Provavelmente a meia dúzia de atentos seguidores deste espaço já se terá perguntado porque razão a cadência de posts quebrou abruptamente desde o verão. Pelo menos comparando com o ritmo lento, mas constante, que era usual imprimir a esta página. De resto, como numa scooter.
Embora existam outras, a razão principal tem a ver com um susto emergente de mazelas no meu esqueleto envelhecido, que me limita e provavelmente limitará a capacidade de viajar em duas rodas.
A sensação de que nada será como já foi não é fácil de aceitar e tem trazido alguma frustração, associada à dificuldade de assimilar a ideia de que já não poderei fazer alguns dos saborosos disparates de endurance que gosto de fazer e, pior, nunca farei alguns projectos que, no devido tempo, não consegui pôr em prática.
A verdade é que lidei pior do que poderia imaginar com esta realidade nova. E uma das consequências dessa abordagem foi a ausência de vontade de alinhar umas ideias e escrever sobre os temas que aqui habitualmente trago. Ainda mais quando a pequena série de posts que tinha na forja seria dedicada ao que designámos por 4 on Tour 2018, o passeio de cinco dias que, à nossa maneira, recuperou o Lés a Lés de 2017, com uma pitada demolidora de Lés a Lés 2012.
Este blog, com quase dez anos, sempre foi um escape e uma forma particular de abordar os temas ligados a este meio de transporte singular que é a scooter. Nunca quis ou procurei publicidade, e muito menos divulguei activamente o espaço para o tentar transformar em algo mais massificado. Sempre foi uma espécie de diário de bordo pessoal, uma ferramenta interior com uma janela (talvez pequena) para o exterior: alguns amigos interessados e pouco mais.
Não sei se assim se manterá como até aqui. O tempo (e o esqueleto) o dirá. A modesta condição de viajante neste tipo de naus solitárias ficará, muito provavelmente, comprometida no futuro. E é essencialmente essa condição de viajante que sempre me interessou mais abordar. Menos a de utilizador diário que actualmente - que ironia ! - sou.
9 comentários:
Creio perceber o sentimento, que me afecta em mais do que uma maneira. Como amigo, como companheiro de estrada e como alguém com também alguns Km's no esqueleto.
Sugiro no entanto que não apagues já as luzes da Boxe.
Eu próprio já espreitei também essa entrada. Ao longo do tempo e com uns anos de idade à tua frente, fui normalmente tendo a necessidade de adaptar a minha vida ao fluir da idade. Percebi que muito pouco é o fim do que quer que seja. Fazem-se concessões e ajustes, aprende-se a defender de situações e de perceber o que se pode fazer ou não. como e quando. Desenhada a linha de segurança, estica-se apenas um pouco mais, para dar algum gozo e vê lá tu que continuo com as boxes iluminadas.
Realmente, que "velhice do Restelo". Nem parece um texto do guerreiro Vasco que conheci há mais de 10 anos nas mundividências jurídicas e quem sabe, as nossas conversas sobre tudo o que se equilibra em 2 rodas, tenha sido um fator impulsionador de ter tirado carta depois já nos "entas".
Na minha modesta opinião, e sendo eu da tua idade, caro Vasco, penso que basta um ajustamento nos BARES das jantes e "siga a Marinha". As mazelas emocionais que talvez ainda sintas, para além das físicas, vais ultrapassá-las precisamente com um "ventinho na cara" e umas boas paisagens campestres.
Como refere o Rui Tavares, muda os filtros e siga.
Grande abraço,
EBR
Rui,
A concessão e o ajuste são, de facto, os conceitos chave. É o esgotamento dessa liberdade quase plena de poderes fazer tudo o que antes estava ao alcance da tua vontade (exluindo agora as condicionantes tempo e dinheiro) que atrofia.
Daí a necessidade de concessão e de ajuste. Tenho-me defendido muito de scooter na cidade. Mas para passeios maiores... será um desafio e um risco grande. Pelo menos para já. Vamos ver como evolui.
Abraço,
Vasco
Slow (Eduardo),
É muito gratificante saber que, de alguma forma, pude contribuir para essa tua decisão de te lançares nas duas rodas. Mais do que isso, é saber o que isso muda as nossas vidas em termos de gozo e fruição de um objecto (a moto).
Quando percebemos que esse objecto pode ter um alcance tão vasto e largo que pode ir do utilitário ao mágico, em efeito harmónio, na nossa cabeça, acho que somos motociclistas especiais. Julgo que muito rapidamente chegaste aí. O que não é para todos.
Um abraço,
Vasco
Gostava bastante de ler este offramp e embora não partilhe o mesmo meio de transporte, scooter de pequena cilindrada quando aqui vinha sentia sempre uma lufada de ar fresco e aquela sensação comum e agradável de "vento na cara" que quem faz duas rodas sejam motorizadas ou não tão bem conhece e aprecia.
Confesso que um dos aspectos que me fazia sonhar quando lia estes textos eram as longas distancias em pequenas cilindradas que sempre pensei que um dia gostaria de emular. Espero que se recomponha rápido e que continue a nos deixe de fazer sonhar.
A ultima frase era obviamente: Que continue a nos fazer sonhar.
Caro Carlos Fonseca,
Obrigado pelo comentário. É gratificante saber que, de alguma forma, o blog pôde induzir esse tipo de sensações.
Vasco
Boas companheiro Vasco,
Já aqui não vinha á muito tempo....Não sabia que tinhas tido um infortúnio de saúde...Espero
que repenses essas ideias de abandonar as viagens e passeios porque isso é o que mais falta faz ao físico e á mente...ISSO, CURA TUDO.
Agora mais a sério, espero que tenhas recuperado a tua saúde acima de tudo. Se conseguires voltar aos passeios, excelente.
Sempre que aqui venho deleito-me a ler e ver as fotos e a sonhar quando chegará o meu dia de fazer assim uns kms valentes em cima da minha menina ( Piaggio Medley 125 ). Mas, a vida não tem permitido...Um dia terei esse prazer com toda a certeza.
Grande abraço e rápidas melhoras.
C.Pires
C.Pires,
Totalmente de acordo quanto à influência positiva dos passeios na parte mental. Tem um impacto imenso como escape ao dia a dia. Quero manter esse hábito sempre que possível, embora agora tenha que ter cuidados e atender a limitações que antes não tinha. Para provar a mim mesmo que ainda não desisti já me inscrevi na ida à Serra da Estrela no Vespa Clube de Lisboa, em Março. Esse será o primeiro grande teste em scooter. Vamos ver como corre.
Abraço e obrigado pela mensagem.
Vasco
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