domingo, 12 de maio de 2013

Em Roma, Cidade Eterna (IV)





Em Roma, sê romano. É-me difícil resistir a este provérbio quando me sinto estrangeiro, não necessariamente fora de Portugal. Mas em Roma o provérbio veste-se de um sentido literal. 


Oito da manhã de Domingo, vou descendo a Via Cavour até ao fim numa Vespa S 125 bianca. Viro à esquerda e o Coliseu impõe-se-me de frente. Contorno-o no sentido dos ponteiros do relógio, acelerando devagar. Daqui a uma hora estará cheio de gente de máquinas fotográficas em punho.




Absorvo a primeira luz da manhã, e lembro-me da história que contei na véspera à Bi, quando aqui estivemos a mostrar-lhe o Coliseu. Sobre lutas entre  homens com armaduras a que chamavam  gladiadores, lutas entre leões, e lutas entre homens e leões. Depois lembrei-me que vi o Ben-Hur com sete anos, precisamente a idade dela, seguramente demasiado cedo. O que explica muita coisa. A Bi fez um desenho no diário de viagens, não quis representar o Coliseu enquanto edifício, desenhou e pintou um leão com o título do monumento. Sorri enquanto pensava nessa memória fresca, ao mesmo tempo que encostava para apreciar o Arco de Constantino, quase sem gente em redor.










A S125 deixou-se guiar com gosto por toda a Roma central. Tem a cilindrada ideal para sair com força dos semáforos, e é esguia para passar entre o trânsito quando este se adensa. Perfeita. De Barberini a Trastevere, de Santa Maria Maggiore ao Circo Massimo. Da Cidade do Vaticano ao Quirinale, onde nessa mesma manhã de 28 de Abril o governo de Letta tomava posse e um desempregado revoltado, no Pallazzo Chigi, perpetrava um atentado contra políticos, atingindo dois carabinieri. Foi o caos no trânsito. Mesmo assim, longe do desnorte em scooter que experimentei em Atenas. Comparativamente, é um exercício bem mais arriscado alugar uma scooter na capital grega, onde as regras só existem no papel. Roma dá dez a zero em civilização a Atenas - escorregadia esta palavra, juro que não fiz de propósito.


Trouxe comigo alguns filmes feitos a bordo da S125, mas falta-me tempo e saber para os montar de modo a que valham a pena ser mostrados. Para quê estragar Roma assim se podemos fazer esse exercício  inspirados no Capítulo I de Caro Diário, de Nanni Moretti.





Não rolamos a ouvir o Concerto de Colónia de Keith Jarrett, como Moretti (nos) faz na homenagem a Pasolini no final deste capítulo. Mas estamos quase lá. Embora não tenha ido a Garbatella ou Monteverdi, como Nanni no filme, soube-me bem vestir a pele de romano. Numa Vespa.



3 comentários:

Rui Tavares disse...

Já andava preocupado, imaginando que lá tinhas andado de carro.

VCS disse...

Rui,

Em Roma de carro não é grande ideia. Até porque tudo se vê a pé, no máximo com a ajuda do metroaté ao Vaticano.
No centro da cidade encontrei quatro rent-a-scooter, com preços razoáveis. As escolhas iam das Kymco People à Vespa GTS 250. Toda uma diferença, por exemplo, para as dificuldades que tivemos em Milão quando lá estivemos na EICMA.

Abraço,
Vasco

Hugo Reis disse...

Reparei, quando estive em Itália, que a CN é muito popular por lá. Foi a primeira scooter que vi mal saí do aeroporto. Se calhar se fosse ao Japão tinha sido uma Vespa.

Belo texto, como sempre!
Grande abraço.