paulo Simões Coelho, Vespista de décadas, viajante experimentado e pela primeira vez participante na Regularidade do Vespa Clube de Lisboa, se propõe responder. Entusiasta da ideia, levou a sério o desafio do presidente do clube, João Máximo - na imagem acima a controlar o Paulo no posto 2 - , para discorrer sobre os méritos e fraquezas da prova, da organização e do próprio formato proposto.
As palavras que se seguem correspondem ao texto que o Paulo simpaticamente preparou e me enviou, para fazer dele o que entendesse.
"O “resumo executivo” quanto à montagem da prova é que seria difícil melhorar. O resumo pessoal é ADOREI!
As palavras que se seguem correspondem ao texto que o Paulo simpaticamente preparou e me enviou, para fazer dele o que entendesse.
Julgo que o texto nos traz não só um input precioso e de grande utilidade para quem organiza ou participa, como também uma perspectiva rica, detalhada e clara do que uma Regularidade pode representar, prisma com o qual muito me identifico. Seria, portanto, um crime lesa Regularidade que o email ficasse preso na minha caixa de correio.
"O “resumo executivo” quanto à montagem da prova é que seria difícil melhorar. O resumo pessoal é ADOREI!
Roadbook:
Diagramas claros, intervalos de indicação correctos, e as notas resolviam as possíveis armadilhas/ambiguidades. Estava lá tudo o que tinha de estar e pareceu-me que a maioria dos “erros” que as pessoas referiam relacionavam-se mais com falta de atenção na leitura do que falhas do RB;
Quilometragens indicadas bateram quase sempre certas com os naturais desvios de 0.1 ou 0.2 por causa dos arredondamentos e/ou diferenças de calibração. A única diferença mais relevante foi a que me lixou os tempos mas, mesmo aí foi uma decisão errada da minha parte mais do que o RB;
Dificilmente poderia ser melhor, e penso também que um RB deve ter como objectivo ter a informação suficiente, de forma clara e homogénea, e não o de ser “idiot-proof”.
Cuidado com as letras pequenas: ler um RB a vibrar enquanto se conduz já é desafiante quando se está a conduzir rápido, a partir dos 45 anos de idade pode ser perigoso. E aos 51, houve 2 ocasiões em que tive de parar e tirar os óculos para conseguir ler nomes de aldeias.
Percurso e Ritmo:
Simplesmente fantástico: bonita e variada paisagem e aldeias, estradas interessantes e desafiantes de guiar, piso perfeitamente potável a bom, terra sem nenhum excesso de tecnicidade (ajudado pela meteorologia);
Distância total e duração qb: suficientemente longa para requerer um pouco de endurance física, e sobretudo na concentração, mas sem que isso se tornasse numa carga de risco ou um desafio dominante mesmo quando as pessoas optaram por não parar durante o percurso. Afinal de contas, o percurso era “só” o equivalente de 25% de um dia de L-a-L…
Difícil de comentar sem ver a dispersão dos tempos de todos mas, a mim, o objectivo de 40kmh também me pareceu globalmente bem. Dada a experiência presente no plantel, acho que estiveram bastantes vespistas que não teriam dificuldade em manter uma média 10 a 15% superior neste percurso. Mas isto em andamento, quando incluímos as paragens, controlos, desvios etc. 40 estava bem. E depois 1,5 minutos por km facilita imenso as contas de cabeça!
A pensar: com 40km/h acho que ninguém teve de se preocupar com gerir o risco de penalizar por chegar adiantado o que retira um dos elementos de desafio, e aumenta a “pressão” para maximizar o andamento.
Logística:
Horários cumpridos sem nenhum sentimento de “crise” ou stress. É sempre sinal que a preparação funcionou, mesmo quando não foi essa a sensação de quem esteve nos bastidores na véspera.
O pessoal dos controlos foi eficaz, eficiente, simpático e divertido; exactamente o que se pretende!
Locais de controlo e visibilidade sem problemas.
Antes da partida dava a impressão que alguns dos relógios não estavam sincronizados uns com os outros, não sei se poderia afectar o rigor na contagem de tempo? Se sim, só vejo duas soluções: investir em relógios digitais (só vale a pena se for para manter) ou comparar as horas entre os relógios no final da prova e introduzir correcções quando se calculam os tempos.
Almoço muito agradável e perfeitamente à altura do acontecimento.
Comunicação:
Penso que podemos melhorar a divulgação: incluir no calendário anual, tentar divulgar fora da época de férias.
Finalmente, acho que vale a pena tentar investir um último esforço pós-prova para semear o desejo de participar: fazer com que os participantes revivam a experiência para reforçar a memória do prazer e o orgulho em ter feito, aumenta a probabilidade de que falem nisso aos amigos ; falar sobre a prova nos fóruns, disponibilizar fotos; divulgar rapidamente as tabelas de tempos para analisar e reviver.
Pergunta: O que é que a regularidade oferece a Vespistas e Clubes?
Resposta: Divertimento, satisfação, ligação à marca e ao clube, desenvolvimento de mais prazer, confiança e segurança na vivência da Vespa.
O convívio com pessoas que partilham o gosto pelas Vespas é sempre bom. Quando esse convívio acontece no contexto de um desafio a superar é mais intenso, mais unificador, tem mais tempero. Os clubes já são fortes nos passeios e eventos puramente sociais, acrescentar a regularidade ao leque junta o melhor dos dois e acrescenta uma estrutura de leve desafio que amplifica o prazer e tem um efeito formador, sobretudo para aqueles que se juntaram à família scooterista há menos tempo.
Ao ter um objectivo competitivo que não a velocidade pura a todo o custo, as pessoas tendem a subir um pouco o ritmo habitual e acabam por desenvolver conforto a um ritmo de cruzeiro mais eficiente.
Ao ter um objectivo competitivo que não a velocidade pura a todo o custo, as pessoas tendem a subir um pouco o ritmo habitual e acabam por desenvolver conforto a um ritmo de cruzeiro mais eficiente.
A navegação, utilização do roadbook, gestão de tempos, distâncias, médias e (eventualmente) autonomia de combustível, implica gerir a atenção entre as várias tarefas sem perder a concentração no piso, na condução da moto, no trânsito etc. Dá um treino que produz Vespistas mais competentes e muito mais seguros quer a caminho do trabalho todos os dias, quer numa expedição Vespística a Macau.
A preparação do leitor, o contacto com pessoas que preparam as Vespas para fiabilidade, aumento de performance, conforto, manutenção ou segurança, ensina coisas que ajudam a conhecer melhor a máquina e a ser mais autónomo.
Tudo isto aumenta a gama de coisas que as pessoas estão confortáveis em fazer com a Vespa: se se fazem 120kms antes de almoço entre amigos, então fazer uma pequena viagem nas calmas ao Algarve ou à Serra da Estrela, num dia ou num fim-de-semana, não intimidam. Se aparecer um caminho de terra que daria jeito usar, tão pouco darão meia volta para evitar, podem até divertir-se porque descobriram numa regularidade que não é o fim do mundo. Aumentam as aventuras acessíveis.
E, claro, a Regularidade oferece sempre um passeio! A possibilidade de experimentar caminhos, ver paisagens e aldeias, falar com os locais para pedir indicações… É uma oportunidade de descoberta de luxo: é como ter um guia particular que já sabe o que vale a pena ver e nos leva pelos melhores locais, garante que não perdemos tempo em troços chatos e até nos diz onde há gasolina e dá-nos de almoçar! Mesmo para quem não se quer envolver no desafio da prova de regularidade em si, há esse passeio a stress zero.
Mas a regularidade pode também ser um factor de reforço da interligação regional entre os Vespistas: se conseguirmos que o interesse cresça, o sonho seria haver 3 ou 4 provas em locais diferentes ao longo do ano, cada uma montada pelo clube da zona. Poderia haver um resultado nacional que integrava os resultados das várias provas e até criar um incentivo nos pontos para os participantes que viessem de mais de "x" kms de distância… Isto por passos: no primeiro ano seria acrescentar uma prova no norte como teste de conceito “sem Vasco”.
A médio prazo, à medida que a CSCN vai crescendo, ela junta pessoas com motivações cada vez mais heterogéneas e para cativar as pessoas os clubes podem pensar em oferecer razões mais diversificadas para abranger esses interesses cada vez mais amplos. Podem também assumir um papel de contribuição para a formação e segurança dos seus sócios: a regularidade atinge ambos objectivos, oferecendo uma actividade que também atrai aqueles que gostam de competir mas não estão interessados no investimento, ou no risco, das provas de resistência. Combina bem, por exemplo, com outras acções como workshops de mecânica, sessões de formação numa escola de condução defensiva, ou em pista, disponibilização de informação técnica, workshops de relatos de viagens ou conselhos de planeamento e preparação."
Texto: Paulo Simões Coelho
6 comentários:
excelente prespectiva. ele aposta na continuidade... fala-se em maior divulgação. eu acredito em próximas!
Obrigado Vasco por disponibilizares o texto do Paulo, e obrigado Paulo pelas tuas palavras.
Quando no fim dos encontros peço a opinião dos participantes, é isto mesmo que se pretende. Perceber como foi a prova para quem a viveu na estrada, perceber onde estivemos bem, mas mais importante, onde erramos. Nenhum evento é perfeito, e muitas vezes para quem está do lado da organização, há pormenores que nos escapam e que se não formos informados nunca saberemos que aqui e ali devemos fazer as coisas de forma diferente.
As tuas palavras são sábias e muito importantes para o VCL, e por isso, o nosso obrigado!
Grande abraço e mais importante, obrigado por teres participado.
Parece-me que o texto do Paulo tem duas partes distintas: a análise e a opinião dele enquanto participante na 2ª Regularidade Moderna do VCL; e uma 2ª parte, virada para o futuro e para a exploração do potencial latente neste formato.
Eu julgo que era importante que o post servisse de ignição a um debate e a contribuições de outros entusiastas, de modo a que, após esse confronto de ideias o mais alargado possível, pudessemos avançar para conclusões sobre a continuidade do formato.
Parece-me um excelente kick start. Podemos desenvolvê-lo aqui mesmo, ou noutros fóruns, o importante é perceber:
a) o que é que quem se sente atraído pelo formato pretende;
b)o que é que os clubes querem e até que ponto estão interessados em investir recursos neste formato, com esta ou outras configurações;
c) como incrementar o interesse de quem ainda não experimentou a Regularidade de modo a que apareçam mais participantes ;
Deixo apenas estes três tópicos.
Abraços,
Vasco
Se são devidos agradecimentos diria que serão mais do meu lado, ao VCL por acreditar na Regularidade, ao Vasco pela criação, a quem trabalhou por ter tornado possível, e a quem participou pela companhia e bons momentos…
Só escrevi porque acho que contribuir, seja como for, é a melhor forma de devolver alguma coisa a quem nos dá; e porque escrever é a maneira mais fácil para mim de momento.
Acho a ideia do Vasco excelente: usar os meus “bitaites “ como “alvo” para por as pessoas a pensar e falar, desenvolver uma ideia de próximos passos, responder aos temas que o Vasco propõe, ou mesmo só para aferir se há interesse em próximos passos :)
Não sei é como seria a melhor forma… Se calhar, talvez o Facebook do VCL seja o meio mais adequado?
abraço,
p
ps. Isto tudo assume, claro - à economista :) - que o pessoal está suficientemente interssado para se dar ao trabalho de dicutir... :)
p
Muitos sabem o trabalho que qualquer evento dá a organizar, outros tantos não fazem ideia...
Quando o Vasco me falou pela primeira vez nisto, num passeio à Serra da Estrela, não fazia ideia do que vinha por aí. Nunca participei em nenhuma regularidade, nem sabia sequer que trabalho estava escondido por detrás do sonho.
O maior adversário nestas coisas de eventos (não me refiro apenas à Regularidade), é o tempo disponível que cada um de nós tem para dedicar a estas "festividades". Nem é a questão financeira, que de uma forma ou doutra se vai resolvendo.
É uma questão de disponibilidade. Não conheço nenhum membro de direcção de um Vespa Clube (qualquer que seja) que se dedique única e exclusivamente ao Clube, e como tal, apesar de ser um desafio interessante, e mesmo não sendo impossível, acho difícil conseguir-se uma prova assim a nível nacional.
No entanto, se já o fazemos (enquanto VCL) há dois anos e quem participa quer voltar, não vejo forma de cancelarmos o evento.
Por mim, e enquanto me for possível, haverá regularidade todos os anos.
Claro que há factores a analisar, perceber porque tivemos menos participantes este ano, p.e. mas isso são apenas motivos para tornar a prova melhor a cada ano que passe, para que cheguemos a um ponto em que este seja um evento de referencia nacional.
A experiência, a tentativa e erro, fazem parte da aprendizagem.
E ninguém disse que ia ser fácil...
Obrigado Vasco por teres trazido de volta este bichinho.
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