sábado, 26 de setembro de 2009

Railroad Crossing (II)


 


 
















Explorando ambientes próximos da ferrovia em busca de cenários simbióticos com as minhas scooters. "Pode fotografar à vontade que o próximo comboio só passa daqui a hora e meia", diz-me o prestável funcionário da CP enquanto caminha pela linha e sobe a um poste para uma verificação técnica. Trocamos impressões sobre acessos a cruzamentos de linha que tenho assinalados e despeço-me, de volta à Nikon. Railroad Crossing...

sábado, 19 de setembro de 2009

Metamorfose do Ape



Dos escombros da Itália do pós-guerra nasceu um fenómeno que revolucionaria o transporte individual, a Vespa. Nas palavras do seu criador, o Engenheiro D´Ascanio, a Vespa era a resposta certa aos anseios da Itália da segunda metade dos anos quarenta: um veículo moderno, popular como uma bicicleta, com as prestações de uma moto e a comodidade e elegância de um automóvel.

Quase a par da Vespa, a Piaggio lançou em 1947 o Ape, destinado a satisfazer as necessidades de uma economia em expansão fulgurante. Um pequeno veículo de três rodas, muito versátil, leve mas com assinalável capacidade de carga, manobrável, funcional e robusto. Talhado para o transporte de mercadorias de dimensões contidas e também de pessoas, era ideal para motorizar o empreendorismo próprio da reconstrução.

Durante as seis décadas seguintes, e através de inúmeras versões de três e quatro (!) rodas, com guiador ou com volante (!), o Ape cumpriu, por todo o mundo, e com inegável sucesso, a sua missão de parceiro de empresas e negócios nas mais diversas tarefas, com uma relação qualidade/preço difícil de igualar.

Entretanto, a partir da segunda metade dos anos 90 - a que também não será alheia uma latente cultura revivalista que perdura até hoje - acentua-se uma crescente aproximação da Vespa a um posicionamento menos popular e mais elitista no mercado das scooters. As Vespa são deliberadamente empurradas para o topo. O produto Vespa é apetecido, moderno aos olhos da convenção vigente e de qualidade comprovada. Consequentemente apresenta-se com preço consentâneo com esse estatuto, desnivelado face a propostas cada vez mais numerosas e agressivas, especialmente as provindas dos tigres asiáticos.

O Ape não escapou a esta lógica de reposicionamento comercial. Já no século XXI, em 2006, a Piaggio lançou o Calessino, um triciclo a diesel muito particular, exclusivamente virado para o lazer, na configuração e no acabamento. Destinava-se a coleccionadores e a exclusivos clubes de praia e hotéis, desejosos de proporcionar uma experiência de transporte diferente, em determinados contextos, aos seus clientes.

O passo lógico a seguir seria a motorização eléctrica e o resultado do esforço da Piaggio é o agora apresentado Ape Calessino Electric Lithium.

O contacto com a natureza sem o ruído do motor diesel, ou o acesso às crescentes zonas interditas aos motores de combustão interna parecem ser argumentos de modernidade e de demonstração de capacidade tecnológica difíceis de negar. Com essa mensagem em mente, alarga-se o leque de utilizações do agora burguês Ape, e simultaneamente agita-se a bandeira verde na estratégia de marketing da Piaggio, um dos pilares em que assenta a imagem do Grupo de Pontedera.

Tecnicamente, o Calessino Electric Lithium tem um alcance de 75 quilómetros entre cargas, com uma anunciada vida útil das novas baterias de cerca de 15 anos ou 60.000kms. O novo sistema Aenerbox apresenta ainda a vantagem de a bateria não descarregar quando o Calessino não é utilizado. Ah, e usa os espelhos iguais aos da minha Granturismo...

Estranha e infelizmente será produzido apenas em 100 unidades, com um preço estimado de cerca de Eur.20.000, o que faz dele, desde já, um objecto para coleccionadores. Pena. Mas quem arriscará que esta seja a última metamorfose do Ape ?...

domingo, 13 de setembro de 2009

A Eleita



Não sei se alguma vez a venderei. Sei que muitas vezes, quando a conduzo, ou simplesmente quando olho para ela, ainda sorrio com aquele entusiasmo infantil que me faz feliz.


Sempre que posso vou experimentando outras scooters. Velhas, novas, estafadas, restauradas, icónicas ou desconhecidas. O círculo de experiências vai-se alargando, mas se tiver que apontar a scooter de topo na minha lista, a que reúne o equilíbrio mais completo sem deixar de carregar a tradição, a que é fiel às origens sem deixar de ter personalidade, a que é envolvente sem deixar de ser pragmática no quotidiano, essa scooter é a Granturismo.


As restantes Vespa automáticas large frame, a GT60, a GTV, a GTS, a Super, todas são excelentes scooters. Qualquer delas seria bem recebida na minha garagem. As duas primeiras, embora belas, são um tanto barrocas. Nunca morri de amores pelo barroco. As últimas estão mais próximas do meu gosto pessoal mas, no que toca ao desenho (os motores são outra história) quase tudo o que as distingue da Granturismo lhes pesa. É lastro sobre um desenho polido. Cada pormenor acrescentado não diminui o brilho da solução original. Realça-o. No fundo, no design todas elas mais não são do que sucedâneos da Granturismo. Para mim – sacrilégio! - , a verdadeira herdeira da Rally 200 de 1972.

domingo, 6 de setembro de 2009

Perdido e Achado




Uma das mais divertidas vantagens de viver onde vivo actualmente é a possibilidade de, com alguma frequência e sem grande dispêndio de tempo, poder optar por uma estrada que me é desconhecida. Não raramente essa estrada não sinalizada, ou com placas com o nome de pequenos lugares de que nunca ouvi falar, desemboca noutra, em pior condição de asfalto, que por sua vez dá acesso a uma estrada florestal. Em menos de quinze minutos, e num raio de vinte ou trinta quilómetros, no sentido de qualquer um dos pontos cardeais, estou a rolar em terreno verdadeiramente desconhecido e não sinalizado. Frequentemente em locais em que o horizonte é quase exclusivamente rural numa perspectiva de 360 graus.


Em pequena escala, é certo, mas é uma sensação de alguma adrenalina, pelo menos até encontrar alguma referência que me seja familiar. Não deixam de ser momentos saborosos, de descoberta, de revelação do desconhecido. Por vezes a rasgar lugares de meia dúzia de casas, noutras esventrando um quintal que - venho a saber - é de Dª Ermelinda, atravessado em servidão pela própria estrada pública. Simples curiosidades. Pequenos prazeres. Como parar debaixo de uma enorme figueira para me proteger do calor e colher um figo maduro. Ou mergulhar sem aviso num largo de coreto azul e observar quatro velhotes a jogar à sueca. O estranho aqui é que estou perto de casa. E ao mesmo tempo... perdido.