A imagem permite múltiplas interpretações. A mais óbvia é a de que já gastei umas valentes massas com a minha Honda CN nos últimos meses. O odómetro desnudado serve como representação de uma antiga máquina registadora, não necessariamente em euros. O gigantesco zero no velocímetro significa que a CN ainda nem começou a andar. E os dois traços vazios na régua de combustível lembram-me que não posso ainda fechar a carteira.
Tudo começou com pouco mais de meia dúzia de plásticos em kit, que me levaram a uma viagem por uma pintura em três actos, a um escape - a cuja aquisição resisti durante seis anos - , a um painel de instrumentos novo, passando por um jogo de pneus a estrear, afinações de válvulas ao milímetro, ou a pormenores como o revestimento de porta bagagens novo. Com paciência, fui recebendo as peças do Oriente, da Europa e, com a ajuda preciosa do Miguel, o puzzle foi ganhando forma outra vez. A garagem dele volta agora a poder receber o carro, depois de se libertar das carenagens azuis de um comboio de duas rodas.
Ao longo dos últimos meses temos estado a seguir a odisseia da renovada Lambretta Li que o Rui Tavares preparou especificamente para o Lés a Lés deste ano. Piloto de fábrica, estudou e perguntou a quem sabia, e entregou a Lambretta a um preparador renomado, para reforçar as entranhas do seu motor com mais de cinquenta anos. Para que não haja dúvidas sobre as suas intenções, optou por lacar o seu motor de laranja, em representação do inferno que espera as pequenas e esforçadas peças de metal ao longo dos dois mil quilómetros da viagem.
Como o Rui, também o Paulo Simões Coelho se esforça por levar a PX com quase trinta anos pelo caminho mais difícil. A um par de semanas do arranque sabe que a Vespa não está perfeita, mas tem fé que aguentará. Para incrementar o índice de dificuldade decidiu partir um perno da tampa da embraiagem. Em vez de se irritar, viu nisso mais um motivo para enviar uma encomenda para o Fundão. Não à procura de cerejas, mas de um torneiro da velha guarda, com mãos de midas. Na véspera do arranque uma bobine de reserva aparecerá no saco via Manel, não vá a PX Luísa ficar com falta de energia na viagem.
A ligar estas narrativas soltas estão conversas, cumplicidades, gargalhadas e emails ao longo de meses, nos tempos livres de cada um dos quatro. Nenhum de nós precisa das scooters para trabalhar. São histórias. Histórias de brinquedos.
2 comentários:
Estou a ficar nervoso.
Tenho estado a entreter-me a encher frasquinhos de shampoo dos hotéis e a separar a ferramenta. A Handa Nagazoza continua sem voltar para casa e faltam menos de 15 dias para a minha viagem iniciar.
Rui,
Menos de 8 dias para o quilómetro zero. Para ti já são 7 dias. Temos Nagazoza ?
Abraço,
Vasco
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