terça-feira, 25 de agosto de 2009

As Scooters da Kaguya


 




 


Sempre lamentei que os japoneses não comercializassem fora do Japão muitas das suas fervilhantes ideias motorizadas. Desde os pequenos automóveis de 660c.c., verdadeiros pocket-rockets, até a algumas criações de duas rodas arrojadas em vários segmentos, especialmente na classe rainha no Japão, as 400cc, e também, como não podia deixar de ser, no sector das scooters.

Como é tradição nos construtores asiáticos, as justificações para este tipo de restrição geográfica não abundam, pelo que os entusiastas espalhados pelo mundo limitam-se a exercitar a sua imaginação com fotografias e fichas técnicas de máquinas apenas ao alcance dos consumidores nipónicos.

No domínio das scooters “espaciais”, a Honda CN Helix (1985) tem sido unanimemente considerada como a pioneira. Contudo, e apesar de uma quase inacreditável e bem sucedida carreira de 22 anos de produção - se atendermos à especificidade do conceito - o facto é que não teve sucessão. A sua herança mais conhecida é, justamente, a de ter inaugurado um novo separador nos catálogos de duas rodas, as maxi-scooters.

Curiosamente, em 2007, ano em que fechou a linha de montagem da CN Helix, o Japão lançava no espaço a sua famosa sonda de órbita lunar Kaguya.
Porém, dois anos antes da Kaguya, a Yamaha iniciou a comercialização no mercado japonês de um outro objecto espacial, uma scooter a que deu o nome de Maxam, e que vendeu mais tarde no mercado norte-americano sob a designação Morphous. A Maxam/Morphous é uma scooter de 250cc longa, baixa, espaçosa, sofisticada e de traço futurista. Inspirado na Helix, o projecto privilegiava a ergonomia e o conforto dos ocupantes, mas cedeu clara e pontualmente ao design em pormenores como o corte do pequeno ecrã. Muitos clientes substituíram-no por soluções aftermarket que melhoravam a protecção aerodinâmica, mas destruíam o poder das suas linhas. É claramente um caso de design que quebra a convenção.

Infelizmente, a Morphous não esteve disponível no mercado europeu e já saiu do catálogo nos EUA. Chegou a vender-se simultaneamente com a Honda Helix, sendo que esta, incompreensivelmente, até era ligeiramente mais cara do que a Morphous (!). Se tivermos em conta que a Helix esteve praticamente inalterada desde 1985 até 2007 podemos ter uma ideia da inconsciência da Honda. Ou do valor que um ícone pode ter no mercado… Os números de vendas da Morphous nos EUA foram marginais, apesar de não faltarem registos de clientes que juram não se desfazer da sua.

No Salão de Tóquio de 2007 a Suzuki desvendou um protótipo ainda mais arrojado do que a Morphous, a Gemma. Mais recentemente, em meados de 2008, o projecto teve luz verde para produção mas, mais uma vez, apenas no país dos Samurais. O design é desconcertante. Um perfil de jet-ski faz-nos até duvidar da sua inspiração aeroespacial. O prolongamento do braço traseiro e do escape são detalhes quase de street-fighter. Se quisermos ser justos, não será difícil imaginar que estão lá os genes do que será uma scooter-cruiser baixa e longa do século vinte e…dois. Para servir esta peça de quase alta costura a Suzuki escolheu a base mecânica da Burgman 250 e está à venda actualmente no mercado doméstico, tal como a Maxam.

Aparentemente todos estão empenhados na sucessão do mito Helix. Todos…excepto a Honda.

1 comentário:

Bessa disse...

Também tenho acompanhado com interesse o destino destes eventuais sucessoras da Helix/Spazio/CN/Fusion. Infelizmente nenhuma parece em vias de chegar ao mesmo nível de popularidade.

A Yamaha tem uma interessante Majesty 250 que também não se vende por cá, mas é bastante convencional.
A Honda tem a Forza e parece achar que é suficiente...