A minha memória da Serra da Freita remonta aos episódios ligados ao Rali de Portugal no início dos anos 90. Quando o Rali tinha cinco dias e quase quarenta troços cronometrados. Numa noite de breu, perdidos no meio da serra, cansados depois de um primeiro dia inteiro na estrada passando por Montejunto, Figueiró, Piódão, Caramulo, chegávamos à Freita mais mortos do que vivos.
No meio desse silêncio escuro no velho Ford a calcorrear a serra sem bússola e com o mapa de linhas finas na mão, aparece-nos vindo do nada, sem aviso, um flash de uma bateria de faróis e um bruuuááápáááápáaa a passar por nós e a desaparecer na curva seguinte. Era o quase desconhecido Colin McRae, em troço de ligação, ainda no Subaru Legacy.
As outras memórias que tenho da Freita são de um planalto gelado, à espera de ver o Armin Schwartz no Toyota Celica que nunca chegava ao fim do troço. À partida da Freita era sempre primeiro. Mas batia sempre neste troço, vários anos seguidos. Descobri agora, com outro detalhe que a luz natural permite, os desafios e dificuldades das estradas da Freita.
Quase vinte anos depois, em 2010, uma etapa do Lés a Lés trouxe-nos de S. Pedro do Sul até Entre-os-Rios, e a Freita esteve no mapa. Ficou a semente da curiosidade e a certeza de que teria que aqui voltar com tempo.
E o tempo é o problema. Quando existe, há sempre outras opções, pela proximidade, pela conveniência, pela prioridade do tanto que há para ver. Por alguma razão que sempre se sobrepõe a outras, para quem não vive no eixo Porto - Coimbra, nunca havia oportunidade para entrar por Vale de Cambra ou Arouca. Ou pela N16 paralela ao Vouguinha. E começar a explorar.
Aconteceu agora.
O fim de semana anunciava-se carregado de nuvens, chuva e vento. Que seja. Uma reserva na Pousada da Juventude de S. Pedro do Sul mesmo antes de sair era a certeza de que já não ia dar para alterar o azimute à saída da garagem, como por vezes faço.
O problema destes projectos de média distância improvisados, com scooters relativamente lentas, é o tempo para chegar à zona que queremos explorar. Porém, quando chegamos, a sensação de recompensa parece maior.
A chuva e nevoeiro trouxe-me duas vantagens: uma serra quase só para mim, e uma exuberância bruta, viva, da paisagem. As neblinas adicionavam mistério a um cenário que mudava a cada topo, a cada colina, em estradas que serpenteiam por capricho das superfícies rochosas. São elas que mandam aqui. E o esparso arvoredo. E os cursos de água. E as aldeias paradas no tempo. Candal. Albergaria. Até o cartão de memória da Nikon se recusou a colaborar, como que a dizer que ali, nos vales e nos planaltos, é a natureza que determina o curso dos acontecimentos.
Só no segundo dia houve imagens, e mesmo assim poucas. As outras, ficaram comigo.
Obrigado, Freita.
Quase vinte anos depois, em 2010, uma etapa do Lés a Lés trouxe-nos de S. Pedro do Sul até Entre-os-Rios, e a Freita esteve no mapa. Ficou a semente da curiosidade e a certeza de que teria que aqui voltar com tempo.
E o tempo é o problema. Quando existe, há sempre outras opções, pela proximidade, pela conveniência, pela prioridade do tanto que há para ver. Por alguma razão que sempre se sobrepõe a outras, para quem não vive no eixo Porto - Coimbra, nunca havia oportunidade para entrar por Vale de Cambra ou Arouca. Ou pela N16 paralela ao Vouguinha. E começar a explorar.
Aconteceu agora.
O fim de semana anunciava-se carregado de nuvens, chuva e vento. Que seja. Uma reserva na Pousada da Juventude de S. Pedro do Sul mesmo antes de sair era a certeza de que já não ia dar para alterar o azimute à saída da garagem, como por vezes faço.
O problema destes projectos de média distância improvisados, com scooters relativamente lentas, é o tempo para chegar à zona que queremos explorar. Porém, quando chegamos, a sensação de recompensa parece maior.
A chuva e nevoeiro trouxe-me duas vantagens: uma serra quase só para mim, e uma exuberância bruta, viva, da paisagem. As neblinas adicionavam mistério a um cenário que mudava a cada topo, a cada colina, em estradas que serpenteiam por capricho das superfícies rochosas. São elas que mandam aqui. E o esparso arvoredo. E os cursos de água. E as aldeias paradas no tempo. Candal. Albergaria. Até o cartão de memória da Nikon se recusou a colaborar, como que a dizer que ali, nos vales e nos planaltos, é a natureza que determina o curso dos acontecimentos.
Só no segundo dia houve imagens, e mesmo assim poucas. As outras, ficaram comigo.
Obrigado, Freita.
Belo relato!
ResponderEliminarÉ provável que lá vá dar uma espreitadela na 6ª feira, mas também será só uma Espreitadela com muito pouco tempo porque o destino é Chaves, para fazer finalmente a N2 com o CPM.
A foto da cascata é a frecha da Mizarela?
Obrigado pelas sempre belas fotos e melhores textos.
Cristina,
ResponderEliminarObrigado pelo comentário.
Sim, a imagem da cascata é da Frecha da Mizarela, onde corre o Rio Caima de uma altura de cerca de 70 metros.
Vasco